1) Muita magreza. Mas que esta magreza seja um veículo de bem-estar e autoestima, uma oportunidade de vestir aquela calça jeans esquecida no guarda-roupa ou amarrar os tênis sem ficar à beira de uma asfixia. Porém, se esta magreza for apenas para trocar um vazio (neste caso de camadas adiposas) por outro (o existencial, mais profundo e complexo), esqueça a dieta e corra para o divã.

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2) Muita clarividência para que a dinâmica machista não nos roube o discernimento. Vocês certamente ouviram falar da Fabíola, aquela bancária mineira que saiu para fazer as unhas e acabou flagrada num motel com o melhor amigo do marido? Pois bem. Vi muita gente, inclusive meninas, recorrendo rapidamente aos adjetivos “vagabunda” e “vadia”, como se todos fôssemos íntegros e castos como uma Irmã Dulce. Mas poucos estranharam a liberdade desfrutada por um homem, no século 21, para espancar a mãe dos próprios filhos, filmar e ainda subir o vídeo como forma de vingança. Em resumo, desejo que o nosso 2016 seja pleno da consciência de que pessoas não são propriedade, que os afetos precisam ser diariamente renovados e conquistados. E que a posse de um pênis não nos dê uma condição moral superior, tampouco salvo-conduto para fazer livremente aquilo que, nas mulheres, condenamos. Enquanto não dermos este passo, o calendário estará em 2016, mas não teremos saído da Idade Média.

3) Muita transparência com quem nos relacionamos. Às vezes dói encarar os problemas, a saída pela tangente parece sedutora e confortável, a anestesia de um porre alivia temporariamente a angústia. Mas em quatro décadas vagando sobre a face da Terra ainda não vi nenhuma relação realmente sincera se consolidar no pacto de silêncio entre covardes. Por isto desejo um 2016 de muita DR para todos, não aquela improdutiva, que fica orbitando na toalha molhada deixada sobre a cama, mas a franca, zelosa com tom e palavras, que nos faz avançar como seres humanos, que amplifica o amor de quem já nos ama. Faça isto, a não ser que você seja eleito vice-presidente da República. Neste caso, cabe o recurso de escrever uma carta e “vazar” na imprensa.

4) Muito mais vida com menos coisas. Citações do uruguaio Pepe Mujica, o presidente mais pobre do mundo, adquiriram um verniz de clichê, algo enjoativo. Todos os românticos salivam por ele. Mesmo sabendo de tudo isto, relembro uma frase do velho: “Quando compramos algo, não estamos pagando em moeda corrente, mas com o tempo de vida que empregamos para ganhar aquele dinheiro.” Não sou tão zen assim, tenho a volúpia de possuir objetos, dias atrás transportei mais de 500 livros por 920 quilômetros quando todos caberiam em um leitor eletrônico, o tal do e-reader. Porém, mesmo sem dispor de moral para este tipo de recomendação, aconselho que vivamos mais em função das coisas que não se tocam – salvo a pele de quem amamos, durante um abraço.

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5) Muito senso crítico antes de sair aplicando listas de qualquer colunista mequetrefe, ok?

Um lindo 2016 para todos.