Se não receber repasses mais robustos dos governos do Estado e federal, o Hospital Municipal São José de Joinville corre o risco de ficar inoperante e ser entregue à gestão do Estado ou da União.

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O apelo foi feito nesta terça-feira pelo prefeito de Joinville, Udo Döhler (PMDB), que define como “imoral” a remuneração recebida do Sistema Único de Saúde (SUS) para a manutenção da unidade.

Segundo ele, é justamente o desequilíbrio das contas que coloca em xeque o futuro do São José. Hoje, 37% das receitas do município são destinadas à saúde.

Nas palavras de Udo, trata-se de “um limite inaceitável”, sendo que o principal destino das verbas é para o hospital. Por lei, a cota mínima a ser repassada ao setor é de 15%.

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O que ameaça a gestão do São José, diz Udo, é o descompasso entre o custo de manutenção da unidade e a remuneração repassada pelas demais esferas.

Quanto mais a Prefeitura investe no hospital, raciocina o prefeito, pior é o desempenho em relação à saúde financeira da unidade.

_ Antes de ampliarmos os 47 leitos, tínhamos leitos de corredor em número muito parecido. Eles desapareceram. Três meses depois, os de corredor voltaram. Equivale dizer que subiram em 30% as internações, mas a população não cresceu isso, nem ficou mais doente nessa proporção. Recebemos mais pacientes de fora e somos obrigados a atendê-los _ compara.

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Um a cada quatro pacientes internados no São José, em média, vem de cidades vizinhas de Joinville. O papel de atenção à saúde básica que caberia ao município, reforça Udo Döhler, se voltou aos casos de alta complexidade.

_ Compete ao município fornecer a saúde básica e, ao Estado, cabe a complexidade. Em Joinville, ocorre o inverso. Na outra ponta, o Hospital Regional atende à baixa complexidade. Está sendo ampliado, mas de forma muito discreta. Ouvimos apenas um deputado (Dalmo Claro, PMDB) se pronunciar a esse respeito. O município está sendo extorquido com esse ônus que não pertence ao município _ resume.

Confira entrevista:

A Notícia _ A possibilidade de se entregar o Hospital São José ao Estado ou ao governo federal é real ou um cenário remoto?

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Udo Döhler _ Não é remoto, é um cenário que está diante de nós e que nos preocupa. Se fosse um cenário remoto, estaríamos nos policiando com muita cautela. Não é cultura nossa alertar a população desnecessariamente.

A situação coloca em risco a operação do hospital, mais do que setores. A Lei de Responsabilidade diz que não podemos ultrapassar 54% (em gastos com a folha dos servidores). Daqui a pouco, vamos ultrapassar isto. O governo federal não está enxergando a realidade de Joinville. É dever nosso alertar o que se passa.

AN _ Seria cabível que o município recebesse pelo atendimento de cada paciente de outras cidades?

Udo _ Temos que achar uma solução intermediária. Sabemos que o Estado tem dado todo o suporte, mas na área de saúde isto foge. Se chegarmos ao governador e falarmos: “Vamos lhe presentear com o São José”, não haverá interesse. Mas, por outro lado, faz todo o sentido o Estado dar uma contrapartida. Na folha de pagamento, por exemplo, haveria como dar uma ligeira reduzida nesse percentual de 37%.

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AN _ O senhor tem experiência de gestão em hospital particular. Surpreende a diferença em relação à unidade pública?

Udo _ Na rede pública, os custos são maiores, mas é possível buscar um avanço de gestão. Estamos buscando isso. Conseguimos economias significativas de medicamentos, otimizamos a operação técnica do hospital, as cirurgias cresceram. Temos termos de ajustamento de conduta (TAC) para fazê-las.

Temos ponto eletrônico, médicos cumprindo suas cargas horárias. As remunerações são de mercado,

não faltam médicos. Há avanços importantes. Independentemente de se avançar, existe um descompasso entre o custo e a remuneração que nos é repassada.

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