A função de cobrador de ônibus está ameaçada em Itajaí. Atualmente, segundo a Federação dos Condutores de Veículos e Trabalhadores em Transportes Rodoviários de Cargas e Passageiros no Estado de Santa Catarina (Fectroesc), 60% dos ônibus do município ainda têm cobradores – alguns por decisão das empresas, outros por falta de mão de obra. Para a entidade, a redução no número de funcionários destinados à vaga é uma tendência em todo país. No Estado, as cidades de Joinville, Brusque, Balneário Camboriú, Itapema, entre outras, não possuem mais a função.

Continua depois da publicidade

>>> Usuários dizem que extinção da função causa atrasos

>>> Balneário Camboriú extinguiu a função de cobrador

– O sistema de transporte integrado e a falta de mão de obra reduziu o número de cobradores. Mas nós não aceitamos que o motorista cobre e dirija. Com o trânsito de hoje em dia é muito difícil. E os deficientes, quem vai auxiliar? O motorista tem que sair do ônibus para fazer isso. Por isso, estamos trabalhando pela volta da função de cobrador – explica o presidente da Fectroesc, João José de Borba.

Em Itajaí e região a diminuição já pode ser sentida pelos usuários. As empresas responsáveis pelo transporte coletivo alegam que há falta de mão de obra para a função, além de uma grande rotatividade de pessoas. Em contrapartida, funcionários afirmam que o cargo é pouco valorizado. Para o Sindicato dos Condutores de Veículos Automotores e Trabalhadores em Transportes Rodoviários de Cargas e Passageiros de Itajaí (Sitraroit), os cobradores estão deixando de existir. Conforme o secretário administrativo da entidade, Carlos César Pereira, este processo veio para ficar no Brasil e com o transporte integrado a perspectiva é que as empresas parem de contratar cobrador.

Continua depois da publicidade

– Estamos preocupados com o desemprego. Por isso, temos um acordo com as empresas para que estes funcionários não sejam demitidos, eles têm que ser absorvidos em outras funções – relata.

Além disso, o secretário admite que existe carência de mão de obra. Na Coletivo Itajaí, por exemplo, há cerca de 15 vagas abertas para cobradores de ônibus e mesmo sem exigir qualificação dos profissionais, a empresa tem tido dificuldades para preencher os cargos. Com 59 veículos em circulação, a Coletivo conta com 45 cobradores que se revezam em 42 linhas e cerca de 480 horários por dia. Segundo o gerente operacional, Marco Littig, em linhas de menor movimento o motorista trabalha sozinho, fazendo dupla função: dirigir e cobrar.

– O número de cobradores tem diminuído gradativamente nos últimos anos em função da mão de obra escassa e pouca procura. É uma tendência, em Joinville não tem mais cobradores desde 2001. Boa parte dos usuários paga com cartão e muito pouco é em dinheiro. Isso também agiliza o embarque e é uma vantagem, já que o custo da passagem é menor se for comprada antecipadamente – afirma.

Profissionais querem mais valorização

Na contramão da extinção dos cobradores, o número de motoristas que dirigem e cobram na Coletivo Itajaí tem aumentado. A empresa alega que isso só acontece em linhas de menor movimento. No entanto, a prática tem sido diferente. O motorista Marco Antônio Bechtold relata que em linhas com maior fluxo, funcionários também trabalham sozinhos.

Continua depois da publicidade

– Tem diminuído o número de cobradores. A empresa não quer arcar com os custos. É muito mais vantajoso pagar um adicional para o motorista ao invés de contratar um cobrador – alerta.

Com 20 anos de profissão, Bechtold diz que não aceitou trabalhar sozinho, mesmo com pressão da empresa. Para ele é fundamental ter um cobrador.

– Se eu não trabalho com cobrador tenho que cuidar do trânsito, das portas, do dinheiro e do passageiro. E se tranca uma pessoa na porta? Ninguém quer saber se o motorista está sozinho.

A cobradora Maria das Graças Sampaio afirma que não é por falta de mão de obra que o número de cobradores diminuiu.

Continua depois da publicidade

– É porque a empresa prefere assim. Acho uma exploração. Para o passageiro é fundamental ter um cobrador para não atrasar a viagem e dar mais segurança. Sem cobrador se perde tempo, o motorista tem que cuidar das duas portas, do trânsito e tem muitos que dirigem cobrando – destaca.

Outro cobrador, Gilberto Andrade, diz que os funcionários diminuíram por causa do salário baixo. Segundo ele, o psicológico de quem dirige e cobra certamente fica alterado em função da carga horária de trabalho.

– Não entendo como pode um motorista dirigir, cobrar e não ter estresse. A maioria dos carros batidos são de motoristas que trabalham sozinhos. Com certeza o nosso emprego fica ameaçado, mas acredito que é muito difícil para o motorista fazer tudo isso, precisa de um auxiliar.

As opiniões também divergem entre os motoristas. Alguns ressaltam que a dupla função não interfere no trabalho.

Continua depois da publicidade

– Eu trabalho com cobrador nas linhas mais puxadas e sem nas linhas mais tranquilas de fazer. Optei por ficar sozinho, só tem que ter mais paciência. Os atrasos na verdade ocorrem dependendo do trânsito de Itajaí, tem horários que não dá para circular – observa o motorista Rudimar Haardt.

O motorista Odair José Caetano acredita que a mão de obra está mesmo em falta:

– A empresa abre portas para todos, mas existe falta de cobradores que já tem experiência. No meu trabalho isso não interfere, é um critério da empresa.

O Sitraroit de Itajaí afirma que é contrário a prática do motorista cobrar e dirigir. No entanto, é uma realidade que não pode ser evitada, já que não é ilegal.

– Não somos favoráveis a isso. Não é benéfico para o usuário porque atrasa o ônibus, além de tirar a função do cobrador. Estamos tentando trabalhar em uma lei estadual que regularize a situação, mas muitos motoristas reclamaram conosco dizendo que era um dinheiro a mais para eles – relata o secretário administrativo da entidade, Carlos César Pereira.

Continua depois da publicidade