No canto esquerdo do salão da Igreja Evangélica Livre, uma construção de tijolo ainda aparente e piso de cimento com vagas de estacionamento demarcadas, Sonia Mara Teie de Souza, 34 anos, embala no colo a filha mais nova Sara, de apenas nove meses. Taila, a Jojô, de 3 anos, anda em volta da mãe com o ursinho entre as mãos e Maitê, de 11, é a companhia mais fiel no abrigo ainda vazio. Sonia mora na Rua São Rafael, que começa a ser afetada quando o rio chega a 7,40 metros. A família dela foi a primeira a chegar ao imóvel, na Rua Cidade do Salvador, no bairro Itoupava Norte, em Blumenau, abrigo que já acolheu mais de 20 famílias nas últimas cheias e que foi o primeiro aberto neste alerta de enchente, às 13h desta segunda-feira. Às 20h, três famílias já estavam instaladas no prédio.

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Com os móveis empilhados em volta de um beliche em que estão outros dois filhos, Sonia conta que a mudança foi colocada às pressas por volta das 15h em um caminhão – providenciado por um pastor da igreja que frequenta. Ela, o marido, Elisauro de Souza, 32, e os seis filhos, com idades de 9 meses a 16 anos, estão há apenas um mês em Blumenau. Em Ibirama, ele trabalhou muitos anos com plantação de fumo e ela, como vigilante. Quando a crise de Brasília aportou até no interior do Alto Vale, seguiram o curso sinuoso do mesmo Itajaí-Açu que agora é ameaça para tentar dias melhores em Blumenau.

– A gente veio morar ali para tentar arrumar emprego e conseguir um lugar melhor. Mas nem deu tempo. Agora só resta torcer – conta a moradora.

Elisauro trabalhou por uma semana em uma metalúrgica e conseguiu o que Sonia define como ¿uns bicos¿, mas nada que trouxesse a segurança que a família busca. Ainda nem tinham se instalado direito na nova casa até que, semana passada, a água já resolveu dar as caras na nova moradia. Às pressas, tiraram o que foi possível e foram para um abrigo provisório. Ontem, após o novo susto e alerta de vizinhos já experimentados sobre a metragem necessária para alagar cada ponto da rua, foram para o espaço aberto pela prefeitura. Na mudança, os móveis, o abraço dos filhos e a fé.

– A gente ainda está atrás de emprego, tivemos a ajuda de alguns irmãos da igreja, mas nem nos adaptamos direito. Agora está esse transtorno todo aí. Está complicado – relata Elisauro.

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Preocupação e retirada de móveis em áreas mais ameaçadas

A tarde foi de preocupação nas ruas atingidas pelas menores cotas. Na Alwin Schrader, no bairro Ribeirão Fresco, por exemplo, Emílio Medeiros da Rosa, 60 anos, antecipou-se à chegada da água e retirou móveis como geladeira, sofá, e fogão do primeiro piso da casa enxaimel, onde o filho mora com a família, para colocá-los em um porão onde as chances de a água atingir são mais remotas. Ele conta que a casa em que mora é o ponto mais alto da rua e alerta que no restante da rua a apreensão era ainda maior.

– A gente aproveitou que não estava chovendo e que a água já estava ultrapassando o muro dos fundos do terreno para tirar os móveis, porque depois a gente não sabe como vai ficar. Vamos torcer e orar a Deus – orienta Emílio.