O padrasto e a mãe de Luna Gonçalves, encontrada morta em Timbó na madrugada de quinta-feira (14), foram notificados pelo Conselho Tutelar no mesmo dia em que a menina de 11 anos foi morta. O órgão que defende o direito das crianças avisou aos responsáveis sobre a necessidade de comparecer à escola em que a pequena estudava, já que ela estava faltando muito às aulas.

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A instituição não quis detalhar como foi a abordagem à família e qual a resposta que receberam, mas explicou que a notificação aconteceu depois de um pedido da unidade de ensino do bairro Imigrantes no dia 12, terça-feira. Segundo a escola, Luna estava frequentando pouco a instituição, principalmente desde o começo do mês.

Padrasto e mãe teriam justificado ao delegado que isso aconteceu porque eles queriam trocar a menina de escola. O motivo seria a ideia de ir morar em outro município da região. Como eles não apresentaram o atestado de vaga do novo colégio ao pedir o histórico escolar, necessário em casos de transferências, não receberam o documento da escola de Timbó.

Por conta da ausência da aluna e sem respostas plausíveis do casal, a escola pediu apoio ao Conselho Tutelar. No dia seguinte (13), a notificação aconteceu. Horas depois, Luna foi espancada até a morte.

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Um crime envolto por mistérios

Luna foi encontrada morta em Timbó na madrugada de quinta-feira (14). Ela vivia com a mãe, o padrasto, a irmã de seis anos e o irmão de nove meses, segundo apurou a Polícia Civil. O casal estava se relacionando há cerca de um ano, ainda conforme informações do delegado.

Apesar de morarem durante meses em uma rua residencial do bairro Imigrantes, nem a mãe e muito menos os filhos eram vistos ou ouvidos pelos vizinhos. Em depoimento, a mulher disse que não saía do imóvel por escolha própria, por sofrer síndrome do pânico. Com isso, também não deixava que as filhas fossem para a rua.

De acordo com a Polícia Militar, o padrasto de 41 anos tem passagens por crimes como violência doméstica, dano, lesão corporal e estelionato. Trabalha como professor de Jiu-Jitsu em academias da cidade. Por perder os empregos com a repercussão do caso, chorou diante do delegado.

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— Chorou ao contar que do dia para noite não tinha mais nada e que era apontado na rua como culpado. A mãe, por outro lado, não demonstrou em momento algum emoção. Ficou o tempo todo olhando para baixo — conta André.

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A mãe mudou a primeira versão apresentada ao saber pelo delegado que o companheiro seria preso temporariamente. Durante a confissão da mulher na sexta-feira (15), o homem permaneceu em silêncio. Os dois estão detidos para “garantir a continuidade das investigações”, explicou Beckman.

Inicialmente o casal disse que Luna havia caído da escada na noite de quarta-feira (13) por conta de um gato, machucou-se, jantou, tomou banho e foi dormir. Depois da meia-noite, ao verem que a menina não estava bem, acionaram os bombeiros militares.

Já era tarde.

A médica que atendeu a vítima no Hospital Oase acredita que ela morreu quase quatro horas antes de chegar à unidade de saúde, ainda segundo repassado pelo delegado. Como havia hematomas por todo o corpo e uma laceração na vagina da menina, a equipe do hospital acionou a Polícia Militar, que registrou o boletim de ocorrência.

No mesmo dia, o padrasto e a mãe da pequena foram ouvidos pela Polícia Civil e contaram a história da queda da escada. No entanto, contradições na narrativa foram apuradas pelos investigadores, o que fez com que ambos fossem chamados novamente à delegacia no dia seguinte.

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Ao saber do mandado de prisão temporária contra o parceiro, a mulher mudou a versão e assumiu a autoria. Contou que a síndrome do pânico resultou em um ataque de fúria ao descobrir que a filha era “sexualmente ativa”. Tanta raiva sobre o assunto foi justificada pelo fato da mãe ter sido prostituta no passado e não querer que Luna seguisse o mesmo caminho. Ela não soube dizer quem seria o namorado.

Bateu na criança a socos e chutes, ainda conforme o relatado ao delegado. Depois, deu comida à garota, banho e a colocou para dormir. Mais tarde, ao ver que a filha estava mal, acionou o socorro.

A nova versão, porém, também tem falhas.

O delegado não revela todas, mas cita uma delas: a perícia não encontrou vestígios de comida no intestino da menina, ou seja, ela não jantou naquela noite. Na casa, os vizinhos nunca viram felinos, apenas pássaros e três grandes cachorros, que agora recebem ração no portão para não passarem fome enquanto a residência permanece vazia.

Enquanto os mistérios do feminicídio envolvem a cidade de pouco mais de 45 mil habitantes, quem teve contato com Luna tenta encaixar peças de um quebra-cabeça que só pode ser montado pela Polícia Civil.

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> Conselho Tutelar sabia das faltas na escola de menina morta em Timbó e diz que acionou família

A mãe de uma estudante que dividiu a sala com Luna conta que a vítima era muito quieta, de poucos amigos. Ou melhor, amigas, pois a pequena não podia se aproximar de meninos na escola. Na hora dos trabalhos em grupo ou dupla, pedia à professora para fazer com alguma companheira de classe, jamais do gênero oposto.

O relato contrapõe a justificativa da mãe pelo suposto ataque de fúria que teve ao matar a filha. Ela teria dito ao delegado que a menina estava namorando no colégio e tendo relações sexuais. Na quarta-feira, ao demorar a voltar da padaria, afirmou que Luna apanhou após ter revelado que estava com o garoto.

O atestado de óbito mostra que a garota sofreu politraumatismo. Ela tinha lesões internas no crânio, baço, pulmão, intestino, laceração na vagina e também estava com o rosto machucado.

A perícia feita na casa da família encontrou marcas de sangue nas proximidades do quarto da criança, no sofá, em uma toalha, fronha e em uma calça masculina.

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Ainda não se sabe quem cometeu a violência sexual. O delegado espera que o laudo da Polícia Científica esclareça esse ponto. Neste momento do inquérito, várias possibilidades estão sendo analisadas.

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