O fim de semana extremamente vitorioso do Flamengo, com dois títulos conquistados em menos de 24 horas (Copa Libertadores da América e Campeonato Brasileiro), trouxe muita alegria aos torcedores rubro-negros. Mas as conquistas também reviveram uma ferida recente na história do clube: o incêndio que matou 10 meninos das categorias de base do clube no centro de treinamento Ninho do Urubu na madrugada do dia 8 de fevereiro deste ano. Após o título internacional em Lima, no Peru, sobre os argentinos do River Plate, jogadores como Diego Ribas e Reinier postaram homenagens em redes sociais e dedicaram a taça aos garotos. Mas tamanho êxito desportivo acompanhado por premiações que, juntas, ultrapassam os R$ 100 milhões, fizeram muitos questionarem: será que agora o Flamengo vai indenizar as famílias das vítimas da tragédia?

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Uma delas era o menino Bernardo Pisetta, de Indaial, que tinha 14 anos na data do incêndio. A família do jovem goleiro, que realizava o sonho de jogar no time do coração, ainda tenta chegar a um acordo com o clube, assim como os familiares de outros cinco vítimas. Até agora, oficialmente, quatro famílias aceitaram propostas do Flamengo, inclusive a do catarinense Vitor Isaías.

— Falei com o advogado do clube antes e depois da final da Libertadores, e ele me passou a impressão de que até o final dessa semana traria uma posição definitiva do Flamengo em relação a proposta da família do Bernardo — revelou o advogado Thiago Camargo D’Ivanenko em conversa exclusiva com o Santa.

Segundo D’Ivanenko, as conversas entre o clube e a família do indaialense chegaram a um impasse quando o Flamengo apresentou uma contraproposta “padrão” estabelecida pelo próprio clube:

— Darlei (pai de Bernardo) e sua família já cederam o que tinham que ceder. O Flamengo não ultrapassa o que propôs. Mas estamos chegando a um desfecho do que a família acha justo perante a gravidade dos acontecimentos. O ano do Flamengo foi extremamente exitoso financeira e desportivamente, está faltando um pouco de sensibilidade para coroar um ano tão bom resolvendo este problema. Seria um terceiro título, sentar com as famílias e poder ter orgulho de dizer que atendeu as necessidades delas na medida do possível — avalia o advogado.

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Logo após o incêndio, em fevereiro, um acordo extrajudicial proposto pelo Ministério Público do Trabalho e Defensoria do Rio de Janeiro definiu uma indenização conjunta aos familiares no valor de R$ 2 milhões para cada vítima e uma pensão de R$ 10 mil mensais até a data em que os meninos completariam 45 anos de idade. O clube rechaçou a proposta. O valor total das indenizações, de R$ 20 milhões, é menos de um quarto do que o time arrecadou como premiação pelo título da Copa Libertadores da América.

Decepção com o clube

Sobre as homenagens dos jogadores após as conquistas, D’Ivanenko conta que Darlei (o pai do garoto prefere não se pronunciar publicamente sobre o caso) até se sente confortado pelo respeito à memória do filho e dos outros meninos, mas se decepciona com a postura oficial do clube:

— As homenagens são sempre feitas ou por torcedores, pelos atletas do clube ou do time adversário, ou até da imprensa. Mas o principal conforto que a família sempre quis ter, um simples afago do Flamengo, é um gesto muito mais raro. Essa aparente frieza é revoltante para quem perdeu um filho. É uma relação que o clube parece não querer recuperar — critica D’Ivanenko.

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