Famosa pelas praias e local de algumas das festas mais badaladas de Santa Catarina e até do país, Balneário Camboriú não dedica esse mesmo espaço privilegiado para a cultura. Enquanto turistas lotam as areias e os shoppings da cidade durante o dia e movimentam bares, restaurantes e casas noturnas depois do entardecer, os artistas locais precisam buscar opções em outros municípios da região.

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Muitas vezes é só assim que eles conseguem aparecer no cenário da música, do teatro, da dança e das artes plásticas. Diante disso, um grupo formado por jovens – todos de fora de Balneário e que moram na cidade para trabalhar e estudar – decidiu inovar por conta própria.

Assim nasceu o Vitamina Coletiva em abril deste ano, com nove integrantes entre 20 e 30 anos de idade, que promove sábado o primeiro evento oficial. Envolvida desde o começo do projeto, a publicitária Amanda Brandão, 24 anos, conta que a ideia surgiu pequena e foi crescendo ao longo dos últimos meses.

Os amigos perceberam que muitos pintores, músicos, dançarinos e atores trabalhavam sozinhos, faltando atenção à cultura como um todo. Com pouco destaque para o setor no município, o objetivo do Vitamina é reunir os profissionais da cidade e fortalecer os segmentos artísticos.

– Comecei a notar que haviam poucas atrações culturais e as pessoas que eu conversava também percebiam isso. Balneário Camboriú é muito voltada para o turismo e para as festas, mas existe ausência da cultura. Tanto que já tivemos uma resposta bem legal dos artistas para esse evento, mostrando interesse em colaborar – comenta.

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O evento de sábado, chamado de Nossa Mistura, começa às 10h na Casa Sede dos Escoteiros (Rua B. Quatro, atrás da Univali e ao lado do Parque Raimundo Mafra). A programação cultural ocorre durante todo o dia, aberta gratuitamente ao público. Somente as quatro oficinas serão cobradas, no valor de R$ 25, para custear os materiais utilizados.

Com algumas parcerias firmadas com empresas, mas sem apoio financeiro da iniciativa privada e do poder público, os organizadores tiram dinheiro do próprio bolso para garantir o sucesso do projeto. Tudo é voluntário, pensando na diversificação e no crescimento da cultura no município.

– A cidade é carente nesse sentido. Cansamos de reclamar que nunca tinha nada em Balneário e criamos nós mesmos o coletivo de amigos para organizar e produzir cultura criativa. Tem muita gente boa por aqui, com vontade de mostrar seu trabalho e ensinar, que precisa ser divulgada – diz a designer Vanessa Bornemann, 21, que também participa do Vitamina Coletiva.

Mudança de planos

Outra atração desta semana no Litoral Norte, a peça A Dama de Copas e o Rei de Cuba, da Cia Teatral 3 em Athos, foi apresentada quarta e quinta-feira em Itajaí por falta de opção. O trabalho foi pensado, ensaiado e produzido durante meses para estrear no Teatro Municipal de Balneário Camboriú, cidade-sede da companhia.

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O atraso nas obras e a indefinição sobre a data para abertura do novo espaço obrigou o grupo a alterar os planos e subir aos palcos itajaienses.

– Queremos muito mostrar nossa arte na cidade, mas sem o teatro não existe hoje um espaço adequado para artes cênicas, música, dança. Com isso temos que descentralizar as apresentações e ir para cidades vizinhas – observa a atriz e coreógrafa Thais Fontes Behrendt Rosa.

Alternativas para driblar os problemas

Além da necessidade de buscar outras cidades para se apresentar, os grupos teatrais têm a opção de encenar em espaços públicos, como praças e ruas. Para isso é preciso autorização da Fundação Cultural ou da secretaria de Turismo de Balneário. Mas a alternativa não é suficiente para atender a demanda de espetáculos, muito menos para cativar o público.

Hoje, a cidade tem nove companhias teatrais e cinco escolas de fomento ao teatro que juntas movimentam direta ou indiretamente mais de 280 pessoas. Assim o setor teatral precisa criar soluções, usando estruturas inadequadas para as peças, como o Cine Itália, ou vai para outros municípios.

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– Quando saímos de Balneário o público daqui geralmente não nos acompanha e na rua não tem uma plateia fiel. As pessoas passam, dão uma olhada e se não gostam vão embora. É muito diferente de um local fechado, apropriado para uma apresentação de teatro. Nós criamos os espaços porque eles não existem – constata o professor de artes cênicas e presidente do Conselho Municipal de Cultura, Vitor Antônio da Silva.

Na música, o panorama é parecido. Atual vice-presidente da Associação Cultural dos Músicos Profissionais de Balneário Camboriú e Camboriú, Clóvis Rey Martínez afirma que a maioria dos artistas não sobrevive da música na cidade, fazendo disso apenas um hobby ou no máximo um emprego complementar nos finais de semana. O jeito é achar novas maneiras de promover a cultura.

– Balneário é diferente. Tem gente de todos os lugares do mundo que procuram nosso turismo, mas não temos atrações para as pessoas da cidade. Estamos nos organizando e tentando fazer eventos para movimentar o setor musical, para mudar esse cenário – acrescenta.

Teatro está previsto para janeiro

Há mais de quatro anos em obras, o Teatro Municipal de Balneário Camboriú tem inauguração prevista para janeiro de 2013, embora ainda não seja oficial. A abertura inicialmente deveria ocorrer em 2009, mas a rescisão de contrato com a empresa de Itajaí, vencedora da licitação na época, adiou os planos da prefeitura. Com os trabalhos retomados em 2010, a nova data para abrir as portas do teatro era julho deste ano – o que novamente não se cumpriu.

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Agora o o superintendente da Fundação Cultural de Balneário Camboriú, Paulo Cezar Brito de Oliveira, afirma que a obra está 95% concluída. Faltam apenas alguns acabamentos, entre eles o de sonorização, iluminação e na nova Galeria Municipal de Artes que vai funcionar no mesmo lugar.

– Houve atraso por questões de material, burocracia. Na próxima semana vou discutir com o prefeito a data certa para a inauguração – comenta Oliveira.

Sobre a falta de apoio às ações culturais na cidade, Oliveira avalia que na medida do possível existe incentivo para a arte local. De qualquer forma, ele ressalta que somente com a abertura do Teatro a cultura terá efetivamente um marco de desenvolvimento em Balneário.

– A Praça da Bíblia, a Galeria de Artes, a Biblioteca Pública, são todos espaços abertos para os artistas. Mas claro que com o Teatro teremos outra realidade. E nele a prioridade será o artista local e regional – garante.

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