Do outro lado da linha, no Rio de Janeiro, o cineasta Nelson Pereira dos Santos consulta o repórter sobre o clima na Capital catarinense. Quer prevenir-se do frio. O que não lhe faltará é calor e festa na abertura do Florianópolis Audiovisual Mercosul (FAM), sexta, no Centro de Cultura e Eventos da Universidade Federal de Santa Catarina. O veterano diretor de 83 anos – “ainda!”, frisa ele -, além de homenageado da 16ª edição do FAM, estreará nacionalmente o seu novo filme, o documentário A Luz do Tom, codirigido por Marco Altberg.
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Veja a programação completa do FAM.
Produção inédita, A Luz do Tom será exibida na Mostra de Longas Mercosul e logo após a cerimônia de abertura do festival, programada para as 19h e com entrada franca. O documentário é baseado no livro Antônio Carlos Jobim: Um Homem Iluminado, escrito por Helena Jobim, irmã do maestro e autor brasileiro. Ela é uma das protagonistas do filme, que narra pontos marcantes da trajetória do músico a partir do relato de familiares e ex-mulheres. O cenário para o depoimento da irmã de Tom são as praias de Florianópolis, razão pela qual o diretor optou por lançar o filme na cidade.
– Helena trata da infância e da juventude dele, que não foi aí (em Florianópolis), mas o cenário é o que melhor remete à Ipanema dos anos 1940 – explica.
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O filme saiu na sequência de outra produção também dedicada ao músico brasileiro, A Música Segundo Tom Jobim, dirigido em parceria com Dora Jobim, neta do maestro e que foi exibido na seleção oficial do Festival de Cannes, mês passado, na França. Detalhe é que A Luz do Tom ficou pronto antes, mas sai por outra produtora. Atropelo que, casualmente, foi providencial, segundo Santos:
– Um explica a música e o outro o músico.
Os dois filmes cumprem um desejo há muito alimentado pelo diretor de levar a vida e obra de Tom Jobim para os cinemas. Surgiu precisamente em 1985, quando Nelson Pereira dos Santos dirigiu um programa especial com o maestro sobre a MPB contemporânea para a extinta Rede Manchete. A ideia de um filme foi levantada na ocasião pela cantora Miúcha. Mas a labuta do diretor encerra-se por aí.
Detentor de uma das trajetórias mais longevas do cinema nacional, com seis décadas de atuação, Nelson Pereira dos Santos que correr o país com A Luz do Tom. Depois do FAM, entrará em circuito de exibição pelo Brasil em julho.
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Intelectual, imortal da Academia Brasileira de Letras e um realizador profuso, Nelson é um patrimônio do cinema mundial, e ao pavimentar as bases do Cinema Novo fez o Brasil enxergar-se na grande tela. Sua seminal filmografia apresenta obras premiadas e de conteúdo social, crítico e cultural como Rio 40 Graus, Mandacaru Vermelho, Fome de Amor, Como Era Gostoso o Meu Francês e adaptações das obras literárias Vidas Secas e Memórias do Cárcere, de Graciliano Ramos, Tenda dos Milagres, de Jorge Amado, e Casa Grande e Senzala, de Gilberto Freyre.
Parte da sua filmografia foi exibida durante a semana na Mostra Homenagem Nelson Pereira dos Santos, promovida pelo FAM em parceria com a Academia Catarinense de Letras. Mesmo sob a acirrada influência do novo contexto digital e comercial, o cineasta considera que a atual produção brasileira reflete as ideias lançadas há seis décadas, de promover um cinema mais humano e cultural:
– Estamos indo bem, o Brasil registrou mais de 100 produções só no ano passado. Mas o importante é a pluralidade e é bom saber que há pessoas hoje comprometidas em promover a nossa identidade cultural.
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