A fabricante da vacina indiana Covaxin, Bharat Biotech, anunciou nesta sexta-feira (23) que rescindiu um acordo que mantinha com a brasileira Precisa Medicamentos para trazer doses do imunizante ao país.

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Em comunicado, a empresa indiana diz que a rescisão tem “efeito imediato”. Na prática, a medida deve acelerar o cancelamento do contrato que o Ministério da Saúde mantém com a Precisa Medicamentos para obter 20 milhões de doses da vacina. O contrato já havia sido suspenso em junho.

Atualmente, a negociação para compra de doses da Covaxin é um dos principais alvos de investigação da CPI da Covid. Questionado, o Ministério da Saúde diz que ainda não foi notificado sobre o rompimento do acordo.

A parceria da Bharat com a Precisa e a empresa Envixia Pharmaceuticals foi firmada em 24 de novembro de 2020, por meio de um memorando de entendimento, informa a Bharat. O objetivo era trazer a vacina ao Brasil. O motivo do fim do acordo não foi divulgado.

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No documento em que anuncia a rescisão, a Bharat diz que, apesar da decisão, continuará a trabalhar com a Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) — para concluir processo de aprovação regulatória para a Covaxin.

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A empresa nega ainda ter assinado duas cartas que foram enviadas ao Ministério da Saúde e fazem parte do processo de negociação do imunizante. Os documentos estavam entre os materiais enviados pela pasta à CPI.

Em nota, a Precisa diz lamentar o cancelamento do acordo com o laboratório indiano, e atribui a medida ao — caos político que se tornou o debate sobre a pandemia. — Que deveria ter como foco a saúde pública, e não interesses políticos — disse a empresa.

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A Precisa ainda afirma que jamais praticou qualquer ilegalidade e que conduziu as tratativas para entrada da vacina no Brasil.

— Infelizmente, o resultado prático desta confusão causada pelo momento político do país é o cancelamento de uma parceria com o laboratório indiano que iria trazer 20 milhões de doses de uma vacina com comprovada eficácia (65,2%) contra a variante delta.

Deputado Luis Miranda em depoimento à CPI da Covid senta ao lado do presidente da comissão e de seu irmão. Ele está vestido de terno e gravata e aparenta preocupação
Denúncia dos irmãos Miranda à CPI da Covid, no final de junho, mostrou possíveis irregularidades na compra da vacina indiana Covaxin pelo governo federal (Foto: Pedro França/Agência Senado/BD)

A existência de denúncias de irregularidades em torno da compra da Covaxin foi revelada pelo jornal Folha de S.Paulo em 18 de junho, com a divulgação do depoimento sigiloso do servidor do Ministério da Saúde Luis Ricardo Miranda ao Ministério Público Federal, que relatou pressão “atípica” para liberar a importação da vacina.

Desde então, o caso virou prioridade da CPI no Senado. A comissão suspeita do contrato para a aquisição da imunização, por ter sido fechado em tempo recorde, em um momento em que o imunizante ainda não tinha tido todos os dados divulgados. A vacina, ao custo de US$ 15, também tinha preço superior a outras cujas propostas foram recusadas inicialmente pela Saúde, como a da Pfizer (ofertada a US$ 10).

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A crise também chegou ao Palácio do Planalto após o deputado federal Luis Miranda (DEM-DF), irmão do servidor da Saúde, relatar que o presidente Jair Bolsonaro havia sido alertado por eles em março sobre as irregularidades. Bolsonaro teria respondido, segundo o parlamentar, que iria acionar a Polícia Federal para que abrisse uma investigação, o que não ocorreu na ocasião.

Ao se manifestar sobre o tema após a revelação das denúncias, Bolsonaro primeiro disse que a PF iria abrir inquérito para apurar as suspeitas. Em seguida, afirmou que não tem “como saber o que acontece nos ministérios”.

No dia 30 de junho, a Polícia Federal instaurou um inquérito para investigar a compra da Covaxin pelo governo. No mesmo dia, também o Ministério Público Federal instaurou um procedimento investigatório criminal, conhecido internamente pela sigla PIC, para apurar as suspeitas de crime no contrato de compra. Um dia antes, o Ministério da Saúde havia anunciado a suspensão do contrato com a Precisa.

— Por orientação da Controladoria-Geral da União, por uma questão de conveniência e oportunidade, decidimos suspender o contrato para que análises mais aprofundadas sejam feitas — afirmou na ocasião o ministro da Saúde, Marcelo Queiroga.

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Em declarações recentes, Queiroga tem dito que o Programa Nacional de Imunizações “não precisa” mais das doses da Covaxin. Dentro da pasta, a equipe técnica também já se mobilizava para o cancelamento definitivo do contrato, firmado em fevereiro no valor de R$ 1,6 bilhão.

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Empresa nega autenticidade de documentos

Ainda no comunicado distribuído nesta sexta, a Bharat diz que o preço de US$ 15 a dose definido para a Covaxin no Brasil se baseia em um valor global definido para venda da vacina fora da Índia. Diz ainda que a empresa não recebeu pagamentos adiantados nem chegou a fornecer vacinas ao Ministério da Saúde.

A Bharat também contesta cartas que, segundo a empresa, têm sido distribuídas como se fossem de sua autoria.

Mulher de máscara segura frasco da vacina indiana Covaxin
Bharat Biotech, fabricante da vacina indiana Covaxin, anunciou que rescindiu um acordo que mantinha com a brasileira Precisa Medicamentos. As tratativas da Precisa com o governo federal são alvo de investigação da CPI da Covid (Foto: Prakash Singh/AFP)

Um dos documentos, enviado à CPI da Covid como parte do processo administrativo da negociação da vacina, diz que a Bharat autorizaria a Precisa a negociar com o Ministério da Saúde – a quem a carta é endereçada – “preços e condições de pagamento, assim como datas de entrega, e todos os detalhes pertinentes à operação”.

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O outro é uma “declaração de inexistência de fatos impeditivos”, que traz o símbolo da Bharat Biotech. Reportagem da CBN já havia apontado problemas nos documentos, como erros de inglês e no endereço do laboratório.

— Gostaríamos de ressaltar que esses documentos não foram expedidos pela companhia ou por seus executivos e, portanto, negamos veementemente os mesmos —
aponta a Bharat no comunicado.

A empresa diz ainda que todas suas ações, incluindo negociações em outros países, seguem “os mais altos padrões de ética e integridade”.

*Por Natália Cancian e Mateus Vargas

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