19h30min
Mãe e filho chegam ao pronto-socorro do Hospital Santo Antônio por volta das 19h30min de uma terça-feira. O menino de aproximadamente cinco anos tem um ferimento no supercílio. Uma toalhinha ajuda a esconder o machucado durante o tempo em que ficam na recepção. Ele está calmo, mesmo depois da jornada em busca de atendimento. Antes de chegar à unidade de saúde da rua Itajaí, os dois foram ao posto de saúde perto de casa, na Fortaleza, onde receberam orientação de ir ao hospital. Do pronto-atendimento do Santa Isabel, onde não havia pediatras de plantão, recorreram ao Santo Antônio.
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Assim que entraram na unidade, a mãe fez a ficha e sentou para aguardar junto do filho. Durante a espera, um homem reclama do atendimento na recepção com a atendente. Chega uma ambulância de Brusque. Familiares entram com cadeira de praia para visitar pacientes. Uma mulher entra mancando. A Polícia Militar traz um homem machucado. Um pai pede termômetro para medir a temperatura da filha e um casal conversa sobre a atual situação da saúde em Blumenau. Um menino chora sem cessar.
20h03min
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Às 20h03min são 26 adultos e sete crianças à espera de atendimento. Há dois médicos de plantão: um clínico-geral, Pedro Marcondes, e uma pediatra, Maria Logli. Número que o médico pediatra especialista em saúde pública Tarcísio Lins Arcoverde acredita estar ultrapassado. Seriam necessários ao menos três pediatras, três clínicos, um ortopedista e um cirurgião para dividir a carga de trabalho:
– Blumenau cresceu muito e continua com o mesmo modelo de serviço. Não há condições para um hospital do tamanho que está o Santo Antônio. Mas isso depende de estrutura e da mudança do modelo de 20 anos atrás.
O Santa percorreu os serviços de urgência e emergência de Blumenau no último mês para compreender o que ocasiona o clima de tensão entre pacientes, atendentes e profissionais de saúde. Desde que a imagem de uma mãe chutando a porta da emergência em busca de atendimento virou notícia nacional, a reportagem permaneceu por 10 horas na recepção do Santo Antônio. Também foram visitadas as alas de urgência e emergência do Santa Isabel e dos ambulatórios gerais do Garcia e da Velha, que funcionam até a meia-noite. O que se observou foi um cenário de moradores impacientes à espera de atendimento, falta de estrutura adequada, mau uso do serviço de emergência e profissionais da saúde sobrecarregados.
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O pronto-socorro do Santo Antônio atende em média 160 adultos e crianças diariamente e 15 profissionais trabalham juntos em cada plantão de 12 horas. Os casos mais comuns são de pessoas com febre, dor de cabeça ou muscular, traumas e pacientes com câncer. O diretor-técnico Fernando Garcia reconhece a defasagem na estrutura. Nem o número de plantonistas – o quadro, que nunca está completo, prevê dois clínicos-gerais e dois pediatras por turno – nem o de leitos – são 11 de adultos e nove pediátricos – crescem, garante Garcia.
– A capacidade operacional é a mesma dos últimos 10 anos. Está na hora de o Estado assumir a sua parte. Ele se mantém terceirizando uma obrigação que é dele -critica Garcia.
22h
Enquanto a estrutura não cresce, na mesma noite em que a mãe espera aliviar a dor do filho ferido, um jovem aguarda desde as 17h30min. Sofreu um acidente de trabalho e o braço esquerdo está inchado. O rapaz perdeu a noção de quantas horas já está na recepção. Entende-se. Os ponteiros dos três relógios pendurados na parede da sala de espera de pronto-socorro não se movem. Ali o tempo parou. Às 22h, mãe e filho podem ir para casa depois do menino receber um curativo no olho.
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– Está uma vergonha. Tem um médico só atendendo todo o mundo. Está pior que Cuiabá – comenta o carioca Romilson, que acompanhava a mulher cuiabana Núbia com dores abdominais. Os dois ficaram no Santo Antônio entre 19h42min e 23h45min esperando atendimento. Desistiram e foram ao Santa Isabel. Saíram de lá às 5h. O diagnóstico não foi preciso. Ficou no soro e foi encaminhada para fazer endoscopia.