Por que só homens e mulheres brancas de classe média defendem a truculência policial como estratégia de segurança? Ou melhor: Por que negros e pardos dos bairros pobres não concordam com o “bandido bom é bandido morto”?
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Por que só homens que se julgam heterossexuais e intelectualmente simplórios se prestam ao miserável papel de tietes do Bolsonaro?
Por que petistas insistem na cantilena da luta de classes, se em 14 anos de governo a elite manteve impávida a concentração de riqueza, inclusive a ponto de distribuir presentes aos companheiros?
Por que pedalinhos fazem de Lula o maior ladrão da história deste país, quando os milhões e milhões da banda azul são encarados como meros pedalinhos?
Por que os partidos nos colocaram nesta hedionda competição de quem rouba mais?
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Por que, quando se trata de manter o poder pelo poder, os governistas do governo deposto atropelam a agenda feminista e dos gays com a volúpia de um bolsonarista?
Por que há tanto cínico requerendo isenção quando toda a crítica, normalmente carregada de senso comum, suplicante por originalidade, se dirige obsessivamente a um lado só?
Por que alguns insistem na bipolarização política, chantageando que a omissão significa adesão involuntária ao mais forte, se ambos os lados hegemônicos apodrecem a olhos vistos, levando com eles nossos sonhos juvenis?
Por que desaforos de ordem estética contra a presidente Dilma, um subproduto nauseante do machismo, são dirigidos a uma ministra do STF quando o comportamento desagrada os governistas do governo deposto?
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Por que a imbecilizante onomatopeia mimimi só é empregada por gente de vocabulário pobre que vê os próprios privilégios encolhendo?
Por que diabos em 2016 um homem se sente confortável para conjugar o verbo “ajudar” quando lava louça ou cuida dos filhos?
Por que implicamos com os vegetarianos, se só eles estão fazendo alguma coisa para amenizar a crueldade resultante da falsa necessidade de se produzir carne em volume e velocidade selvagens?
Por que quem morre de amores por Miami não enxerga graça alguma em Montevidéu?
Por que os países com o maior índice de felicidade cientificamente medida têm as menores delegações nas Olimpíadas?
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Por que imagino leitores contando quantas alfinetadas travestidas de perguntas dei à direita e à esquerda neste texto?
Por que reincidimos no erro de tratar a vida como uma ciência exata, na qual uma certeza frágil conta mais que uma dúvida profunda?