– Sabia que eu aprendi a fazer parto de vaca?

A maneira com que a pequena Natália explica como nascem os bezerros é de uma naturalidade ímpar. Aos quatro anos, cabelos escuros cacheados e olhos carregados com a típica curiosidade infantil, ela está montada em um dos cavalos da família, sem sela, enquanto seu pai, Samir Migdady, dá algumas cenouras ao animal.

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– Você tem que colocar a mão dentro da vaca, aí tem que amarrar um barbante na perninha do bezerro e puxar com tudo que ele nasce – conclui a explicação, argumentando que ela descobriu tudo sobre partos de vacas sozinha.

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O diálogo travado entre a equipe de “A Notícia” e a pequena seria inimaginável até pouco tempo atrás. Junto da mulher, Simone, e das filhas Natália e Vitória, Samir se desfez de um negócio promissor para viver na zona rural de Joinville, onde a família abriu um restaurante enquanto equipam o local para transformá-lo em um hotel-fazenda.

Cinco anos atrás, Simone trabalhava em um banco e Samir tocava a empresa de distribuição de uma marca de água mineral quando decidiram tirar alguns dias para descansar em uma pousada na região de Lages.

– Naquela época, a gente começou a pensar em, daqui uns 15 anos, mudar para uma chácara, viver como aquelas pessoas. A gente nunca imaginava que a nossa vida ia se transformar desta forma, que estaríamos hoje aqui, tão rápidamente, fazendo aquilo que imaginávamos – conta Samir.

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Enquanto o sonho estava distante, Simone deixou o banco para ajudar o marido nos negócios, Natália veio ao mundo, Vitória foi se tornando uma bela menina de olhos azuis. Os quatro viviam em uma casa confortável, moderna e bem equipada com eletrônicos de todos os tipos para ocupar as crianças. Até que, em meados de 2012, a companhia dona da marca de água propôs a Samir comprar a distribuidora.

– Sentimos que a proposta era o que precisávamos para irmos atrás deste projeto – relembra Simone.

Ao procurar por áreas na região, chegaram a uma chácara no Piraí, cujo proprietário havia abandonado o local há três anos. Ignoraram o matagal que invadia até os chalés e o salão do restaurante, a necessidade de fazer mil ajustes, os avisos de familiares e amigos, que os chamavam de loucos e temiam pelo seu bem-estar. No início do ano, com a casa na cidade vendida, se mudaram para o seu “Vale do Ouro”.

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– Não queria de jeito nenhum morar aqui. Mas quando vim pela primeira vez, vi as cachoeiras e disse para o meu pai que era aqui que eu queria ficar – afirma Vitória, com 11 anos.

Além de quebrar a resistência inicial da filha mais velha, Samir e Simone já comemoram algumas transformações: as crianças estão adaptadas e adoram a nova vida, todos estão menos preocupados com bens materiais, respeitam o tempo da natureza, entendem que é mais importante viver bem do que acumular coisas ou trabalhar demais. E, quando abrem as portas de casa, ainda contam com uma vista

deslumbrante para a cachoeira do Piraí.

– Estamos realizados. Imagina que a gente acorda todos os dias e tem essa paisagem batendo na porta – diz Simone.

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