Numa tranqüila rua residencial de Saint Paul (Minesota), cercada por árvores, enfileiram-se cerca de 30 casas de madeira branca. Em uma delas, Gregorio Nammacher e Liz Doyle, de 33 anos, cuidam de Kate, nascida em fevereiro. Enquanto a menina brinca no chão da sala, o casal pensa na viagem de férias que começaria no dia seguinte.

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– Costumávamos viajar cinco vezes por ano. Desta vez, só vamos para Nova York, por quatro dias, visitar minha irmã. No ano que vem, não faremos nenhuma – projeta Gregorio, funcionário da The Service Employees International Union, instituição que reúne prestadores de serviço de diversos setores.

As mudanças provocadas pela crise financeira na vida da classe média norte-americana são reveladas em pesquisa do jornal Star Tribune, de Minnesota. Pelo levantamento, 40% dos entrevistados acreditam que a sua situação financeira hoje é pior do que a do mesmo período do ano passado.

Desde que a crise começou, abrir mão das férias não foi o primeiro problema enfrentado pela jovem família com renda de US$ 8 mil.

– Há dois anos, compramos nossa casa e ainda temos quase 30 anos para pagá-la. Nesse período, perdeu 20% do valor – contabiliza Gregorio.

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Gregorio e Liz não são exceção. Desde abril do ano passado, os proprietários de imóveis no país vêem os preços despencarem. Os que têm dificuldades para pagar a hipoteca tentam vendê-los, mas não há compradores, numa ciranda que pressiona cada vez mais para baixo o valor das casas.

A crise também trouxe o aumento dos preços. O orçamento doméstico da jovem família aumentou nos últimos meses, não só pela chegada de Kate.

Se antes gastavam US$ 100 por semana para as compras no supermercado, hoje são cerca de US$ 140. Com gasolina, a despesa aumentou 50% nos últimos dois anos por causa da alta do preço dos combustíveis.

– Antes, queríamos ter três filhos, mas não temos como sustentar três. Hoje, pensamos em ficar apenas com a Kate – afirma Liz.

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DESPESA MENSAL

RAIO X DAS CONTAS DE GREGORIO, LIZ E KATE:

Renda familiar: US$ 8 mil

– Prestação da casa: US$ 1,6 mil

– Seguro saúde: US$ 400

– Gastos com Kate: US$ 800

– Alimentação: US$ 600

Churrasco

A crise financeira não deve alterar os gastos do gaúcho com o seu prato mais tradicional por enquanto. Segundo o diretor executivo do Sindicato da Indústria da Carne do Rio Grande do Sul, Zilmar Moussalle, em um primeiro momento, a instabilidade internacional não terá impacto sobre os preços da carne nos próximos meses,. Dois fatores, explica, impedem uma oscilação nos valores. A escassez de gado no campo, que faz os frigoríficos gaúchos trabalharem com 50% de sua capacidade, limita uma redução dos valores pagos aos produtores – atualmente de R$ 5,40 o quilo da carcaça. E não há espaço para alta dos preços para o consumidor final, que tem preferido adquirir carnes de aves e suínos.

Gás natural

A alta do dólar pode pressionar para cima os preços do gás natural na virada do ano, pois os valores pagos pelo insumo importado da Bolívia são fixados na moeda americana. Há possibilidade de reajuste nas tarifas da Sulgás no início de janeiro, cerca três meses após o aumento de 5% que começa a vigorar no próximo dia 16. Segundo Artur Lorentz, ex-presidente da estatal, as chances de reajuste crescem se o dólar permanecer acima de R$ 1,90 até o final do ano, patamar que anularia a queda no preço do petróleo.

Gráfico: entenda a crise financeira