Apesar de haver escolas sem professores no Brasil, o número de formandos em licenciatura no país, entre 1990 e 2010, seria suficiente para atender à demanda atual por docentes, é o que revela a pesquisa inédita do professor José Marcelino de Rezende Pinto, da Universidade de São Paulo (USP). Faltam, portanto, profissionais interessados em seguir carreira dentro da sala de aula.
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O estudo aponta para a necessidade de tornar a profissão mais atrativa e de incentivar a permanência estudantil na área. Isso porque o número total de vagas na graduação é três vezes maior que a demanda por professores estimada nas disciplinas da educação básica. Em todas as áreas, só as vagas de graduação nas universidades públicas já seriam suficientes para atender à demanda.
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Para realizar a pesquisa, o autor cruzou a demanda atual por profissionais na educação básica com o número de formados nas diferentes disciplinas curriculares entre 1990 e 2010. Assim, só em Física é possível afirmar, de fato, que o número de formandos não é suficiente para suprir a necessidade. Segundo Marcelino, os titulados preferem ir para outras áreas a seguir a docência.
– A grande atratividade de uma carreira é o salário. Mas, além da remuneração, o professor tem um grau de desgaste no exercício profissional muito grande. E isso espanta – afirma o pesquisador, que é da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras da USP de Ribeirão Preto.
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Os cursos de formação de professores têm evasão maior que 30%, acima da média registrada por outras graduações:
– Em vez de financiar novas vagas, muitas vezes em modalidade à distância sem qualidade, precisamos investir para que o aluno entre e conclua.
Dados recentes mostram que há um déficit nas escolas brasileiras de 170 mil professores apenas nas áreas de Matemática, Física e Química.
Falta de incentivo e valorização
O salário de um professor é, em média, 40% menor que o de um profissional de formação superior. Foi essa diferença de renda que fez Simone Ricobom, de 40 anos, deixar a docência em 1998 – após cinco anos na área – para trabalhar na Previdência Social.
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– Havia o pensamento de que o professor tinha de ser um pouco mãe e eu queria ser profissional. Também percebi que não havia projeção na carreira – contou.
Simone voltou a atuar na educação infantil entre 2008 e 2012, dessa vez na rede particular, mas se decepcionou novamente.
O coordenador da Campanha Nacional pelo Direito à Educação, Daniel Cara, diz que o resultado da pesquisa desconstrói um falso consenso sobre um “apagão”.
– Os dados reforçam que a principal agenda na questão docente é a da valorização. Isso é garantia de boa formação inicial e continuada, salário inicial atraente, política de carreira motivadora e boas condições de trabalho – explicou.
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