O cardápio do sistema prisional catarinense não é de abrir o apetite. O arroz precisa ser cortado de tão grudento e o frango é corado por fora e, de tão cru, vermelho por dentro. Trata-se da refeição oferecida pelo Estado, mas o preso pode comer melhor, desde que se alie às facções criminosas. Ser filiado dá direito a uma cama ao invés de passar a noite ao lado de um buraco cavado no chão usado como banheiro. Acima de tudo, garante a integridade física livrando o detendo de surras, violência sexual e morte.
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A miséria que impera nas cadeias alimentou a formação de organizações criminosas. A omissão do Estado abriu brechas para estas facções crescerem e fixarem as regras das cadeias. Com violência, elas provaram que desobedecer suas ordens pode significar estar na maca da enfermaria ou na mesa do Instituto Médico Legal. A retomada do controle das unidades prisionais é o primeiro passo para a solução do problema afirma Guaracy Mingardi, especialista em segurança pública, ex-diretor da Secretaria Nacional de Justiça e de Inteligência do Ministério Público de São Paulo.
Ele diz que, no contexto atual, o caminho natural de um preso recém-chegado a uma cadeia é se tornar integrante da facção para ter uma pena livre de violência. Acrescenta que, se nada for feito, a situação chega a um ponto em que ser batizado em uma facção se torna uma maneira de prevenção entre os criminosos. Explica que autores de crimes têm consciência que um dia passarão pela prisão e que garantir boa relação com o grupo que comanda as cadeias facilitará os dias trancados numa cela.
Bandidos mais fracos se
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submetem ao comando
A política catarinense aplicada nos últimos 20 anos de aumentar o tamanho das cadeias e misturar presos de diferente periculosidade levou a um cenário de aplicação da lei do mais forte e submissão dos bandidos menos perigosos conta Sandro Sell, professor de Criminologia da Univali. Ao longo dos anos, as lideranças se fortaleceram dentro das prisões porque não havia agentes prisionais suficiente para o serviço. Passou para eles indicar quem fica com as vagas de trabalho e na cozinha.
O ex-delegado da Polícia Federal – e homem responsável pela guarda de Fernandinho Beiramar durante um período que ele passou na cadeia – José Paulo Rubim lembra que toda a proteção e favores desfrutados pelo detento será cobrado pela facção após o retorno a liberdade. Uma das maneiras de acertar os favores é a cobrança de mensalidades. Guaracy declarou que quando o círculo de atuação das facções chega neste estágio, ou seja, ultrapassa os muros das cadeias, já se está em um segundo grau de poder da organização criminosa.
A afirmação preocupa porque em Santa Catarina usuários de drogas e traficantes com dívidas estariam sendo usados pelo Primeiro Grupo Catarinense (PGC) para os ataques. Outra ação na rua teria como comando a carceragem: a tentativa de bloquear a Avenida Ivo Silveira, em Florianópolis, terça-feira. A situação teria o envolvimento de familiares de detentos certos que seus parentes poderiam sofrer as consequências se a exigência não fosse atendida.
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