Blumenau conseguiu a proeza de complicar ainda mais o debate político ao testar a coerência das pessoas a partir de fundamentos da Física. Nem nas escolas se fala tanto em inércia desde que Dilma foi extirpada do Planalto. Há um estranhamento, sempre manifestado com hálito de pão com mortadela, sobre o sumiço daquela gente bronzeada que, com camisas da CBF, mostrou seu valor urrando pela saída do PT. Isto porque as micaretas patrióticas foram vendidas como um movimento contra a corrupção, apartidário, na base do “primeiro ela, depois os outros”.
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Depois que “ela”, cuja honestidade passou incólume por vazamentos seletivos da Justiça, foi deposta justamente pelos “outros”, só se ouve o barulho do escapamento dos carros nas ruas. Não se escutam mais xingamentos amparados no juízo estético da presidente, nem impropérios pouco honrosos dirigidos a mulheres. Ninguém mais grita contra a corrupção endêmica. A ruína do PT bastou para saciar a fome de retidão dos revoltados, on e offline. A julgar pelo silêncio às margens do Itajaí-Açu, passamos a viver na Suécia Sem Passaporte.
Ok, imagino que o leitor saciado com a corrosão do PT, tranquilinho com “tudo que aí está”, esteja, nesta parte do texto, louco para me mandar viver em Cuba. Ou então me insultar com aqueles adjetivos aprendidos com colunistas de revista semanal e repetidos feito papagaio com a empáfia de quem se julga inteligente, tipo esquerdopata e petralha. Peço paciência, que me deem uma chance. Meu raciocínio, a partir daqui, terá aroma de massa frita com recheio de frango com catupiry.
Fui radicalmente contra o impeachment, não por considerar o governo bom, pelo contrário, a presidente jamais foi a gerenta que jurava ser. Só acho que os subterfúgios encontrados para justificar legalmente a deposição jamais seriam aplicados contra políticos ideologicamente mais dóceis. Como sou ingênuo o suficiente para acreditar que a lei é igual para todos, não posso concordar com uma solução jurídica customizada.
Ocorre que o PT precisa parar de incomodar com esta cantilena de luta de classes. Foi o PT quem, lá em 2010, optou por uma aliança com um partido fisiológico e conservador, como o PMDB. Renegou os laços com partidos de mesma base ideológica, desses que cometem o desatino de votar moção de louvor ao ditadorzinho bipolar da Coreia do Norte, mas têm o mérito de habitar zonas de pensamentos vizinhas.
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Mas, ao se aliar com Temer por pragmatismo, o PT não apenas negou a luta de classes que pública e enfadonhamente diz promover como legitimou o poder hoje exercido pelo presidente que fala em mesóclises e tem uma mulher formosa – predicados que garantem sua popularidade com a turma com camisa da CBF que, hoje, tem preguiça de ir às ruas.
Pela estratégia que viria a lhe garantir a apertada vitória em 2014, o PT ingressou com láureas no clube dos partidos fisiológicos que desde 1889 estão no poder deste nosso Honduras de dimensões continentais.
O silêncio das ruas é culpa também dos petistas, que insistem neste fingimento de esquerda contra a direita, quando tangenciam este debate e se abraçam em qualquer um para ganhar eleição. O povo parece burro, se comporta como burro, mas às vezes dá lindas mostras de lucidez.