A população de São José que necessita registrar boletins de ocorrência (BOs), após às 19h, em alguma das sete Delegacias de Polícia do município deve, obrigatoriamente, dirigir-se à Central de Polícia, no prédio da 2ª DP, em Barreiros.

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Desde janeiro, todas as DPs da cidade têm fechado as portas para o atendimento e mantido apenas um policial civil de plantão para realizar a segurança do patrimônio. O motivo, segundo o delegado regional de São José, Fabiano Ribeiro da Rocha, é a falta de efetivos.

– Estou concentrando esforços. Não tem porque deixar uma pessoa em cada DP, registrar um BO e arquivar o documento. Não tenho como sequer manter um delegado em cada unidade para dar prosseguimento à investigação de um crime grave. De que adianta ter a 3ª DP com dois plantonistas e acontecer um homicídio? Cadê o delegado para ir ao local da ocorrência? – explica o delegado regional, que foi empossado em janeiro deste ano e logo aplicou a medida.

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Na Central, Fabiano estabeleceu uma escala à noite com quatro investigadores, um escrivão e um delegado – a partir do quadro atual de policiais que trabalham no dia a dia em São José. Aos fins de semana e feriados, há um reforço na parte escriturária e outro delegado. Ele ainda ameniza a situação:

– Coisas mais simples, como perda de documentos, podem ser feitas no dia seguinte ou pela internet. A medida tem surtido efeito com a centralização no registro de BOs, que não têm ido para a gaveta – garante, e acrescenta que a solução de crimes e a emissão de mandados de prisão praticamente triplicou desde janeiro.

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O agente Anderson Amorim, que preside o Sindicato dos Policiais Civis de Santa Catarina (Sinpol-SC), concorda em partes com a medida.

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– É uma solução que ainda preza bem pelo bem público e dos profissionais. Mas há desvio de função. Quem fica nas DPs fechadas, em vez de apurar fatos criminosos, cuida da segurança de um patrimônio locado. É um desperdício de dinheiro público – arrisca.

Defasagem de policiais civis em SC é de 45%

Segundo informações da Secretaria de Segurança Pública (SSP), Santa Catarina trabalha hoje com 55% da quantidade ideal de policiais civis. São 3.310 contratados frente à necessidade de 5.997 profissionais. Os números de efetivos alocados em São José não foi revelado pela Polícia Civil.

De acordo com o delegado Fabiano, o concurso público da SSP aberto em 2014 e que está em fase final pode aliviar a situação. São 340 vagas para agentes e 66 para delegados para todo o Estado. Ele prefere não arriscar um número de policiais que deveriam ser contratados a fim de preencher a falta de profissionais, mas reconhece a defasagem, não só em São José, mas em todo o Estado:

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– Seria excelente se pudéssemos ter uma equipe igual à da Central de Polícia em cada delegacia, né? Talvez após o concurso possamos voltar a abrir todas as delegacias – pontua.

Em Florianópolis, a situação se repete: desde fevereiro, todas as ocorrências da Capital registradas das 18h às 8h são encaminhadas apenas para as centrais da Polícia Civil – Central e Central do Norte, nos prédios da 1ª DP e 8ª DP, respectivamente. Em abril, a situação se agravou. As duas centrais foram unificadas e apenas a 5ª DP, na Agronômica, passou a funcionar em sistema de plantão.

O presidente do Sinpol-SC, Anderson Amorim, acrescenta outros dois problemas:

– Além da falta de efetivos, impactada por 50% estar prestes a se aposentar, falta capacidade administrativa na Polícia Civil, que não possui administradores nos cargos de liderança. A insalubridade nos postos de trabalho também faz com que os policiais deixem os cargos – garante.

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Concurso público em fase final promete amenizar situação

Os 406 profissionais aprovados no concurso aguardam chamada do Governo do Estado para início da capacitação, que depende de aprovação da Secretaria da Fazenda em relação à arrecadação. O curso dura quatro meses e, após esse período, o Estado fará uma análise técnica da realidade de cada município para, então, definir a alocação dos novos policiais.

Por isso, segundo a assessoria de comunicação da Polícia Civil, não há como precisar agora o número de profissionais que serão enviados para São José. Desde 2010, o concurso da Academia de Polícia é estadualizado a fim de flexibilizar a contratação, segundo o órgão.

Em nota, o delegado geral adjunto da Polícia Civil, Marcos Flávio Ghizoni Jr, disse que 977 candidatos foram aprovados e, por isso, mais de 406 policiais podem ser chamados. Tudo dependerá do orçamento do Estado e, principalmente, da realidade da segurança pública de Santa Catarina no próximo semestre.

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– Mesmo contratando todos os aprovados, o que é praticamente impossível, ficamos aquém da necessidade local – garante o presidente do Sinpol, Anderson Amorim.