Na sala de estar, sentada, Iraci Sodré da Silva, 84 anos, mostra para a família as fotos que tirou no último encontro com as amigas. Nada de papel ou imagens sem foco. Habilmente, ela mexe com os dedos e dá um zoom para mostrar detalhes da roupa.
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Tudo está registrado em seu iPhone, presente que ganhou do filho há cerca de três anos. Ela usa o equipamento frequentemente para enviar e receber fotos e e-mails das amigas e netos. No chão da mesma sala está sentada Clara, bisneta de Iraci que tem três anos de idade. O olhar concentrado no tablet se deve ao vídeo do desenho Patati Patatá que ela mesma buscou no equipamento.
A sinergia com o aparelho é tanta que a própria Clara aumenta o volume para assistir o que lhe convém. As duas são a prova viva de que a tecnologia pode sim ser usada por diferentes idades e gerações.
Nada de limites. Bisavós, filhas, netas e binetas compartilham desejos parecidos e uma certa independência por meio de tablets, notebooks e smartphones.
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Dona Iraci mora em Itajaí e comenta que suas amigas “têm dificuldade” em mexer no celular, mas ela, após ter uma breve aula com o filho, “faz tudo” no smartphone. E acrescenta: não pode passar um dia sem ele. Se tem alguma dúvida, ela recorrer a quem entende do assunto, ou seja, um dos 16 netos e bisnetos.
Angela Maria Schmitt da Silva, 58, nora de Iraci, também busca o apoio dos familiares. Mas ele está cada vez mais raro porque Angela aposentou o notebook e passou a usar apenas smartphone e tablet a partir da criação de um grupo no aplicativo de mensagens WhatsApp.
Filha de Angela e mãe de Clara, Paula Xavier, 37, usa a tecnologia para acessar Facebook e Instagram. Também mantém contato com clientes, funcionários e fornecedores da empresa na qual trabalha. Os cuidados em relação à tecnologia são redobrados com Clara.
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– Temos a preocupação em relação ao conteúdo e não incentivamos o uso. Mas estimulando para o lado certo, acredito que a tecnologia ajuda inclusive na coordenação motora e até para falar inglês, com aplicativos específicos para isso – avalia.
Clara ainda não sabe ler, mas consegue digitar a senha para desbloquear o tablet. Também aprendeu intuitivamente a procurar jogos para baixar. Os preferidos remetem à infância da mãe, como quebra-cabeças, jogo da velha e jogo da memória. Até mesmo o contato com livros infantis está a um clique. O mesmo clique que torna o contato da família constante e diminui a diferença de oito décadas entre bisavó e bisneta.
A melhor idade para aprender
Para manter contato com netos e filhos que moram no exterior, muitos idosos buscam atualização por meio dos cursos de informática. A mestre em Psicologia Social e da Personalidade da Universidade do Vale do Itajaí (Univali), Kátia Ploner, conta que a instituição oferece cursos específicos para pessoas da terceira idade desde 2005.
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Segundo ela, alguns idosos tinham vergonha de frequentar os cursos com jovens acostumados à linguagem digital.
– Ensinamos o básico mesmo, inclusive ligar o computador e a não ter medo de estragá-lo – comenta.
Para Kátia, a maioria das pessoas mais velhas procura o curso porque quer se comunicar por e-mail e Skype com os filhos e netos que moram longe. Além disso, querem aprender a lidar com a tecnologia para se sentirem inseridos nas conversas e no contexto atual.
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Para a autora do livro Tecnologia na Educação: Reflexões sobre docência, aprendizagem e interação entre jovens e adultos, Betina von Staa, as novas tecnologias são essenciais para os jovens, adultos e idosos porque são a única maneira em que podem continuar aprendendo independentemente da formação ou escolaridade.
O Comitê para Democratização da Informática (CDI) em SC trabalha com projetos de inclusão digital. Através dos cursos de informática, alunos dos nove aos 90 anos de idade aprendem a lidar com a ferramenta. Cleusa Kreusch, que integra a equipe pedagógica do CDI, conta que nas turmas mistas, formadas por crianças e idosos, o aprendizado é mútuo. Ela cita casos em que pessoas idosas apresentavam ansiedade e síndrome do pânico e tiveram os sintomas