Com um filho cadeirante e uma filha parcialmente cega a aposentada Leoni de Oliveira, 78 anos, busca maneiras de driblar a falta de água no morro Dona Edith, no bairro Velha Grande, em Blumenau, que dura quatro dias. Um barril com água captada da chuva ajuda na limpeza e no banheiro. Um galão serve para cozinhar e a família também economiza para beber. A situação faz a aposentada ter vontade de procurar outro lugar para viver:

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– Eu estou fazendo planos de ir embora, porque a gente mora na cidade grande mas não tem nem água, assim fica muito difícil.

Sem uma gota cair pelas torneiras da casa desde quinta-feira. Na noite de sábado a paciência acabou. Cansados pela falta de abastecimento, cerca de 300 moradores da região protestaram trancando a rua José Reuter, principal via de acesso ao morro, em dois pontos. Os manifestantes colocaram fogo em pneus, colchões e pedaços de madeira e tiveram que ser contidos pela Polícia Militar. A água, que começou a faltar na quinta-feira, segundo os moradores, estava sendo reposta com caminhões-pipa durante o fim de semana. Segundo o Serviço Autônomo de Água e Esgoto (Samae), o abastecimento deverá normalizar segunda-feira de madrugada. Sem água até o final da tarde de domingo, a operadora de máquina Berenice Erzinger, 34 anos, tentava pensar numa solução para o banho de segunda-feira, às 3h da manhã, quando precisaria sair para o trabalho, pois no sábado e no domingo já tinha encontrado outras formas de driblar o problema de abastecimento. Mesmo assim, a conta do primeiro mês do ano já chegou – e com reajuste:

– Antes eu pagava R$ 32, mas subiu e este mês já veio R$ 45 e falta água todo fim de semana. Agora estamos comprando para beber e cozinhar, e os vizinhos acabam dividindo com quem não tem condições de comprar, mas é um absurdo, a gente já chegou a ficar 15 dias sem abastecimento.

Bica é recurso de emergência

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Na rua José Reuter a dona de casa Maria das Graças do Nascimento, 64 anos, enche balde atrás de balde na bica que fica em frente a sua casa. A água que verte da terra foi encanada para facilitar o acesso de quem precisa recorrer à pequena fonte, mas não pode ser utilizada para qualquer finalidade. Com o calor que fazia domingo à tarde, além de encher baldes, muitas pessoas que passavam a pé paravam para se refrescar, e inclusive crianças bebiam da água, enquanto ratos passavam ao lado do cano em direção ao mato. Mesmo assim, dona Maria diz que esta é uma das poucas opções que restam quando o abastecimento do Samae acaba.

– Acho que já enchi mais de 100 baldes hoje (domingo). Estou limpando a casa o dia inteiro, porque queimaram colchão, pneu, tudo aqui na frente. Cada carro que passa levanta a sujeira preta (fuligem) e entra na casa de novo – conta ela, que diz ser a favor dos protestos, mas sem confusão.

– Está certo pedir, mas eles já fizeram o ano passado e não teve essa bagunça. Depois todo mundo fica sofrendo com a sujeira da queima de pneus e nem temos água para limpar.

Edemar Teixeira, motorista do caminhão-pipa do Samae que abastecia o morro Dona Edith ontem à tarde, disse que desde sexta-feira foram levados mais de 100 mil litros de água até o local.

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