Dezessete quilômetros e meio por dia percorridos de bicicleta entre a casa e os dois empregos. Se a chuva aperta, a opção é o ônibus. As sacolas plásticas são barradas em casa, plantada entre duas reservas florestais. Por dentro e por fora, das janelas ao assoalho, o enxaimel remontado pacientemente durante seis anos abriga um estilo de vida que começou a ser cultivado quando Maikon Schoroeder ainda era criança e nem pensava em se tornar enfermeiro, casar com Jucelia e adotar Eduardo.
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Quando criança, ele era do Desbravador, um grupo semelhante ao dos escoteiros, mas que segue os ensinamentos da denominação adventista. Por fazer parte dessa equipe, sempre esteve em contato com a natureza. Na quarta série, foi a primeira vez que ouviu falar em ecologia. Teve uma adolescência oposta às vividas em festas e shoppings.
– Meu final de semana era diferente. Ia acampar no monte Crista. Aos sábados, o pai levava a gente para o rio Piraí – conta o enfermeiro, que aprendeu a gostar de programas ao ar livre desde cedo.
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Em vez de esquecer os ensinamentos da infância e da adolescência, Maikon foi agregando mais atitudes ao currículo ecológico. Os quilômetros que percorre para trabalhar não são nada perto das 180 pedaladas em um dia de treinamento para competições. Além de profissional da bike, ele corre. Mas não nas calçadas ou nas pistas. Lugar de correr é no mato, na Corrida de Aventura. Na água, o remo é a opção de esporte ligado à natureza. Na terra, a bike é a preferida inclusive para trilhas. Mas a preferência por esse meio de transporte e de aventura causa estranheza.
– Você vem de bicicleta por quê? Não tem dinheiro para andar de carro? – reproduz alguns dos questionamentos que escuta de colegas de trabalho.
– A gente tenta ter um carro só. Se precisar, eu o busco no trabalho. Quanto mais carro, mais combustível – justifica Jucélia.
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Quem fica com o carro é a esposa, diretora de um centro de educação infantil. Ela sempre precisa transportar materiais escolares, então um veículo com porta-malas é o mais adequado. O carro também sai da garagem quando é preciso fazer as compras do mês, atividade comum a todos, mas que a família Schoroeder faz diferente.
– Não adianta pensar em reciclagem antes de praticar um consumo consciente – argumenta Jucelia.
Embalagens vão para a reciclagem
A família Schoroeder compra produtos com embalagens recicláveis. Leva para casa somente as sacolas plásticas necessárias para o uso no banheiro, o que equivale a três por semana. Outra sacola de 20 litros é reservada para os recicláveis, higienizados antes de seguirem para a coleta seletiva.
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Maikon Schoroeder madruga para deixar a sacola antes das 7 horas da sexta-feira no local da coleta. Se colocar no dia anterior, acaba sendo levada junto com o lixo comum.
Quando ele volta para casa, passa pelo jardim de plantas da estação, porque é preciso ser consciente até na escolha do verde. Não cultivando plantas fora de época, ele evita que elas morram.
Na área que um dia foi descampada, o enfermeiro e o pai marceneiro plantaram bananeiras. Parte dos cachos é colocada no quintal para os tucanos, jacus e aracuãs. Se deixar sempre a fruta no pé, os pássaros dão bicadas e vão embora. Alimentando os bichos, eles evitam o desperdício.
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– Só duas ou três vezes por semana a gente alimenta, se não eles perdem o instinto – explica Maikon.
Sem arrancar páginas do caderno para evitar desperdício
Nada de arrancar páginas, Dudu. Esse é o ensinamento de pai para filho. Os amigos que não levavam caderno para a escola tinham de se virar de outro jeito. Maikon numerava todas as folhas, assim ele detectava o desperdício. Mas as lições vão além das páginas. Hoje, o adolescente de 16 anos tem a responsabilidade de cuidar do cão Stitch, adotado quando tinha dois anos. O dachshund tem uma casinha na varanda, perto do quarto de Eduardo, no qual há videogame e TV, em contraste aos móveis rústicos.
Cada madeira da casa, que já tem 140 anos, é numerada conforme a montagem. Maikon viu a casa às margens da BR-101 quando ela já tinha se tornado abrigo para usuários de drogas. Sem assoalho e com outros problemas de conservação, a dona resolveu vender por R$ 450,00. O preço simbólico nem se compara ao trabalho de pesquisa e remontagem que levou seis anos da vida do enfermeiro e da habilidade de marcenaria do pai.
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Os tijolos, as telhas e parte do assoalho do sótão, onde fica o quarto do casal, foram arrematados de demolições. Por enquanto, a casa não tem cisterna ou painéis de energia solar, mas os recursos estão planejados para o futuro salão de festas. Mas quando os Schoroeder abrem a porta de casa, o piano resgatado do lixo e restaurado mostra o cuidado com a natureza.
No quarto, um baú alemão guarda memórias ainda mais antigas que a casa reconstruída para abrigar um estilo de vida raro. Um jeito de viver de quem mantém o rádio antigo do avô decorando a sala, para relembrar que ser ecologicamente correto é resistir ao tempo.