Embora uma cobertura paga com dinheiro alheio ao do jornal seja um tanto degradante à profissão, não quero aqui discutir ética jornalística. O que me espanta no episódio é o discurso corporativista em defesa de interesses pessoais, talvez desvio de uma sociedade cujos primeiros sindicatos foram tutelados por padres e políticos.

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Cursei Jornalismo e não recordo de nenhuma aula sobre o manejo de câmbio automotivo. Portanto, eu ou qualquer outro repórter está em tese apto a noticiar os lançamentos das montadoras.

O problema é quando esta necessidade biológica serve para legitimar calhordices ancestrais. Dia desses, um amigo, conversando com um sulista, recebeu o seguinte comentário sobre Machado de Assis:

— O cara era ótimo,apesar da epiderme.

Acho que toda mudança passa justamente pela importância de questionarmos o que sempre se fez. Não é digno viajar às custas de quem quer que seja, pois as consequências de favores,vemos agora, neste momento político, são sempre nefastas. Não é aceitável manobrar a linguagem para camuflar preconceitos

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Enfim, o setorista de carros e o interlocutor racista de meu amigo me põem a pensar sobre a mesquinharia da defesa de espaços falsamente seguros. Não há nada que não possa ser questionado, sobretudo se a inquietação nascer da melanina.