O motivo que trouxe o casal Gertha Louis, 40 anos, e Saint Hilaire Basil, 46 anos, e os três filhos a Joinville não difere dos mais de 85 mil que desembarcaram no Brasil nos últimos anos. Mais do que escapar dos escombros deixados pelo terremoto e a crise econômica e política que assolou o país, os que conseguiram desembarcar por aqui ansiavam por um território amistoso que lembrasse de alguma forma o estilo de vida haitiano. O Brasil reduzido ao trio “favela, Carnaval e violência” que a família conhecia do noticiário se mostrou bem diferente quando Basil chegou ao Amazonas e, depois, a São Paulo.
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Em um primeiro momento, o haitiano não se adaptou, muito por causa da agitação do segundo destino. A metrópole, mesmo cheia de oportunidades, não atendia ao desejo de Basil em proporcionar um novo lar tranquilo à família que ainda o aguardava no Haiti.
A primeira tentativa de adaptação durou sete meses, e Basil voltou para o Haiti. Mas a situação do país caribenho piorou e uma chance de ele estudar na Universidade Federal do Paraná para cursar geografia o motivou a retornar. Os planos universitários só mudaram quando um amigo, também refugiado, comentou sobre as indústrias e o estilo de vida de Joinville. Não precisou de muito tempo para Basil trazer a esposa Gertha e os filhos de oito, seis e três anos.
Hoje, eles vivem em uma casa alugada no bairro Nova Brasília. Os pais trabalham em casas terapêuticas e de inclusão e todos os filhos estão matriculados na rede pública de ensino. À noite, Gertha ainda cursa administração hospitalar na Fundação Pró-Rim.
– Para mim, Joinville é como um paraíso. Aqui, a gente pode viver tranquilo com a família. Se não procura problema, não se encontra com ele.
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A família vive o sonho de reconstrução, mas ainda longe do ideal. Gertha, enfermeira formada, não consegue exercer a profissão porque seu diploma por enquanto não foi revalidado pelo Conselho Regional de Enfermagem de Santa Catarina. Inclusive, para que a enfermeira desse encaminhamento do documento, precisou contar com a solidariedade para fazer a tradução para o português, já que há um alto custo por trás.
A necessidade dela virou proposta de lei, apresentada no ano passado durante o Projeto Câmara Mirim, em Brasília, para que outros refugiados possam ter a gratuidade do serviço. Basil, formado em economia, também sonha um dia aplicar seus conhecimentos no país que o acolheu.
– Queremos um dia comprar uma casa nova, um carro melhor. Ainda temos muito para conquistar.
Além dos desejos pessoais, o casal almeja ajudar outros refugiados com um local em Joinville onde eles possam ser acolhidos e encaminhados para regularização de documentos e encaminhamento ao mercado de trabalho. Por enquanto, o pouco que podem fazer é enviar dinheiro para a família que permanece no Haiti e orar pelos que ainda sofrem por lá.
– As pessoas não sabem, mas atrás de cada haitiano que vive aqui existem vários outros que dependem dele.
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*Texto: Rafaela Mazzaro, especial