Um método que já não era usado há 20 anos teve de ser adotado novamente em clínicas de hemodiálise de Santa Catarina. O motivo? O soro fisiológico, insumo essencial para o tratamento de mais de 4 mil catarinenses, está em falta.
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Enquanto o problema se arrasta, equipes improvisam um procedimento paliativo, que consiste em misturar sal em água destilada.
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Na Renal Vida de Blumenau, o jeito foi adotar o processo que estava em desuso há duas décadas. Apesar de antiga, a técnica não tem contraindicações, garante o presidente da Associação de Clínicas de Nefrologia do Estado, Tarcísio Steffen.
Ele revela que na hora de comprar o soro fisiológico, a resposta dos distribuidores tem sido a mesma desde abril: não há produto em estoque. Quando tem, é pouco e muito mais caro.
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— Pagávamos R$ 4 em uma bolsa. Agora, R$ 25, [chegando a] R$ 40. Então a R$ 25 é um aumento de 530% — revela.
Isso significa que, em um local como a Renal Vida de Blumenau, antes R$ 1 milhão custeava um ano de soro fisiológico. Agora, com a mesma quantia, consegue-se material para apenas quatro meses, o que configura um prejuízo milionário.
— É uma coisa extremamente abusiva. E o nosso atendimento é pelo Sistema Único de Saúde, tabela fechada. Não temos como cobrir o aumento desse custo, né? — lamenta Tarcísio.
Vidas que dependem do tratamento

No total, são consumidos 52 mil litros de soro fisiológico por mês no Estado. Enquanto as clínicas buscam uma solução com as autoridades e insistem com os distribuidores, o jeito é improvisar. Algo que era exceção virou rotina, detalha Tarcísio.
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É um trabalho delicado, que deveria ser feito em laboratório para garantir a segurança e a qualidade. Porém, ao misturar o sal com a água destilada, as equipes conseguem garantir o tratamento, que depende do soro do início ao fim — para limpeza, esterilização, finalização e em caso de contratempos durante o procedimento.
— É um processo que estava em desuso, mas precisamos usar emergencialmente porque os pacientes não podem ficar sem hemodiálise.
Rodolfo de Salvo é um desses pacientes que dependem do tratamento. À espera de um transplante, passa grande parte do dia na Renal Vida de Blumenau.
— Passo três horas, três vezes por semana… Aí você passa a ter praticamente uma vida normal — conta.
Distribuidoras com dificuldade
Pelo menos 19 clínicas de Santa Catarina relataram à associação dificuldades para comprar o soro fisiológico. As distribuidoras dizem que as indústrias estão com dificuldade para conseguir os insumos e as embalagens, o que trava toda a cadeia de produção e venda.
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Contraponto
Nessa semana, a associação mandou um ofício à Anvisa. Relatou a falta de soro, o aumento abusivo do preço onde ainda há o produto e pediu medidas emergenciais para resolver o problema. Uma cópia do documento foi enviada também a outros órgãos, como o Ministério Público Federal e a Secretaria de Saúde do estado.
A reportagem da NSC TV questionou a Anvisa sobre o assunto. Em nota, o órgão respondeu que a Câmara do Mercado de Medicamentos da Anvisa “abriu investigação preliminar para apurar denúncias de sobrepreço na comercialização do soro fisiológico, já tendo requisitado informações das empresas farmacêuticas que produzem a substância”.
Também acrescentou que uma lista das substancias que serão liberadas da regulação de preço em razão do risco de desabastecimento “será aprovada em breve pelo Conselho de Ministro da Câmara de Regulação do Mercado de Medicamentos”. O soro fisiológico é um dos produtos que está em análise no momento.
A Secretaria de Saúde do Estado confirmou a dificuldade, inclusive do próprio governo estadual na aquisição de soro fisiológico. Afirmou que tem feito editais para comprar mais itens e garantiu que está tomando medidas para que não haja desabastecimento.
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O Ministério da Saúde e a Abrasp, associação que representa os fabricantes, também foram procurados, mas não retornaram até o fechamento deste texto.
*Com informações de Patrícia Silveira, NSC TV.
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