Capaz de duplicar a produção de petróleo no Brasil, a área de Libra será explorada por um consórcio dominado pela Petrobras, com participação de quatro das 10 maiores petroleiras do mundo.
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O resultado do leilão realizado nesta segunda-feira no Rio de Janeiro polarizou reações: houve comemoração pela fatia abocanhada por duas grandes companhias privadas de países desenvolvidos – a anglo-holandesa Shell e a francesa Total -, mas também preocupação com a falta de concorrência.
Encerrado o rápido leilão, que durou pouco mais de trinta minutos – a maior parte dedicada a saudações e a explicações sobre as regras -, o ministro de Minas e Energia, Edison Lobão, foi taxativo:
– Não há nenhuma frustração com o resultado do leilão.
Foi preciso reafirmar porque, ainda que o governo tenha conseguido atrair um grupo disposto a desembolsar R$ 15 bilhões de bônus e aceitar as decisões da Petrobras, chegou a haver temor de leilão “deserto” (sem propostas). Um lance único arrematou a área com até 12 bilhões de barris. Sem concorrentes, não precisou aumentar a oferta de entregar 41,65% do óleo-lucro ao governo, a mínima prevista no edital.
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– Nós precisávamos que tivesse um consórcio vencedor, e tivemos. Vamos receber R$ 15 bilhões e até 70% de rendimentos para o governo federal – afirmou Lobão.
Sobre o leilão de Libra
>> Os argumentos a favor e contra o leilão da área de Libra
As horas que precederam o leilão foram tensas, sob risco de ausência total de competidores, conforme especialistas e fontes do governo. Às vésperas da disputa, a Petrobras teria sido chamada pelo governo para preencher uma lacuna na formação do consórcio, elevando sua participação dos 30% exigidos por lei para 40%. Uma das preocupações que antecederam o leilão – o peso dos chineses, que poderiam pressionar por levar a construção de plataformas para seu país – também foi suavizada.
– Ao que tudo indica, a Petrobras topou aumentar a participação para permitir a formação do grupo. Os investimentos em Libra são muito altos, e as condições afastaram algumas das maiores empresas do setor – avalia Marco Aurélio Tavares, consultor na área de petróleo da Gás Energy.
No futuro, o governo poderá rever alguns pontos do modelo da partilha, admitiu Lobão. Mais tarde, o ministro da Fazenda, Guido Mantega descartou a hipótese, ao menos a curto prazo. Conforme especialistas, os pontos passíveis de mudança para a próxima disputa – que conforme o governo não deve ocorrer antes de 2015 – são o percentual de óleo-lucro para o governo, o papel da Petrobras como operadora única e restrições para a composição dos consórcios.
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– Libra foi um caso especial, uma área onde se sabia haver muito petróleo, o que tornou o leilão caro. Nas próximas áreas do pré-sal, o governo poderá rever a participação da Petrobras, pois há empresas privadas capazes de fazer a operação – analisa Jean-Paul Prates, diretor-geral do Centro de Estratégias em Recursos Naturais e Energia (Cerne).
A formação do consórcio para explorar e produzir em Libra, com cinco das 10 maiores companhias de energia do mundo conforme ranking da consultoria internacional PFC Energy, teve um equilíbrio favorável à exploração e produção de petróleo, considera Prates. O mercado deu sinais de ter aprovado a participação da Petrobras no grupo: as ações da empresa subiram em torno de 5% no pregão de ontem da Bolsa de Valores de São Paulo.
O bloco vencedor
As empresas, o país de origem e a participação no consórcio
Petrobras/Brasil (40%)
Além dos 30% que tinha direito por lei, ficou com mais 10% do consórcio. Vai controlar as operações no pré-sal, o que significa definir o ritmo da exploração e o destino das encomendas. Como está fragilizada pela política de preços do governo, tem capacidade de investimento restrita e precisava de parceiros sólidos. Conforme o ranking da consultoria PFC Energy, é a sétima maior empresa de energia do mundo.
Shell/Grã-Bretanha e Holanda (20%)
É uma das empresas pioneiras em exploração de óleo e gás em águas profundas. Foi a primeira empresa petrolífera internacional a produzir em escala comercial no Brasil. Opera atualmente nos campos de Parque das Conchas, no Espírito Santo, e Bijupirá & Salema, no litoral fluminense. É a terceira no ranking da PFC.
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Total/França (20%)
Dona da marca Elf, voltou a atuar em exploração no Brasil este ano, em consórcio com a Petrobras e outras empresas. É a quinta maior companhia de gás e óleo do mundo, operando em mais de 130 países e contando com mais de 97,1 mil funcionários. Realiza atividades em cada fase da indústria petrolífera.
CNOOC/China (10%)
A sigla vem de China National Offshore Oil Corp. A empresa, que além da Ásia atua na África, América do Norte, América do Sul, Oceania e Europa, soma 10 mil funcionários. É a décima maior companhia de energia do mundo.
CNPC (Petrochina)/China (10%)
É a maior entre as chinesas. Em valor de mercado, é a maior do mundo, com ações avaliadas em US$ 1 trilhão. A empresa já explora petróleo em 30 países. Entre todos os seus ramos de negócios, alcança quase 70 nações.
*Com agências
Colaborou Caio Cigana