Melhorar o atendimento durante a gestação não é o único aspecto que precisa de atenção quando o objetivo é reduzir a mortalidade entre recém-nascidos. A obstetra e conselheira do CRM-SC, Andrea Antunes Caldeira de Andrada Ferreira, ressalta a falta de leitos de Unidade de Terapia Intensiva (UTI) Neonatal.
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Ela aponta um levantamento feito pelo Departamento Científico de Neonatologia da Sociedade Brasileira de Pediatria. Ele indica a necessidade de quatro leitos para cada mil nascidos vivos.
— No Brasil temos a metade disso, e estes são distribuídos de forma totalmente desproporcional, ficando a maioria concentrada nas capitais. Em Sc não é diferente, o número é insuficiente e mal distribuído, contribuindo significativamente para desfechos negativos – lamenta Andrea.
O Ministério da Saúde aponta que tem se esforçado para mudar a realidade brasileira. Segundo a assessoria de imprensa do órgão federal, de 2010 a 2018 houve aumento no número dos leitos de UTIs neonatais. Porém, não soube informar a quantidade, apenas indicou que atualmente são 4.685 no país. No ano passado, a Sociedade Brasileira de Pediatria indicou um déficit de 3,3 mil leitos.
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Estado tem leitos em 16 cidades
Em Santa Catarina, há 157 leitos públicos, conforme dados fornecidos pela Secretaria de Estado da Saúde. Eles estão distribuídos em 16 das 295 cidades catarinenses. Além destes, segundo o site do governo do estado, até o ano passado existiam outros 52 privados, o que difere do número informado na última sexta-feira (23) pelo Ministério da Saúde, que aponta 245 leitos particulares.
O governo estadual considera as diretrizes do Ministério da Saúde no que se refere à quantidade de leitos neonatais, que estabelece dois para cada mil nascidos vivos. Nessa perspectiva, o número seria sufiente. Entretanto, considerando os indicadores considerados ideiais pela Sociedade Brasileira de Pediatria há um défict de quase 180 leitos de UTI neonatal em Santa Catarina.
Por meio da assessoria de imprensa, o Secretaria de Estado da Saúde afirma que “dificilmente há solicitação pendente na regulação de leitos pediátricos”. Mas não condiz com a realidade vivenciada pela coordenadora da Neonatologia do Hospital Santo Antônio, de Blumenau, Jaci Maria Pereira Marques. A médica considera extremamente necessário investir na construção de leitos de UTI destinados aos recém-nascidos.
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Na visão dela, esse é o maior problema da mortalidade neonatal a partir do momento que a gestante entra na unidade, e é enfática quanto à necessidade de engajamento político com o tema.
Ela conta que mesmo com 10 vagas no hospital, é preciso mais, principalmente pela alta prevalência de bebês prematuros.
Nestes casos, o tempo de internação chega a ser de meses, o que gera pouca rotatividade. Além disso, recém-nascidos de outras regiões são atendidos pela unidade, em virtude da regulação feita pelo governo do Estado. Por isso a unidade busca formas de viabilizar a construção de mais 10.
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Você não vai ter um bebê com quadro grave de saúde só por conta da gestação de risco, porque às vezes é para nascer bem, mas você não sabe o que pode acontecer. Então, precisa ter leito para dar suporte coordenadora da Neonatologia do Hospital Santo Antônio, Jaci Maria Pereira Marques
Supervisora do setor Materno-Infantil do Hospital Santa Catarina de Blumenau, Anemir Kerber Ciotti corrobora a afirmação de Jaci. São muitos casos de alto risco e, consequentemente, de bebês prematuros. Para lidar com esse cenário, diz que é preciso avaliação frequente dos procedimentos adotados pela unidade.
— Os protocolos são revistos sempre que ocorre algum desvio. Analisamos a situação e elencamos os possíveis motivos para aquilo. A partir daí, surgem ações de melhoria, que podem ser desde deixar de fazer algum procedimento, incrementar nova tecnologia ou modificar técnicas. Isso é uma decisão da equipe – explica Anemir.
No Hospital Santa Isabel, também em Blumenau, não são atendidas grávidas consideradas de alto risco e nem recém-nascidos que necessitam de terapia intensiva. Por isso, não há registro de morte de crianças entre o 1º e o 28º dia de vida nos últimos cinco anos.
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A enfermeira do Núcleo Hospitalar de Vigilância Epidemiológica da unidade, Patrícia Ricardo Oliveira, explica que quando há necessidade de algum desses serviços é feito o encaminhamento aos outros hospitais da cidade.
O pediatra Hamilton Fogaça avalia o que é necessário para mudar o cenário.
Temos uma boa assistência, porque nossos índices não são altos, mas podemos melhorar esses dados se as equipes de atendimento às gestantes estiverem bem treinadas, se os protocolos forem mantidos atualizados. O investimento no pré-natal é baixo, e a gestante também precisa fazer a sua parte. Elas precisam usar o sistema da melhor forma possível e para isso precisam saber que têm direitos e deveres. Por fim, é preciso possibilitar leitos (de UTI Neonatal) suficientes para quem precisa pediatra Hamilton Fogaça
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