O impacto da divulgação de notícias falsas, as chamadas fake news, volta a ganhar força no país com o início da campanha eleitoral. Os conteúdos de desinformação são vistos como riscos à democracia porque podem deixar a disputa desigual e interferir com dados equivocados na decisão de voto do eleitor. Escapar desse processo tem exigido desconfiança dos usuários e ações firmes de instituições e da Justiça Eleitoral.
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Ainda que boatos e informações falsas fossem situações eventualmente presentes em eleições, eles foram elevados a uma nova condição nos últimos anos. O termo fake news entrou de vez para o vocabulário geral a partir das eleições americanas de 2016, e foi tema delicado também na disputa presidencial no Brasil, em 2018. Denúncias sobre disparos de mensagens em massa por aplicativos como o Whatsapp foram registradas, e a prática foi oficialmente proibida pela Justiça Eleitoral para a disputa em 2022.
Neste ano, o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) lançou uma campanha permanente de combate à desinformação, que já tem mais de 150 instituições parceiras. A corte já registrou mais de 1,9 mil denúncias de conteúdos falsos sendo compartilhados nas redes. E a tendência é que a situação piore nas próximas semanas, com o acirramento da campanha política.
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— Desde novembro, já vínhamos fazendo esse acompanhamento, mas já deu para ver que nos últimos dias, com as candidaturas regularizadas, o conteúdo [falso] cresceu bastante — explica o jornalista Sérgio Lüdtke, editor-chefe do Projeto Comprova, coalizão de veículos de comunicação de todo o país que inclui a NSC e atua na checagem de conteúdo.
A desinformação correu solta também na pandemia de Covid-19, com desinformações de todo tipo sobre contágio e vacinas. Segundo Lüdtke, esse período serviu como uma espécie de “pós-graduação” a quem produz conteúdos falsos e fortaleceu a prática.
— Vários dos grupos ativos politicamente que produziram desinformação na pandemia tiveram tempo para cooptar pessoas, produzir conteúdos falsos com tempo para testar melhores formatos, abordagem, puderam sofisticar um pouco formatos e o tipo de mensagem — aponta.
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Com a pandemia como preliminar, as fake news podem aparecer em roupagens diferentes no processo eleitoral de 2022. Uma das preocupações dos especialistas é com a chamada diversidade de plataformas. Com a pressão sobre redes sociais como Whatsapp, Facebook e Instagram, elas tomaram providências que, se não resolveram o problema, ao menos minimizaram a divulgação de conteúdos falsos nessas redes.
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Contudo, isso estimulou o uso de variadas ferramentas e formatos para quem desejava continuar disseminando fake news. Uma das linguagens mais usadas tem sido a do vídeo, que facilita o trabalho de despertar reações e emoções no espectador — estratégia adotada para impactar o usuário, convencê-lo e encorajá-lo a compartilhar o conteúdo.
Sofisticação dos conteúdos é esperada para 2022

O bibliotecário e mestre em Gestão da Informação Leonardo Ripoli coordena a Comissão de Confiabilidade Informacional e Combate à Desinformação no Ambiente Digital (Cidad), projeto da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) selecionado como parceiro do Supremo Tribunal Federal (STF) em um programa de combate a conteúdos falsos criado pela corte. Ele confirma que o cenário em 2022 é outro, por haver mais conhecimento sobre mecanismos de disseminação, que por sua vez também estão mais refinados.
— De lá pra cá houve a popularização de plataformas como o Telegram e o TikTok, por exemplo, e o crescimento do WhatsApp, que contribuíram no consumo de conteúdos mais curtos e diretos e, portanto, possibilitando um terreno fértil para vídeos e áudios recortados, descontextualizados ou com falsa atribuição de autoridade — afirma.
Outra adaptação de quem produz as notícias falsas é uma espécie de ‘sofisticação’ nos conteúdos. A manipulação de vídeos com uso de trilha sonora de outra filmagem, com um contexto diferente e que pode prejudicar algum candidato, por exemplo, já foi artimanha usada em materiais recentes. As chamadas deepfakes — vídeos em que o rosto e a voz de uma pessoa são inseridos no corpo de outra, com uso de inteligência artificial — são outro formato que pode ser usado nesta campanha.
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O editor-chefe do Comprova cita também que para grupos já alinhados com determinado candidato, nem sempre é necessário produzir conteúdos com dados para “confirmar” alguma teoria. Levantar dúvidas já tem sido suficiente em grupos com predisposição a alguma candidatura.
Recomendação é desconfiar
O professor de Administração Pública Daniel Pinheiro, coordenador do programa de Educação e Cultura Política da Esag Udesc, outra instituição catarinense parceira no projeto de combate à desinformação do STF, acredita que a disseminação de notícias falsas ocorre em um contexto de tentativa de desconstrução de instituições, com ataques à urna eletrônica, ao Supremo e ao TSE.
— Nesse período de pré-campanha, os ataques são mais velados, mas a gente está vendo aumento da robotização de mensagens, de perfis falsos na internet. Se o TSE não tiver medidas próprias, como está prometendo ter, vamos ter problemas, porque isso influencia diretamente o voto, especialmente nas camadas mais desassistidas da população — avalia.
Do ponto de vista do usuário, a desinformação pode se apoiar até na ingenuidade. Um usuário recebe uma mensagem e, sem saber se ela é verdadeira, decide compartilhar no grupo de amigos do futebol, da igreja ou de outro círculo social.
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— Esses amigos me dão confiança de que é verdade, e aí eu repasso adiante. Até a origem dessa informação ser capturada, ela muitas vezes já foi disseminada — afirma Pinheiro.
O doutor em Comunicação e Linguagens, Moisés Cardoso, diz que o estímulo para esse compartilhamento pode ser o desejo de engajamento nas suas redes sociais ou algo que provoque um sentimento de vulnerabilidade. Por exemplo, ameaças de ditaduras, de regimes socialistas ou riscos mais próximos da vida real, como o desemprego.
Por trás desse percurso que tenta despertar essas reações, há um verdadeiro ecossistema com pessoas que produzem conteúdos de desinformação, com fins financeiros ou políticos. Por isso, a dica principal é desconfiar e checar.
— Todas as vezes que eu estiver em dúvida se aquele conteúdo é verdadeiro ou não, eu não passo adiante, e também não devo usar meus grupos de informação para ‘checar’ informação, como a pessoa que às vezes manda para a frente e comenta: “Não sei se é verdade”. Porque quem está do outro lado pode não entender muito bem, e tomar como verdade — orienta.
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Como denunciar ao TSE
O TSE criou um programa permanente de combate à desinformação. Usuários que recebam conteúdos suspeitos podem denunciar pelo Sistema de Alerta, lançado em julho deste ano, no site https://www.tse.jus.br/eleicoes/eleicoes-2022/sistema-de-alerta.
Denúncias de fake news ao TSE
1.744 no YouTube
64 no Twitter
50 no Facebook
23 disparos em massa pelo WhatsApp
13 no Instagram
8 no Tik Tok
4 no Telegram
3 no Kwai.
Total: 1.909 denúncias
* Dados até 2022, até 17 de agosto
Fonte: TSE
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