A família de um homem que foi morto asfixiado durante uma abordagem policial em uma praça pública em Orleans, no Sul catarinense, contesta os resultados da investigação sobre o caso. No inquérito, que já foi encerrado pela Polícia Civil, a tese foi que os policiais agiram em legítima defesa. As informações são do G1 SC.
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O caso ocorreu no fim da tarde de 26 de outubro, na Praça Celso Ramos, que fica no Centro de Orleans. O ex-professor de educação física, aposentado por invalidez, Alisson Luís Alves, de 41 anos, levou um mata-leão na abordagem.
Ele entrou em luta corporal com três agentes da Polícia Civil. Em menos de dois minutos, estava morto. O Corpo de Bombeiros e o Samu chegaram a ser acionados, mas não conseguiram reanimar o homem. O laudo do Instituto Geral de Perícias (IGP) de Criciúma aponta que a causa da morte da vítima foi asfixia mecânica.
— Eu vejo ele, eu vejo eles abordando, passando o braço pelo pescoço dele, eu enxergo isso toda noite quando eu ponho a minha cabeça no travesseiro. Isso dói, sabe? — afirmou a irmã da vítima, Aline Cristiane Alves, ao G1.
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Homem gostava de passear no local
A praça onde ocorreu a abordagem fica atrás da Igreja Matriz da cidade. Alisson, que morava em Lauro Müller, cidade vizinha a Orleans, gostava de passar o dia no local e frequentar a missa.
De acordo com a Polícia Civil, no dia do confronto, um homem foi preso no local por cometer crimes de cunho sexual. Moradores teriam dito a uma policial civil que Alisson também importunava as crianças, versão que é contestada pela família.
Eles contam que o homem sofria de um distúrbio mental e foi morto antes de ter um processo de investigação aberto. Ele também não tinha passagens policiais.
— Ele vivia um pouco no mundo dele, mas ele nunca foi um perigo pra sociedade, nunca! — afirmou a mãe, Zanete Alves.
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O que diz a polícia
O delegado responsável pelo caso, Túlio Falcão, disse que ouviu quatro pessoas durante a investigação, entre elas, mulheres e um policial militar.
— A mãe de uma dessas crianças disse que um dia antes dessa abordagem da polícia, ele assoviou e chamou a filha dela de sete anos pra um canto do parque, só que a sobrinha dela impediu — diz.
Mas o advogado da família, Alan Crocetta, diz que não houve flagrante para a abordagem.
— Segundo as próprias [mulheres] relataram, a própria criança teria dito que Alisson teria assoviado e feito um gesto de chamar a criança, só que isso não é crime, não existe tipificação penal pra isso. Então houve uma investigação errada por parte da polícia, até porque não tinha nenhum boletim de ocorrência instaurado — alega.
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O inquérito sobre o caso foi concluído pela Polícia Civil no dia 25 de novembro. Ao final, o delegado sugeriu o arquivamento.
— Alisson sentou em um canteiro, conversou com os policiais e, em determinado momento, ele levantou de sobressalto, conseguiu passar a perna em um policial que estava à sua direita e derrubou ele no chão, lesionando bastante. Derrubou e ficou em posição de superioridade em relação ao policial. Nisso, os outros dois policiais, tanto o delegado, quanto a agente policial Fernanda, teve que desvencilhar Alisson de cima do policial Leonardo. Aí entra a técnica de imobilização e algemação que é treinada constantemente na academia de polícia — afirmou Falcão.
O advogado dos dois policiais envolvidos no caso, Sérgio Graziano, também se manifestou sobre o ocorrido.
— Não houve indiciamento. Isso é o mais importante. O delegado, ao terminar o inquérito, percebeu que não houve ilegalidade, não houve qualquer tipo de equívoco, qualquer tipo de excesso dos policiais. Muito ao contrário, eles agiram dentro do cumprimento das normas estabelecidas, dentro da legalidade. É uma tragédia, claro, aconteceu a morte de um cidadão, não é esse o desejo das pessoas, mas o que nós esperamos é que o Ministério Público entenda também dessa forma e não ofereça denúncia contra os policiais — diz.
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Depois de finalizado, o inquérito foi encaminhado ao Ministério Público de Santa Catarina (MPSC). O órgão disse que recebeu o caso e que analisava o documento até a noite de quinta-feira (2).
Nesta etapa, o MP pode tomar três decisões: solicitar mais investigações, denunciar os policiais à Justiça ou aceitar o arquivamento. Para a família, Alisson foi vítima.
— A gente enxerga isso como um juízo de valores, uma intolerância social, eu acho que ele foi vítima disso — alega a irmã.
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