Uma família de São José, na Grande Florianópolis, afirma ter sido vítima de agressões físicas e verbais durante abordagem da Polícia Militar (PM) em uma festa de aniversário de 15 anos de uma adolescente na madrugada deste domingo (12). O caso aconteceu no Centro Comunitário do bairro Bela Vista.

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Segundo a mãe da aniversariante, uma mulher de 32 anos que preferiu não ter o nome divulgado, era por volta da 1h quando os policiais chegaram ao local acessando uma entrada nos fundos do terreno, onde era realizada outra festa, e pediram que ela fosse até a parte de fora do centro comunitário, onde começaram a agredi-la verbalmente.

— Eu fui falar com os policiais e um deles me disse: “eu quero que desligue o som agora”. Eu respondi que o nosso som não estava alto, que era o da outra festa, mas ele logo já foi agressivo e respondeu: “eu não quero saber, sua vagabunda. Acaba com tudo agora” — relata a mulher.

Ainda de acordo com o relato da mãe da aniversariante, as agressões verbais dos policiais continuaram – eles chamavam os presentes da festa de “pretos e sujos”. Em seguida, os policiais efetuaram um disparo com bala de borracha para dentro do salão e, depois, invadiram o centro comunitário, onde a violência continuou com agressões físicas e mais disparos de bala de borracha.

Um policial me puxou pelos cabelos, eu estava com a minha filha de seis anos, ele me arrastou no chão, começou a me chutar. E a minha filha gritando. Foi horrível. Nos trataram como bichos. E a gente não podia falar nada, não podia abrir a boca ou perguntar alguma coisa que era agredido — relata ainda a mãe da adolescente.

A mulher afirma também que a filha de 15 anos, que comemorava o aniversário, sofreu convulsões durante a invasão da polícia e chegou a ser agredida por um policial com um chute enquanto estava caída no chão.

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— Ele disse que ela estava fingindo e se negou a pedir socorro. Disse que se a gente quisesse chamar uma ambulância que fosse até o orelhão para ligar.

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Adolescente mostra marcas de bala de borracha (Foto: Arquivo Pessoal / Divulgação)

Uma mulher de 38 anos, prima da aniversariante, que também não quis ter o nome divulgado, contou que cerca de 40 pessoas estavam na festa no momento da abordagem, e que ao menos sete delas foram feridas pelos disparos de bala de borracha, incluindo crianças. A mulher também afirma que os policiais estavam sem identificação.

Foi um cenário de guerra. Os policiais entraram, quebraram parte da decoração, atiraram com bala de borracha, não queriam saber se tinha criança ou não. Chegaram a apontar a arma para uma criança deficiente auditiva. Também recolheram o equipamento de som do DJ. Eles nos trataram como animais, com injúrias raciais, a gente se sentiu humilhado — afirma.
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Mulher mostra marcas nas pernas (Foto: Arquivo Pessoal / Divulgação)

Polícia Militar ainda não se manifestou

A Polícia Militar ainda não se manifestou sobre o caso. A reportagem procurou o comandante-geral da Polícia Miliar de Santa Catarina, o coronel Araújo Gomes, que não atendeu às ligações até esta publicação. Já assessoria da PM orientou contato direto com o 7º Batalhão da PM, de São José, mas ninguém foi encontrado para falar sobre o assunto até a última atualização da reportagem.

Família registrou boletim de ocorrência

A mãe da aniversariante também afirma ter sido tratada com descaso na delegacia de Polícia Civil de São José para onde foi levada presa após a confusão na madrugada de domingo. Ela afirma que não foi atendida pelo delegado e que não pôde relatar as agressões sofridas. A mulher foi liberada em seguida.

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Na tarde de domingo (12), a família procurou a 3ª Delegacia de Polícia da Capital, em Florianópolis, onde registrou boletim de ocorrência relatando as agressões dos policiais. Os familiares também relataram que passariam por exames de corpo e de delito nesta segunda-feira (13).

A reportagem entrou em contato com a assessoria da Polícia Civil para ouvir uma posição sobre o relato de descaso na delegacia de São José e também para saber detalhes sobre a investigação após o registro do boletim da 3ª Delegacia de Polícia da Capital.

No fim da tarde desta segunda, a assessoria de imprensa da Polícia Civil divulgou a seguinte nota:

"Conforme a Delegacia Regional de São José, com base nas informações repassadas pelo delegado plantonista, em nenhum momento houve recusa de atendimento à família citada em reportagem pela Central de Plantão de São José, já que a ocorrência foi atendida pela PM que lavrou o devido Termo Circunstanciado. Sobre o Boletim de Ocorrência registrado pela família na 3ª Delegacia de Polícia da Capital, tão logo a Polícia Civil de São José o receba serão tomadas as devidas providências legais de investigação pela delegacia da área do fato."