Faltam médicos, faltam servidores, leitos estão fechados. Quem está precisando ou já precisou de cirurgia ou atendimento em um dos hospitais da Grande Florianópolis sabe da grave situação que a saúde pública de Santa Catarina enfrenta.

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Em reportagem do Jornal do Almoço, em meio às lágrimas, do lado de fora do Hospital Regional de São José, a dona de casa Rosimeri de Oliveira fez um desabafo:

— Estão matando meu marido. Estão matando porque ninguém faz nada. Isso aqui é um hospital ou é o que? Ele entrou aqui com 80 quilos e já está com 50 — disse.

O desespero de Rosimeri é consequência da situação crítica da saúde do Estado. O marido dela já fez duas cirurgias no intestino e espera por mais uma. Enquanto isso, curativos especiais na região da barriga precisam ser trocados a cada dois dias por médicos dentro do centro cirúrgico. Mas a troca não está sendo feita dentro do prazo.

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— Tá demorando quatro, cinco dias para trocar o curativo, mas nunca tem vaga na sala de cirurgia, daí vão passando de um dia para o outro e ele vai piorando cada vez mais.

A situação de Ivonete Marchi é a mesma, porém no Hospital Celso Ramos. O filho dela está internado há quase 20 dias pois quebrou a perna em um acidente:

— Vem um médico e coloca ele em jejum, vem outro e diz pra tirar. Quarta-feira era pra ele ter feito cirurgia, não fez — conta.

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Na manhã desta quinta-feira, finalmente o filho de Ivonete passou por cirurgia.

Falta de servidores

A Secretaria de Saúde e o Sindicato dos Profissionais de Saúde (SindSaúde) admitem que falta gente para trabalhar. Segundo o sindicato, atualmente são 7 mil servidores ativos no Estado. Em 2006, eram 15 mil.

Porém, segundo o secretário de Estado de Saúde de Santa Catarina, Murilo Capella, o número é outro:

— No meu conhecimento, nós temos 10 mil servidores em atividade, contando aqueles admitidos em caráter temporário. Nós tivemos um concurso feito em 2012, cuja validade venceu em maio de 2016. Solicitamos antes desse vencimento a contratação de 272 servidores, não fomos atendidos por causa do tamanho do orçamento do Estado.

Com menos profissionais, menos leitos podem ser usados. Somente em 2016, o Sindicato dos Médicos levantou que 56 leitos foram fechados nos hospitais administrados na Grande Florianópolis. Já a secretaria diz que o número é menor, 22 leitos.

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Leitos fechados

A conta não fecha. No Hospital Regional, por exemplo, uma ala inteira está fechada desde dezembro. São 35 leitos onde ficam internadas mulheres com problemas na gestação ou que fizeram cirurgia ginecológica e também pacientes que passaram por cirurgia nos olhos.

A reportagem não teve autorização para entrar no hospital, mas fotos enviadas por servidores confirmam os leitos vazios.

— Os pacientes são deslocados para outras unidades, acaba sobrecarregando a emergência. Tivemos um relato de uma paciente que havia acabado de ganhar neném internada junto com uma menina de nove anos que tinha passado por cirurgia de oftalmologia — denuncia a presidente do SindSaúde, Edileuza Fortuna.

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Na visão do presidente do Sindicato do Médicos, Vânio Lisboa, a rede pública poderia aproveitar mais a parceria com os hospitais privados:

— Eu acho que pode regular mais, encaminhar mais pacientes para estes hospitais da rede privada que atendem pelo SUS. Nós não podemos nos conformar com a espera por uma cirurgia que poderia ser realizada no outro dia não acontecer por falta de material, por falta de funcionário, por falta de ação do Estado — disse.

O secretário Murilo Capella admite que a espera é ruim para o paciente, e diz que a equação precisa ser resolvida.

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— É claro que quanto mais espera, pior fica para o paciente. Mas o problema número 1 é o de pessoal, e quando chega em recursos humanos, nós esbarramos em dois fatores: legislação e orçamento, e é isto que nós precisamos procurar equacionar no sistema — finalizou.

Na próxima terça-feira, um novo secretário assume a pasta da saúde, o médico e deputado estadual Vicente Caropreso.