Detenho um recorde desde 1997, naquela Oktoberfest cujo cartaz deixou a cidade à beira de uma guerra civil por estampar um sujeito em traje típico fazendo um quatro. Lembram? Era a 14ª. Muita gente se ofendeu porque a peça enfraquecia o rótulo, algo cínico, de festa da família. Ora já se viu alguém testar a própria bebedeira num mês tão comedido no consumo de álcool, né? Mas não me arriscarei a escarafunchar as idiossincrasias de Blumenau, porque o Maicon Tenfen já esvaziou o tema.

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Falava de um feito pessoal. Bem, em 1997 fui o funcionário do Santa que mais vezes foi à falecida Proeb: 15 das 17 noites. Só faltei às duas segundas-feiras porque, se fosse, apesar do viço dos meus 24 anos completados naquele distante outubro, teria encontrado um destino que me impediria de estar aqui, 19 anos depois, escrevendo este texto.

Trabalhava pela manhã, dormia sonos convulsos à tarde e, quando o sol se escondia atrás dos morros, avançava a pé pela Humberto de Campos rumo a noites que seriam inesquecíveis, não fosse o chope em demasia ter nublado as experiências daquela jornada. Certamente trago em mim o calor do abraço de ébrios, a maciez de um beijo colhido nos pavilhões e fragmentos de coisas indizíveis protagonizadas antes de colocarmos a sobriedade em dúvida, fazendo um quatro.

Mas, no território destroçado pela amnésia imposta pelo álcool e sobretudo pelos anos, restam intocadas as memórias da ressaca. Foram 15 amanheceres em que teria preferido me submeter a um tratamento de canal sem anestesia a enfrentar os dissabores daqueles excessos juvenis. O som do gelo sobrevivente chocando-se nas paredes da caixa térmica, resultado de mãos alheias em busca da primeira cerveja matinal, até hoje é gatilho para me embrulhar o estômago.

Quase duas décadas depois, um domingo de eleição me devolveu a ânsia das manhãs da Oktoberfest de 1997. Porque, depois da turba com camisa da CBF clamando por retidão, depois da horda de políticos profissionais se descolando cinicamente da profissionalização da política, cresceu a esperança, vã, de o novo germinar. O que se viu foi o futuro repetir o passado.

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Não me atenho ao caso de Blumenau, porque a faixa etária dos candidatos nos leva a encarar o velho com uma oxigenação indevida. Também seria um exagero quase histérico justificar náuseas nos dois meninos. O que me aturde as vísceras é o fato deste retorno ao passado deflagrado no Brasil inteiro ter sido pavimentado pelo PT.

Durante a apuração, enquanto revirava os armários atrás de um Epocler, testemunhei meus antigos companheiros de passeata choramingando a derrota do Freixo no Rio de Janeiro. Como compartilhar desta desilusão se o bispo Crivella foi ministro da Dilma? Não há elementos racionais para sustentar a dor. É preciso recorrer a uma dinâmica parecida com a fé religiosa para isto.

O PT imitou os partidos que desta eleição saíram vitoriosos e acabou absorvendo, em si, todo o mal da política. A luta contra a corrupção se confundiu com o banimento da turma do Lula. E uma direita abençoada por Deus e feia por natureza urra.

Pensando melhor, as manhãs de outubro de 1997 foram mais agradáveis.