Ao soltar fogos de artifício na noite de Ano-Novo, os homens da família Casanova brincavam entre si que estavam avisando os bandidos perdidos no morro onde eles poderiam encontrar guarida. A brincadeira tornou-se uma aterrorizante realidade na madrugada desta quarta-feira.
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A mais de 30 quilômetros do centro de Cotiporã, em um refúgio de mato cercado de parreirais à beira do Rio das Antas, sete pessoas foram novamente feitas refém pelos bandidos foragidos no assalto à fábrica de joias ocorrido na madrugada do último domingo. As duas casas ficam nas proximidades de Bento Gonçalves, na linha Ferri. Logo que os bandidos invadiram a chutes a casa do agricultor Vanderlei Casanova, 38 anos, a primeira pessoa a ser acordada foi a mulher dele, Ivonete, 31 anos.
– Quando acordei e vi minha esposa com uma arma na cabeça, agarrei ela com força e comecei a gritar, desesperado – relembra, muito nervoso.
Logo após, a filha Ionara, 13 anos, a tia que teve paralisia na infância e vive em cadeira de rodas aos 70 anos (Natalina) e a mãe Luísa, 71 anos, também foram acordadas.
A tentativa de proteção cessou quando o dono da casa percebeu a presença de mais três homens armados, vestindo roupas compridas e toucas-ninja. Molhados dos pés à cintura, cansados, mal cheirosos e famintos, os homens amarraram a família em correntes de plástico e desceram ao porão para comer. Queijo, carne assada e uma torta doce foram a refeição dos assaltantes. Eles também beberam cerveja e pegaram refrigerantes para a fuga.
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A cerca de 20 metros dali, a casa de Ari, 42 anos,irmão de Vanderlei, também foi invadida. Ele e a mulher, Márcia, 37 anos, se juntaram ao grupo. O tempo todo, os invasores deixaram claro que só queriam pegar os carros – um Escort e um Chevette – da família para fugir. Seus comparsas estariam esperando na estrada. Para garantir que a família não fizesse nenhuma denúncia e garantir o senso de orientação, levaram Ari de refém, ameaçando que se avisassem a polícia teriam o parente morto.
– A gente imaginava que eles já estivessem bem longe daqui- comentou Ari.
A invasão deixou a família em alarde. Quando falam sobre o ocorrido, não acreditam que tenha sido com eles, e dizem que, quando esse tipo de coisa passa na televisão, jamais poderiam se imaginar na mesma situação.
Na cabeceira do quarto do casal, uma nota de R$ 50 foi deixada pelos ladrões, como pagamento pela refeição que fizeram e pela gasolina dos carros. A nota, molhada, saiu de um enorme bolo de dinheiro que os assaltantes carregavam. O que fazer com ela, agora, Ivonete decidirá. Talvez coloque fogo para esquecer a ingrata lembrança.
Com o quintal repleto de cães, patos e galinhas, o local onde mora a família Casanova é idílico. Toda essa beleza, porém, não fazia sentido para um agricultor vizinho:
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– A gente mora numa região privilegiada e rica por causa da natureza e das joias de Cotiporã. Mas, porco zio, isso acaba atraindo bandidos e sempre sobra para nós, agricultores, que moramos desprotegidos no meio do nada – esbravejou.
Saiba mais:
Acompanhe os bastidores da ação que durou 31 horas na serra gaúcha
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GALERIA DE FOTOS:
> A libertação dos reféns na Serra
> A ação dos bandidos em Cotiporã
Em VÍDEO, repórter Humberto Trezzi relata o terror em Cotiporã:
VÍDEO mostra parte da ação de bandidos em fábrica de joias de Cotiporã