Assim que Olívio Francês abre as portas do galpão, milhares de filhotes de marreco vêm em busca de comida. Magros, com as penas caindo e até machucados por se mutilarem, os animais, com 17 dias de vida, estavam há seis sem comer.

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Durante a madrugada desta quinta-feira, um carregamento com 2,8 mil quilos de ração foi dado aos 15 mil filhotes, porém, a fome ainda fazia com que os bichinhos buscassem alimento. Cerca de 20 deles morreram de tanto comer. A carga duraria apenas até o meio dia.

Avicultor há 16 anos em Apiúna, Francês diz nunca ter passado por uma situação dessas. Ele cria os marrecos para a Villa Germania, maior empresa produtora de carne de pato, marreco e derivados da América Latina, que tem ainda outros sete avicultores na cidade. Segundo Francês, a empresa não vem fornecendo ração suficiente para o tratamento dos animais.

– Eles precisam comer uma ração específica que só a empresa pode dar. Se a situação não melhorar, não sei o que serão deles (animais) – lamenta.

O avicultor explica que depende unicamente da criação de marrecos para manter o sustento da família. O resultado da crise que vivencia são dívidas que vão desde empréstimos com parentes até a falta de pagamento das prestações do financiamento no banco.

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– Sempre batalhei para ter o nome limpo e nunca ficar devendo para ninguém, mas não consegui segurar toda essa dificuldade. Estou vivendo a pior situação da minha vida – desabafa.

O futuro para a família é incerto. Apesar disso, Francês espera que a ração volte a ser fornecida para os filhotes, pois fica triste vendo os animais desnutridos. Ontem, de tanto comer, 20 deles foram encontrados mortos. O avicultor estuda plantar morangos ou hortaliças para não depender somente de uma única fonte de renda.

A Polícia Ambiental de Blumenau esteve ontem de manhã na propriedade dos avicultores e na empresa. Segundo o comandante, tenente Márcio Jean Ricardo, a situação será acompanhada e um relatório deverá apurar as responsabilidades de cada um na alimentação dos marrecos:

– A polícia atua no caso de maus tratos. Caso isso se configure aqui, acionaremos o Ministério Público. Também fomos até a empresa (Villa Germania), que disse estar normalizando o abastecimento.

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O que diz a empresa

Afetada pela crise mundial do mercado de grãos, causada pela seca e queda da produção do milho nos EUA, a Villa Germania reconhece que há dificuldades no fornecimento de ração, mas afirma que a situação já está praticamente normalizada. A Villa Germania informa que, em função disso, já havia feito a redução de 35% de seu plantel de animais. Por parte da empresa, não há orientação nem autorização para o abate das aves pelos fornecedores integrados.

A empresa ressalta ainda que trabalha ativamente para que não haja nenhum tipo de dano à saúde dos animais, sendo os produtos submetidos às mais rigorosas normas de qualidade e à legislação do Mapa (Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento) e Dipoa (Departamento de Inspeção de Produtos de Origem Animal), além de diversos países importantes importadores. A Villa Germania reafirma o seu compromisso com a saúde, o bem-estar e a qualidade de vida animal em todas as etapas de produção.