São 20 horas e a aposentada Sueli Lopes, 66 anos, chega a um ponto de ônibus da rua Dona Francisca, no bairro Saguaçu, na região central de Joinville. É um dia de chuva e já faz mais de duas horas que o Sol se pôs. Mesmo com as lâmpadas dos postes do outro lado da rua acesas, a luz quase não chega à parada de ônibus e Sueli permanece sozinha no breu pelos 25 minutos até que a próxima linha passe em direção ao terminal central.

Continua depois da publicidade

— Quando preciso, eu venho para as sessões de fisioterapia todos os dias e, na hora de ir embora, dificilmente tem mais pessoas no ponto de ônibus. O negócio é ficar atenta, sem parar de olhar para os dois lados, porque dá medo — conta ela, que mora no bairro Jardim Paraíso.

A mesma situação de Sueli é vivida em vários lugares da cidade, por diferentes moradores. Seja pela copa das árvores plantadas na calçadas, que impedem a passagem de luz; ou pela localização das paradas de ônibus em lugares com pouca movimentação e perto de terrenos baldios, ficar no escuro enquanto se espera o transporte coletivo à noite ou no início do dia é uma constante para os joinvilenses. “AN” percorreu alguns bairros da cidade para ver a situação da iluminação dos pontos de ônibus após receber reclamações dos leitores sobre o problema.

Como funciona a iluminação dos pontos em Joinville e em outras cidades

Em grandes cidades como Curitiba, Porto Alegre, São Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte e em municípios do interior do Norte e Nordeste, as paradas de ônibus contam com focos de luz específicos, especialmente em locais mapeados como mais escuros ou vulneráveis. A iluminação é feita com lâmpadas dentro do abrigo ou com sensor de iluminação ou com instalação de postes menores ao lado da parada de ônibus.

Continua depois da publicidade

Em Joinville, recentemente, uma proposta para iluminação dos pontos de ônibus foi apresentada em forma de projeto de lei na Câmara de Vereadores. Ela foi retirada da pauta por conter vício de origem, por não apresentar estimativa do impacto orçamentário-financeiro e não informar de que forma estas despesas seriam pagas.

O que diz a Prefeitura

Segundo a Prefeitura de Joinville, em informações enviadas pela Secretaria de Comunicação, seria necessário realizar estudos para verificar qual sistema seria o mais viável na cidade. Mas, no momento, não há projeções neste sentido. Questionada se a receita da Cosip, que passou por aumento de taxas em janeiro de 2018, poderia ser utilizada para viabilizar um projeto de iluminação de pontos de ônibus, a administração municipal informou que os recursos da Cosip serão usados para a melhoria do sistema de iluminação pública, na modernização de grandes eixos, manutenção e pagamento da fatura de energia elétrica pública. Até junho, a taxa da Cosip havia arrecadado R$ 25,9 milhões.

Pesquisa aponta segurança como maior preocupação

A Pesquisa Nacional da Qualidade do Transporte (PNQT 2017), realizada em todo o País no ano passado, indicou que a maior preocupação dos usuários do transporte público é no quesito segurança, tanto na parada quanto no interior do ônibus. Dos entrevistados, 32% apontaram este como o principal aspecto negativo dos ônibus, seguido pelo tempo de espera na parada, com 21%.

Confira os relatos de usuários dos pontos de ônibus:

Giovanna Lima, 21 anos, deixa a clínica em que trabalha no bairro Anita Garibaldi às 19 horas e caminha para o ponto de ônibus na rua Rio Grande do Sul. Enfrenta a escuridão no caminho e na espera, mas prefere ir um pouco mais distante porque a primeira opção, na rua Concórdia, é ainda mais escura e raramente tem mais pessoas.

Continua depois da publicidade

Bem em frente à Câmara de Vereadores, na avenida Hermann Lepper, a luz dos postes quase não chega ao abrigo de ônibus. Tanto Larissa de Lara, 21 anos, quanto Tiago Luiz Pereira da Silva, 36, dependem do local para ir para casa depois do trabalho, mas ficam em alerta.

– É horrível ficar aqui sozinha. Eu morro de medo e desconfio de todo mundo que passa – afirma Larissa.

Quase diariamente, Sueli Lopes, 66 anos, usa uma parada de ônibus da rua Dona Francisca, no Saguaçu, para voltar depois das sessões de fisioterapia. É um cenário assustador quando escurece, mas com o qual ela precisa lidar porque não há outras opções por perto para chegar ao terminal central.

Márcia e o filho aguardavam um ônibus na rua Copacabana na noite de quinta-feira para irem à igreja. Estar ali naquele horário não faz parte da rotina da família, mas Márcia teme ficar sozinha no local bem cedo, antes de o Sol nascer.

Continua depois da publicidade

– Eu vou trabalhar às 6 horas e ainda é escuro no inverno. Se não tem mais ninguém no ponto, é muito ruim ficar aqui – afirma.