Enquanto o inquérito policial da morte do coronel Julio Miguel Molinas Dias foi concluído e o processo na Justiça está na fase final, os documentos achados na casa do militar – comprovando que o ex-deputado Rubens Paiva esteve no DOI-Codi antes do seu desaparecimento, em 1971 – parecem esquecidos pela Comissão Nacional da Verdade (CNV).
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Se a descoberta dos arquivos de Molinas, no fim do ano passado, criou expectativas em relação à elucidação do sumiço de Paiva, hoje poucos falam sobre o assunto. A morosidade na investigação pela CNV frustra familiares de Paiva. Consultado por Zero Hora, um ativista de direitos humanos afirma que o processo está “devagar, quase parando”, por causa de uma suposta disputa interna entre integrantes da comissão.
Após a saída do então presidente Cláudio Fonteles, procurador-geral da República no começo do governo Lula, em junho, a comissão teria sido compartimentada para apurar diferentes casos, e ninguém teria assumido a investigação da morte de Rubens Paiva. O cargo de coordenador passou a ser ocupado pelo advogado criminalista paulista José Carlos Dias, ministro da Justiça no governo Fernando Henrique Cardoso. Ele ocupou a pasta entre 1999 e 2000.
No RS, autoridades nada sabem sobre a evolução das investigações. O presidente da Comissão Estadual da Verdade, Carlos Frederico Guazzelli, lembra que, após o assassinato de Molinas, documentos foram encaminhados para a CNV, em Brasília. Desde então, Guazzelli diz que não teve mais notícias sobre o episódio.
– Os documentos apareceram por acaso ao longo da investigação, e se tornaram acervo histórico, que servem de registro. Esses arquivos sempre podem ser reabertos. Mas até o momento nada foi feito – afirma Guazzelli, lembrando que, em virtude da Lei da Anistia, ninguém pode ser punido por crimes na ditadura.
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Apesar da anistia e da falta de esclarecimentos da morte do deputado, os filhos de Rubens Paiva ainda alimentam o sentimento de justiça.
– Nem sempre a gente sabe sobre o que acontece, porque as investigações costumam ser sigilosas e impunes – afirmou o escritor Marcelo Rubens Paiva.
ENTREVISTA > VERA PAIVA – Filha do deputado Rubens Paiva
Em entrevista por telefone a Zero Hora na noite desta terça-feira, a professora da Universidade de São Paulo (USP) e filha do deputado Rubens Paiva, Vera Paiva falou sobre o andamento do caso.
Zero Hora- Qual a expectativa da família em relação ao caso?
Vera Paiva – A nossa expectativa é de mudar o estatuto do desaparecido. As provas que temos são suficientes para afirmar que meu pai foi assassinado dentro do Exército. Estamos aguardando providências neste sentido. Se nada for feito, as histórias de Rubens Paiva e Amarildo, que são praticamente as mesmas, se repetirão por aí.
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ZH – A senhora tem acompanhado o trabalho da Comissão Nacional da Verdade?
Vera – Sabemos pouco, mas eles também estão subapoiados e subfinanciados. Estão sem apoio, e a culpa não é das pessoas que estão lá, mas da falta de estrutura que o governo dá.
ZH – Quatro décadas depois, sua família espera algum tipo de punição para os militares?
Vera – Queremos ir adiante, saber onde foi parar o corpo, punir os responsáveis pela morte. A gente já esperou 42 anos, podemos esperar quanto for preciso. Não é um problema pessoal e de família, é para o Brasil.