A execução do homem considerado o chefe do tráfico na fronteira do Brasil com o Paraguai, no Mato Grosso do Sul, no último dia 15 de junho, acendeu um guerra na região pelo posto deixado por Jorge Rafaat Toumani. Ele foi morto em um ataque que teve mais de 200 tiros na cidade paraguaia de Pedro Juan Caballero.

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A polícia local ainda não concluiu a investigação, mas aponta o envolvimento do Primeiro Comando da Capital (PCC) como uma das linhas de investigação. Por outro lado, os policiais agora monitoram quem deve assumir a chefia do tráfico na fronteira. Reportagem de 20 de junho do jornal ABC Color, um dos principais do Paraguai, aponta que o Primeiro Grupo Catarinense (PGC) é um dos envolvidos na disputa.

A publicação ainda diz que o Comando Vermelho (CV), facção carioca, e o PCC são os outros grupos postulantes ao domínio da região. PGC e CV tem relação antiga. No inquérito que apurou os ataques ocorridos em Santa Catarina em 2012 e 2013, a Polícia Civil catarinense relatou que as duas facções haviam se aproximado. O PGC teria usado a força e influência do CV para ter acesso a drogas e armas.

Arsênio Corrêa, chefe da Polícia Nacional Antinarcóticos, em entrevista ao DC por telefone, negou que até o momento haja envolvimento do grupo catarinense. Disse que nos próximos dias será possível apontar os responsáveis pela morte de Rafaat. Mesmo com a negativa da autoridade paraguaia, o crescimento do PGC na fronteira e até mesmo além dela é notória.

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Autoridades peruanas, em relatório de 2014 publicado pelo jornal local El Republica, apontam que o PGC era responsável por 60% da cocaína originária da região VRAE, um vale produtor de coca. O texto ainda afirma que a facção catarinense estava disputando espaço com o cartel mexicano, um dos mais perigosos do mundo, pelo domínio da área. A polícia peruana aponta Osmar de Souza Junior, 30 anos, como o chefe do PGC.

Conhecido como Pitão, ele foi preso pela primeira vez em 2009 por tráfico de drogas em Itajaí. Dois anos depois, fugiu do presídio regional de Itajaí ao fingir que estava doente para escapar da enfermaria. Preso em 2012 com 31 quilos de cocaína no Paraguai, ele voltou a fugir. Na Justiça catarinense, Pitão foi condenado a 10 anos de prisão por tráfico.

O relatório da polícia do Peru afirma que a droga obtida na região é enviada para Santa Catarina, Paraná e Rio Grande do Sul. A facção catarinense é apontada como responsável por 52 pequenas pistas clandestinas para pousos e decolagens de aeronaves que transportam a cocaína para fora do território peruano.

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Consultadas sobre o suposto do PGC no Paraguai e Peru, fontes das polícias Federal e Civil de Santa Catarina divergem sobre o assunto. Há delegados especializados em investigação sobre tráfico de drogas que não acreditam na possibilidade da facção ter força financeira para expandir os negócios com essa dimensão. Já policiais que no passado alertaram sobre presos que determinavam ordens de crimes nas ruas, suspeitam que essa possibilidade exista a partir de contatos dos líderes do PGC com chefes de outras facções em presídios federais.

Envolvimento de Pavão

Outro megatraficante internacional com forte ligação com Santa Catarina estaria envolvido na disputa pelo comando do tráfico de drogas na fronteira do Brasil com o Paraguai. O narcotraficante Jarvis Chimenes Pavão, natural de Ponta Porã (MS), é apontado pela polícia local como um dos suspeitos de ordenar a morte de Rafaat. A família de Rafaat disse nos últimos dias não acreditar nesse hipótese, pois as duas famílias são próximas.

A motivação de Pavão seria territorial. Ele desejaria expandir a venda de drogas e teria se unido ao PCC para tomar a região. O histórico de Pavão no mundo do crime tem passagem por SC desde o começo dos anos 1990, quando ele morou em Balneário Camboriú. Em 1994, chegou a ser preso em Balneário Camboriú com 25 quilos de cocaína. Depois, Pavão ganhou a liberdade, mas o cerco policial continuou.

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A investigação da Polícia Federal apontou que seria responsável por 80% do tráfico de drogas em Balneário Camboriú e Itajaí. De 1994 a 2000, policiais federais reuniram provas do envolvimento de Pavão com o tráfico de drogas e crimes de lavagem de dinheiro. Com a prisão preventiva decretada pela Justiça catarinense, Pavão figurava como um dos principais traficantes do Estado, segundo policiais. Mas ele fugiu pela mesma rota de onde mandava vir a droga: o Paraguai.

Em 2010 foi preso novamente e atualmente está na penitenciária nacional da Tacambu, em Assunção, capital paraguaia. Ele cumpre pena de oito anos, que deve terminar em 2017. Depois disso, deverá ser extraditado para o Brasil.