Jean Paul Satre, filósofo francês, tinha razão quando comparava a família à varíola: tanto a doença quanto a genealogia são recebidas quando criança e ficam marcadas para o resto da vida. O pensamento foi lembrado por Leda Ferraz Ziliotto, que promoveu um encontro de família especial no sábado. No feriado que reuniu milhares de famílias em todo o país, o DC acompanhou um destes encontros. No bairro Jurerê, em Florianópolis, a família Ferraz promoveu um encontro entre mais de cem pessoas.
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A cada dois anos os Ferraz escolhem um feriado para curtirem juntos. Leda destaca que os familiares são unidos não só pelo sangue, mas pela vontade de manter o convívio. São 11 irmãos, filhos de Aurora Haro Ferraz e Ruy Ferraz, casal já falecido. Para os oito que estavam no encontro – três já morreram – reunir a família é a real importância dos feriados.
– Nossa família é igual às outras. Só não nos separamos por qualquer besteira – disse o irmão mais velho dos 11 irmãos, Osni Ferraz, 75 anos.
Este ano, a caçula Leda decidiu realizar o grande encontro durante a Páscoa. Em apenas um dia, aprende-se o sentido da palavra celebração.
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Os cartões de formatura, casamento e Natal foram expostos para que os importantes momentos pudessem ser relembrados. As moças mais jovens vestiram os antigos vestidos de noiva da família e realizaram um desfile. As crianças cantaram para mostrar o talento. No encontro foi servido um banquete com as receitas que a avó Aurora ensinou. De lembrancinha, todos receberam um livro com as melhores receitas da família.
A matriarca que é a alma da união entre os familiares
Em 1937, Aurora e Ruy se casaram depois de se conhecerem em um baile. Viviam em um distrito de Joaçaba, Meio-Oeste de Santa Catarina. Em 1967, quando a caçula Leda tinha nove anos, Ruy morreu de diabetes, aos 55 anos.
Os filhos ainda precisavam de sustento para crescer, por isso Aurora contou com a ajuda dos mais velhos para manter a prole. A dona de casa se tornou a alma da união dos Ferraz.
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A matriarca era doce, um consenso entre os Ferraz. Também era benzedeira, católica e na cozinha tinha uma especialidade que até hoje dá água na boca quando é lembrada: grostolis – também conhecidos como cavaquinho ou cueca virada.
Em 2007, quando Aurora faleceu, os mais de cem membros da família lotaram o velório. Leda lembra que sua mãe era a referência de todos e a base da família, por isso sua partida foi marcada por profunda tristeza.
– Ela era a conselheira dos filhos e dos netos. Deixou muita saudade.
Curiosidades da família
* Hoje a família originada pelo casal Aurora Haro Ferraz e Ruy Ferraz tem aproximadamente cem descendentes. Continua depois da publicidade * Este é o 9º encontro da família Ferraz. *Os familiares estão espalhados por cinco Estados do Brasil: Santa Catarina, Rio Grande do Sul, Paraná, São Paulo e Rondônia. * A mais nova da família é Letícia, quatro meses. * Três dos 11 irmãos já faleceram; dois em acidentes de carro. * Um dos três irmãos que se foram, Fabriciano, era músico e tocava acordeão. O instrumento estava exposto no encontro. * O vestido de noiva mais antigo da família tem 51 anos. O casal permanece junto e estava no evento. * A família Ferraz é descendente de espanhóis e portugueses.
“Nós somos a nossa história” Em conversa com o Diário Catarinense durante a grande reunião de família, Leda explicou como funciona a organização da festividade e a motivação para promover estes encontros. Continua depois da publicidade Diário Catarinense – O que difere a sua família das outras? Leda Ferraz – Na verdade, temos muitos fatos que nos uniram. Por exemplo, a morte do meu pai. Depois a morte do meu irmão. Nem sempre as coisas ruins separam as pessoas. Meu irmão Ariovaldo sonhava nos levar para estudar na cidade, mas não tínhamos recursos financeiros. Ele sofreu um acidente de carro, morreu e recebemos o seguro. Com isso, realizamos o sonho dele: fomos todos estudar. Nada é por acaso. DC – Como vocês conseguem permanecer tão unidos? Leda – Os meus sobrinhos interagem entre si pelas redes sociais sempre ávidos pelo novo encontro. Por isso fazemos sempre em um feriado, porque a família está toda espalhada pelo país e precisa de um tempo para chegar. Somos unidos na memória, mas nos reunimos pessoalmente a cada dois anos para celebrar. DC – E como é feita a organização para este encontro? Leda – A tarefa é dividida entre os irmãos e os filhos dos irmãos já falecidos, praticamente recrutamos o povo todo. É herança da forma doce que era a nossa mãe. Continua depois da publicidade DC – Qual é o real significado de uma família para a senhora? Leda – Nós somos a nossa história. E todos os momentos em que conseguimos contar com aqueles que fazem parte dela.