A falta de espaço ameaça as pesquisas no Herbário Barbosa Rodrigues, em Itajaí. O casarão na Avenida Marcos Konder, que abriga a instituição há 70 anos, já não tem mais lugar para manter o acervo de 50 mil espécies de plantas estudadas e outras 20 mil aguardando análise.
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Sem condições financeiras de aumentar a estrutura por conta própria, a instituição rendeu-se aos apelos da construção civil e pretende aceitar a derrubada de parte do imóvel em troca de um novo espaço. Para os responsáveis pelo patrimônio de Itajaí, o impasse está na escolha entre preservar o casarão histórico, construído na década de 40, ou o acervo do herbário.
– Não há dúvida de que a derrubada do casarão seria uma perda, é um imóvel incorporado ao cenário urbano de Itajaí. O ideal seria que se preservassem as duas coisas, mas hoje isto é conflitante – diz Antônio Carlos Floriano, superintendente da Fundação Genésio Miranda Lins.
Segundo Jurandir de Souza Bernardes, um dos responsáveis pela administração do herbário, o projeto do novo prédio foi feito por uma construtora de Balneário Camboriú, cujo nome é mantido em segredo. A proposta inclui a construção de um edifício de 20 andares, com espaço subterrâneo para estacionamento, e a manutenção da fachada do herbário, que servirá como entrada para o edifício.
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O jardim lateral da instituição, que contém um exemplar de pau-brasil, também será mantido. Em troca, a instituição teria uma nova sede, no mesmo local, e 30 a 40 salas para alugar – o que poderia garantir suporte financeiro para dar seguimento às atividades.
Hoje, de acordo com Bernardes, o único recurso fixo do herbário é um repasse anual de R$ 20 mil, da Prefeitura de Itajaí. O restante vem de contribuições esporádicas de entidades privadas.
Meio-termo
Dentro da construção, a falta de espaço é visível: a biblioteca, por exemplo, está dividida entre o andar superior e o térreo, e não há lugar para novos volumes. Embora seja antigo e faça parte do entorno da Igreja Matriz, o casarão que abriga o herbário não é tombado pelo patrimônio histórico.
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Desta forma, não há ilegalidade na demolição do prédio. O entrave está no fato de o terreno ter sido doado ao herbário pelo município, na década de 40. No ano passado, o Conselho Municipal do Patrimônio Cultural deu parecer contrário à demolição do prédio e construção de um novo edifício.
– Devido à inviabilidade econômica do herbário, precisamos achar um meio-termo. O herbário é importante para a cidade e precisa de ajuda, então todo mundo deveria ajudar – diz a arquiteta Luciana Coelho de Souza Ferreira, conselheira e fundadora do Instituto Preservar, que trabalha pela manutenção do patrimônio na cidade.
O instituto comprometeu-se a fazer um estudo de parâmetros construtivos da área, para avaliar a viabilidade de construir um prédio no terreno sem interferir no casarão atual. A avaliação ainda não tem data para começar.
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Herbário ameaça doar acervo
O acervo do Herbário Barbosa Rodrigues inclui espécies recolhidas em todo o Estado, por 70 anos. A instituição foi fundada pelo padre Raulino Reitz, botânico e pesquisador que chegou a dirigir o Jardim Botânico do Rio de Janeiro na década de 70. Os espécimes recolhidos por ele permanecem ainda hoje no acervo. Muitos deles recolhidos no Morro do Baú, na reserva mantida pela instituição.
– Há outros herbários no Estado, mas a diferença é que o de Itajaí tem um acervo histórico – diz a bióloga Daiane Martins Freitas, que trabalha no local.
Entre as plantas arquivadas no herbário, 328 foram catalogadas pela primeira vez no Barbosa Rodrigues. Além de pesquisar quais são as espécies encontradas no Estado – o que auxilia em restauro de áreas degradadas, trabalhos de educação ambiental e ecologia, o herbário também é responsável pela edição da Flora Ilustrada Catarinense, fascículos atualizados com as descobertas dos pesquisadores, e pela revista científica Sellovia, publicada pela última vez em 2011.
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– Nosso estatuto prevê que se herbário for extinto, o acervo será doado para outra instituição. Se não houver uma solução, tiramos o acervo de Itajaí – afirma Jurandir de Souza Bernardes, responsável pela administração do herbário.