Municípios onde festas e turismo incham a população – e a demanda por serviços públicos como água e luz – costumam prever sistemas planejados para aguentar, não só o crescimento sazonal, mas o aumento no número de habitantes da localidade.
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O alto fluxo de turistas em curto espaço de tempo não é exclusividade de Florianópolis. Outras cidades do país se acostumaram com a movimentação de turistas concentrados em um período do ano. A diferença é que estes municípios conseguiram se adaptar e evitam falhas no abastecimento de água e energia.
Barretos, cidade paulista com pouco mais de 100 mil habitantes, recebe cerca de 1 milhão de pessoas durante os 10 dias da festa do Peão de Boiadeiro. Na Bahia, Salvador aumenta a população em 800 mil pessoas durante o Carnaval. Nenhuma das duas tem notícias a respeito de grave falta de água e luz relacionadas diretamente ao crescimento momentâneo da população. Elas argumentam terem previsto a projeção populacional e se preparado.
Não seriam investimentos voltados exclusivamente ao turismo. Estes municípios – além de Aparecida (SP) – conseguem atender a demanda porque implantaram sistemas planejados para garantir o abastecimento de água e energia pelos próximos 20 anos. Segundo a Casan, estes tipos de projetos a longo prazo começaram a ser pensados para Florianópolis há 10 anos, mas só neste ano podem começar a ser colocados em prática, como um novo sistema de captação e tratamento no Rio Tijucas para abastecer o Norte da Ilha. Até agora, as obras tendem a resolver questões imediatas, que esbarram no crescimento populacional de alguns bairros da Capital.
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Em Barretos, investimentos ano a ano fizeram com que atualmente 100% da população seja abastecida por água e que não haja falta em momentos de pico. Em 2002, o município desperdiçava perto de 30% da água captada. Este índice reduziu para 16% em 2010. Até 2025, prevê diminuir o percentual para 12%. O engenheiro do Serviço Autônomo de Água e Esgoto de Barretos (Saae), Leone Wilman, conta que até mesmo o pavilhão que recebe a Festa do Peão de Boiadeiro tem captação própria de água.
– No período da festa trabalhamos 24 horas em todo o sistema. Em dias normais não passa de 20 horas. Temos duas captações superficiais e dois poços profundos e produzimos 2 mil metros cúbicos por hora – explica.
Outro exemplo para Florianópolis é Aparecida (SP), onde foi construído um reservatório com capacidade para 1,5 milhão de litros para complementar o abastecimento durante a visita do Papa Bento XVI, em 2007. A quantidade de água é suficiente para o consumo de 200 mil pessoas. A obra custou R$ 1,2 milhão ao governo do Estado e a prefeitura e evitou que o acréscimo de 500 mil fiéis deixasse a cidade sem água.
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Salvador investiu em geradores e bombas d?água
Com um Carnaval consagrado, Salvador apostou na melhoria do sistema de captação de água bruta. Para a coleta na barragem Pedra do Cavalo – a 120 km da capital -, foram instaladas bombas extras. O diretor de turismo da capital baiana, Érico Mendonça, afirma que as faltas de água são pontuais e não afetam os visitantes. A cidade também investiu em geradores para evitar problemas no abastecimento nas regiões mais altas. A associação comercial do município confirma e diz que não há reclamações dos lojistas quanto a este assunto.
Os problemas estão no Litoral Norte do Estado. A Companhia de Eletricidade do Estado da Bahia (Coelba) diz que houve queda de luz no final de 2013, porém há previsão de melhorias no sistema para evitar o mesmo problema no Carnaval. A queda provocou falta de água e a Empresa Baiana de Água e Saneamento (Embasa) explica que os geradores diminuíram os impactos.
Uma das cidades que apresenta problemas parecidos com Florianópolis é Parintins, no Amazonas. Ela e a capital catarinense têm em comum o fato de serem ilhas. Nos dois casos, a companhia de água usa a justificativa de que a falta de luz para os problemas no sistema de abastecimento.
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Aparecida, São Paulo
Foto: Tuca Vieira, Folha Imagem
* População (Censo 2010): 35.007
* Principal evento: Festa da Padroeira Nossa Senhora Aparecida
* Previsão de visitantes durante o evento: 300 mil
* Diagnóstico: A secretária de Turismo, Regina Amaral, afirma que Aparecida não enfrenta problemas de abastecimento de luz e água. Um dos motivos, mas não o mais importante, segundo ela, é que a maioria dos visitantes chegam e saem de Aparecida no mesmo dia. Paulo Piza, diretor da empresa de água, diz que a grande medida responsável por garantir o abastecimento perene para moradores e visitantes é o armazenamento. Ele afirma que Aparecida conta com um reservatório capaz de atender a demanda.
Barretos, São Paulo
Foto: Gerardo Lazzari, Divulgação
* População (Censo 2010): 112.101
* Principal evento: Festa do Peão de Boiadeiro – entre 21 e 31 de agosto
* Previsão de população hospedada durante o evento: 110 mil
* Diagnóstico: O município recebe mais de 1 milhão de pessoas nos 10 dias de evento. Há mais de 10 anos não há problemas no fornecimento de água e energia na cidade. A festa tem 59 anos e está há muito tempo se preparando para atender a população. O Serviço Autônomo de Água e Esgoto de Barretos (Saae) afirma que a cidade tem um sistema equilibrado e a produção de água é boa. A cidade não trabalha 24 horas com capacidade máxima do sistema. A água é captada superficialmente e em poços. Nos dias da festa todo o sistema é utilizado. Todo ano há novos investimentos e 100% da população da cidade é abastecida com água.
Salvador, Bahia
Foto: Marcelo Oliveira, Divulgação, DB, 26/2/2004
* População (Censo 2010): 2.675.656
* Principal evento: Carnaval – em 2014 será entre 27 de fevereiro e 4 de março
* Previsão de visitantes hospedados durante o evento: 800 mil
* Diagnóstico: Grande parte da população da capital se desloca para as praias do litoral norte do Estado durante o Carnaval. Por esse motivo, a estrutura da cidade consegue suportar a demanda de água e luz. Falta água em alguns pontos mais altos, para atender esses locais a Empresa Baiana de Água e Saneamento (Embasa) fez investimentos. Houve problema de queda de energia entre os dias 30 e 31. O que diminuiu o impacto para o abastecimento de água foram os geradores. Os investimentos são feitos com base na projeção populacional no período de 20 anos.
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Florianópolis, Santa Catarina
Foto: Cristiano Estrela, BD, 1/1/2014
* População (Censo 2010): 421.240
* Principal evento: Temporada de verão
* Previsão de visitantes hospedados durante o evento: 800 mil (segundo estudo da Santur feito em 2012)
* Diagnóstico: Todos os anos há registro de falta de água, principalmente no Norte da Ilha. Em 2013, a prefeitura trabalhou com a expectativa de público apresentado pela Santur e em agosto iniciou a Operação Presença, que também envolvia ações da Casan e da Celesc, que foram monitoradas – mas nem todas cumpridas, como a locação de geradores pela Casan. Os investimentos em Florianópolis feitos pela Casan são a curto prazo e levam em consideração o crescimento do consumo imediato e a escassez de fontes de água. Há um projeto, para captação e tratamento de água no Rio Tijucas, que a longo prazo pode resolver o problema de abastecimento do Norte da Ilha e projetar o abastecimento para os próximos 20 anos. A Celesc prevê R$ 114 milhões em investimento de 2011 a 2015 na região de Florianópolis, sendo que 50% das obras já foram executadas. A empresa afirma que vai avaliar as causas de quedas de luz e tomar providências para que o mesmo não ocorra novamente. Mais equipes serão contratadas para a temporada para atendimento mais rápido das ocorrências.
Parintins, Amazonas
Foto: Divulgação
* População (Censo 2010): 102.033
* Principal evento: Festival Folclórico de Parintins – dois dias no último final de semana de junho
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* Previsão de visitantes hospedados durante o evento: 80 mil
* Diagnóstico: Conforme a Fecomércio do Amazonas, Parintins enfrenta problemas todos os anos de abastecimento de luz e água durante o festival. Mauro da Silva Azevedo, vice-diretor da companhia de água do município, defende-se dizendo que no último ano houve apenas problemas pontuais de abastecimento, com falta de água somente por algumas horas em um dos dias da festa. Ele atribuiu a falha a um problema técnico em duas bombas do sistema e à falta constante de energia elétrica na cidade.