Um golpe que está sendo aplicado no Rio Grande do Sul em usuárias de redes sociais e sites de relacionamento tem chamado a atenção das autoridades. Um homem que afirma ser soldado das forças armadas norte-americanas em ação no Afeganistão, busca aproximação com mulheres, conquista a confiança delas e, após semanas de trocas de mensagens, pede que lhe enviem dinheiro.
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Uma moradora de Canoas, cidade que fica na região metropolitana, próxima de Porto Alegre, e que pediu anonimato, não chegou a cair no golpe. Ela tem 58 anos e conta que, no final do ano passado, começou a se comunicar com o suposto militar dos Estados Unidos em um site de relacionamentos. A troca de mensagens foi em português.
— Nas primeiras conversas, falou de assuntos interessantes. Então, passamos a nos comunicar via WhatsApp — contou a vítima.
Segundo a mulher, o suposto soldado disse que perdeu os pais quando era criança e que cresceu em orfanato. Disse que sairia do exército norte-americano e que, quando isso acontecesse, moraria no Brasil, “coincidentemente” na cidade de Canoas, onde reside a vítima.
— Depois de umas duas semanas de conversa, me disse que tinha de resolver um problema, mas que, por medo de me perder, não me contaria qual. Eu insisti para que me dissesse, pois, caso contrário, não falaria mais com ele — relembra a mulher.
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O suposto soldado alegou que, em um palácio da capital afegã, Cabul, ele e colegas encontraram uma fortuna e, mediante pacto, decidiram dividir o dinheiro. Ele ficaria com US$ 5 milhões (R$ 18,65 milhões). O valor sairia clandestinamente do Oriente Médio e, para isso, ele necessitaria da ajuda da vítima gaúcha.
— Alegou que enviaria os US$ 5 milhões numa caixa. Mas, para isso, precisaria pagar US$ 807 (R$ 3 mil). Então, queria que eu depositasse esse valor para ajudá-lo. Disse que se eu fizesse isso,me daria US$ 1 milhão (R$ 3,72 milhões). Percebi que era golpe e falei para ele que não tinha como ajudá-lo — conta.
De acordo com a mulher, o suposto soldado fingiu entender as alegações dela, mas não deixou de contatá-la. Dias depois, voltou ao assunto.
— Insistiu novamente para que eu fizesse o depósito. Disse que só confiava em mim para dividir o segredo. Imagina, nos falávamos há duas semanas por WhatsApp e ele já confiando tanto em mim. Estava na cara que era golpe. Decidi bloqueá-lo — conta.
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A delegada gaúcha Larissa Fajardo, que já investigou casos em que pessoas foram enganadas pelo falso soldado, afirma que a primeira suspeita era de que havia uma quadrilha por trás da fraude. Com o andar da apuração, a polícia constatou que uma única pessoa pratica o golpe.
— Tivemos várias ocorrências em que idosas se envolveram emocionalmente e realizaram depósitos vultosos para o golpista. Infelizmente, não houve avanço na investigação e não foi possível identificá-lo, nem de onde ele age — afirma a delegada.
Vítima diz que depositou R$ 20 mil ao vigarista
Viúva e moradora de São Leopoldo, que fica cerca de 19 quilômetros da capital do RS, uma mulher não percebeu o golpe e acabou sendo vítima. De acordo com relato feito por ela ao colunista do jornal Diário Gaúcho, Gugu Streit, por cerca de dois meses comunicou-se por redes sociais com um homem que também se apresentou como soldado norte-americano, solteiro, pai de uma menina e em missão de paz no Líbano.
O golpista alegou que sua filha estava com grave problema de saúde nos Estados Unidos e que, por estar no Oriente Médio, não tinha como ir à agência bancária fazer transferência de valores. Desta forma, teria conseguido convencê-la a depositar R$ 20 mil em uma conta fornecida pelo suposto soldado. Quando percebeu que havia sido enganada, o falso soldado a bloqueou em seu perfil.
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A mulher disse ao colunista que, por vergonha, não registrou ocorrência e não contou aos filhos que havia caído no golpe.