Os animadores índices econômicos de Santa Catarina estão diretamente ligados a indicadores sociais acima da média. O chefe da unidade estadual do IBGE, Roberto Gomes, ressalta que desde 2000 o Estado ocupa a terceira posição no ranking nacional do Índice de Desenvolvimento Humano (IDH), atrás apenas do Distrito Federal (um mundo à parte pelo pequeno porte e grande concentração de serviços públicos) e São Paulo (maior economia do país). A taxa catarinense de analfabetismo entre pessoas com 15 anos ou mais é de apenas 2,3%, equivalente à de países desenvolvidos.
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Apesar desse cenário favorável, a economia do Estado ainda é carente de mão de obra especializada em várias áreas para deslanchar ainda mais. Na indústria, a modernização do parque fabril, com a digitalização das fábricas, tem exigido pessoas mais qualificadas para atender novas demandas.
O Sistema Fiesc, por exemplo, anunciou recentemente que planeja investir R$ 510 milhões nos próximos anos, com a maior parte deste valor direcionada à qualificação de capital humano. O objetivo é fazer frente aos desafios e ampliar a participação do setor no bolo de geração de riquezas do PIB.
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– Estamos fazendo vários e grandes investimentos nas unidades pelo Estado para que possamos atender a forte demanda do setor industrial em termos de qualificação de pessoas – diz o presidente da Fiesc, Mario Cezar de Aguiar.
O obstáculo se estende também ao setor de serviços, onde uma das áreas que mais carecem de especialização é a da informática. Um levantamento recente feito pela Associação Catarinense de Tecnologia (Acate) identificou que até 2023 serão demandados pelo menos 16,6 mil profissionais somente para empresas de TI. Como a pesquisa consultou apenas 228 negócios e não considerou departamentos de tecnologia de companhias de outros segmentos, a necessidade, na prática, deverá ser bem maior.
O presidente da Acate, Iomani Engelmann Gomes, avalia que a pandemia acelerou a busca por mão de obra qualificada ao impor a implementação de mais ferramentas digitais nos negócios. Uma das funções mais disputadas é a de programador. Mesmo com uma média salarial inicial, segundo a pesquisa da Acate, próxima de R$ 3 mil, acima do piso de muitas categorias industriais, há vagas de sobra a preencher. A concorrência externa também é um desafio. Empresas de fora estão oferecendo oportunidades para brasileiros – e pagando em dólar.
O caminho para transformar essa realidade, sugere Gomes, é apostar na base: acrescentar ao ensino básico de crianças disciplinas que fomentem o raciocínio lógico e transmitam conceitos básicos de programação. Um reforço na língua inglesa também ajudaria, assim como estimular que mais mulheres considerem seguir carreira em uma área ainda predominantemente masculina.
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– A inclusão das mulheres no nosso setor sempre foi muito bem-vinda. Estamos conseguindo sensibilizá-las de que é um setor democrático, não existe distinção salarial – pondera o presidente da Acate.
Perfil profissional
Manezinho de Florianópolis, Felipe Podestá ocupa desde maio o posto de head de engenharia da fintech catarinense CashWay e ilustra o perfil de profissional cada vez mais demandado pelo mercado. Ele se aproximou da área de ciências exatas quando tinha 14 anos por influência de um vizinho engenheiro. Fez estágio nos Correios, onde atuou nas áreas fiscal e de tecnologia, e ingressou no curso de Ciências da Computação na Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC).

Depois de trabalhar por cinco anos como empregado celetista, Podestá optou por seguir carreira solo como desenvolvedor. Com 17 anos de estrada e diversos cursos de TI no currículo, ele acumula no portfólio, entre outros, o projeto do atual portal do Aeroporto Internacional do Galeão, feito em parceria com a Agência Brivia.
– Hoje, para se tornar um profissional desejado pelo mercado, os melhores caminhos são entrar na universidade na área ou buscar outros cursos – explica.
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Cultura empreendedora
Analistas também apontam a vocação empreendedora e a resiliência de Santa Catarina como fatores preponderantes para a geração e manutenção de empregos. Mesmo em plena pandemia, o Estado fechou 2020 com saldo de 115 mil novas empresas, segundo dados da Junta Comercial (Jucesc). A grande maioria foi de microempreendedores individuais (MEIs).
– Diante da crise, o número de pessoas que perdem o emprego e montam seu próprio negócio é surpreendente – constata Carlos Henrique Ramos Fonseca, superintendente do Sebrae-SC.
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O secretário da Fazenda, Paulo Eli, acrescenta ainda a mão do poder público nesse processo. Ele ressalta que ao governo de Santa Catarina cabe o papel de proporcionar segurança jurídica e tributária e de conceder benefícios fiscais para instalação e manutenção de empresas. Isso sem prejudicar o caixa do Estado, que vem batendo recordes de arrecadação. Só em agosto foram R$ 3,6 bilhões, um dado sem precedentes até então, impulsionado por um programa de recuperação fiscal.
É graças a esse dinheiro extra entrando no cofre que Santa Catarina se deu ao luxo de propor a destinação de R$ 465 milhões das próprias receitas para obras nas BRs 470, 280, 163 e 285, de responsabilidade da União. Um acordo assinado na última semana entre governo do Estado e Ministério da Infraestrutura garantiu que ao menos R$ 126 milhões desse aporte serão aplicados ainda em 2021 para amenizar gargalos históricos do desenvolvimento catarinense.
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– Para o Estado continuar mantendo os altos índices, é necessário continuar investindo fortemente em infraestrutura de escoamento de produção para mercados nacionais e internacionais – diz Eli.
Impacto positivo no comércio e nos serviços
A matriz econômica diversificada de Santa Catarina dinamiza outras atividades, colaborando para os altos índices de emprego. Prova disso é que o setor de serviços responde, atualmente, por cerca de 850 mil postos de trabalho formais no Estado, uma média um pouco maior do que a da indústria de transformação. Já o comércio em geral conta com quase 330 mil vagas com carteira assinada, segundo dados do Caged.
– Santa Catarina tem condições sociais e econômicas diferenciadas de outros estados. Por isso, em momentos de crise, o impacto negativo é menor e, em momentos de recuperação, a retomada do crescimento é mais acelerada – diz Alison Fiúza, economista da Federação do Comércio de Bens e Serviços (Fecomércio-SC).
Nessa fase de retomada em função do êxito das vacinas, o turismo, um dos segmentos fortes do setor de serviços catarinense, voltou a contratar de forma mais acelerada, observa o economista. Empresas de alojamento e alimentação, que no ano passado perderam 12 mil postos de trabalho, retomaram um maior nível de admissões nos meses de junho e julho, com a abertura de quase 1,4 mil vagas. O turismo de inverno sofreu menos na pandemia e está com alta ocupação.
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– Nos serviços, além de alimentação e hospedagem, outros segmentos que mais estão criando empregos são os relacionados com materiais de construção e de transporte. Isso está vinculado à matriz econômica do Estado. Quando se tem uma indústria forte, uma exportação forte, isso faz com que os transportes cresçam e criem mais empregos também – observa Fiúza.
Quem também iniciou a fase de retomada de admissões foi o varejo tradicional, que atua com vestuário, calçados e assessórios e emprega 59 mil pessoas em Santa Catarina. Na pandemia, com as medidas de distanciamento, o segmento fechou mais de 3 mil vagas. Para o Dia das Mães, retomou maior ritmo de contratações e agora, com a proximidade da temporada de verão, deve acelerar a admissão de temporários que mais tarde podem ser efetivados.

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