Até os 24 anos, Fabiana Nigol tinha um planejamento de vida que se assemelhava muito ao de seus colegas do curso de Comunicação Social em São Paulo: trabalhar em uma agência de publicidade e levar a rotina urbana que a metrópole oferecia. Hoje, passados 12 anos, rotina é uma palavra que não se encaixa ao mundo no qual a paulistana acorda durante a maior parte do ano.

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Desde que decidiu ouvir a intuição e seguir o sonho de adolescência, Fabiana largou a cidade grande para viajar pelo mundo com o marido, o surfista catarinense Everaldo Pato, e, mais recentemente, da filha Isabelle Nalu, de seis anos, atrás de ondas perfeitas. Para completar, o dia a dia incomum desta família é mostrado na TV pelo programa Nalu pelo Mundo, exibido pelo canal Multishow desde 2009.

Em Joinville para um bate-papo de Pato durante um evento de surfe, a família Nalu provou que suas mãos não se largam nem mesmo em compromissos de trabalho. Enquanto os pais cumpriam juntos a programação, Isabelle Nalu desbravava os corredores do shopping com as crianças joinvilenses que acabara de conhecer. É nesse clima de cumplicidade e liberdade que eles fazem o estilo de vida dar certo.

– A gente tem muito essa preocupação dos três estarem felizes. A partir do momento que um não está, a gente vai mudar, dar um jeito de fazer outra coisa – avalia Fabiana.

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Amor à primeira vista

A paixão que veio primeiro foi o surfe. Depois vieram o surfista, as grandes ondas, os campeonatos e uma surfistinha. Por fim, ela subiu numa prancha e começou a deslizar. Mas nada disso teria acontecido se Fabiana não estivesse “em um lugar onde não era para estar”, como ela mesma define.

Aficionada por surfe, do tipo que colava fotos do esporte na parede do quarto, a comunicadora se inscrevia para trabalhar em todos os eventos do tema, mas não conseguia a vaga porque, para os recrutadores, ela – muito loirinha – não tinha o “perfil do surfe”. Até o dia em que uma selecionada ficou doente e Fabiana foi substituir.

– Eu nunca acreditei em amor à primeira vista, nada disso, mas quando o Pato apareceu eu senti uma coisa tão forte, tão engraçada. Eu perguntei sobre ele para as minhas amigas – ninguém gostou dele, acharam que era arrogante – e eu falei “mas comigo ele foi tão querido!” A gente começou a se conhecer e acho que foi assim porque tinha que acontecer – recorda.

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Do primeiro contato, veio a inspiração para seguir os passos do surfista em uma vida de viajante. Fabiana vendeu o carro e planejou um curso de inglês de três meses na Austrália. Pouco antes da mudança, veio a surpresa: voltando da Indonésia, onde tinha ficado quase sem comunicação, Pato chegou com uma declaração e um pedido.

– Ele veio me procurar dizendo “você é a mulher da minha vida, quero te levar pro Havaí”. E eu: “não, mas agora já tá tudo planejado, eu tenho que ir pra Austrália”. Aí ele ficou meio chateadinho e a gente ficou um pouco distante. Mas eu gostava dele, a gente voltou a se falar, eu voei da Austrália para o Havaí em janeiro e em novembro a gente se casou – conta Fabiana.

Uma vida sem frescura

Hoje Fabiana leva crédito de apresentadora de programa de TV, mas quando chegou no Havaí, a vida não tinha nada de global. Ela foi babá e limpou casas até que o marido teve a ideia de fazer dela sua cinegrafista pessoal, projeto que culminou na execução do filme Nalu. Este, por sua vez, inspirou um diretor da Globosat a convidá-los para produzir a série Nalu pelo Mundo, que em outubro estreou sua sétima temporada. Em formato de reality show, o programa é gravado pela câmera de Fabiana, que registra os passos da família nas viagens de Pato para participar de campeonatos e buscar “picos” que rendam bons treinos para a evolução do surfista.

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Ao mesmo tempo, a filha do casal cresce e descobre o mundo com experiências diferentes da maioria das crianças. Ela aprendeu a mergulhar com as crianças de Papua Nova Guiné, conheceu as diferentes espécies de tartaruga ao pegar os filhotes com a mão e decidiu que seu animal preferido era o tubarão lixa depois de fazer carinho em um deles na Bahia.

Desde que decidiram ser pais, Fabiana e Pato sabiam que não deixariam a vida de viajantes e que o bebê seria criado na estrada. Por isso, Bellinha sempre ganhou mamadeira fria e sem esterilizar, tomou muitos banhos de caneca e nunca teve um berço. Enquanto ia sendo criada assim, sem frescura, Fabiana tentava educá-la sem traumas pela falta de conforto e horários.

– Eu li muito na gravidez e via que a coisa principal pra uma criança é ter rotina. E eu falei ‘como a gente vai fazer se a gente não tem casa, cada hora tá num lugar, não tem horário?’ Mas a rotina dela sempre foi essa vida maluca e ela se acostumou assim – conta Fabiana.

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Em compensação, a cada lugar por onde passam, a menina é matriculada em uma escola, nem que seja para passar alguns dias. E, quando chegam em casa, em Florianópolis, ela vai logo perguntando “mãe, para onde a gente vai hoje?”, à espera da próxima aventura.

– Eu acho que ela é uma criança com muita liberdade, não consegue ficar parada, tá sempre descalça. É diferente, mas eu fico feliz porque ela conversa com todo mundo, respeita as diferenças. Uma criança pobre que não tem nem o que vestir e uma criança que mora num castelo na Inglaterra pra ela é igual e isso é o que eu acho mais importante – afirma.

Os três, 24 horas

Durante a visita a Joinville, Bellinha passou discretamente pelo meio da multidão e foi perguntar à mãe se poderia aceitar o convite das crianças que também participavam do evento para dar uma volta. “Mãe, eu sou criança, não consigo ficar parada, preciso brincar” foi o argumento usado para ganhar a liberdade de sair correndo com as novas companhias.

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– Agora tá ótimo, porque ela cresceu, se vira sozinha, mas antes ela não conseguia ficar com ninguém, era só com a gente, sempre – observa Fabiana.

O conceito de família na “casa Nalu”, ainda que não seja plenamente tradicional, é mais forte do que em qualquer outro caso onde exista um lar fixo 365 dias por ano. Por estarem sempre na estrada, às vezes vivendo em motor homes, pousadas e até em bangalôs sem banheiro interno, e ainda trabalharem juntos, os três ficam grudados a maior parte do tempo.

Ainda assim, Fabiana percebeu que seus anseios e preocupações são iguais aos das outras mães e mulheres: a sensação de sufocamento, a vontade de ter mais liberdade e um tempo exclusivo para si mesma.

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– Eu senti falta disso quando a Bellinha nasceu, porque com o Pato, nós estávamos juntos, mas ele ia surfar e eu tinha aquela vida de dona de casa. Então eu sentia falta do meu tempo, de sair caminhando, como toda mulher, eu acho. Hoje eu procuro dar a minha saidinha, às vezes eu pergunto: “amor, amanhã tem onda? Não? Ah, então eu vou lá pro shopping e você cuida da Bellinha” – afirma.

Beleza na estrada

Quem vê Fabiana linda e loira na TV até no meio do deserto, pode achar que uma equipe de produção fica atrás das câmeras para fazer cabelo e maquiagem, mas o salão de beleza vai mesmo na mala. Nela, o principal item são os cremes e protetores solares – ela dá preferência para os coloridos, com tons de base, que já fazem as vezes de maquiagem.

– Uma coisa que eu não abro mão nessas viagens é dos meus cremes. Roupa eu posso deixar pra trás, mas os cremes eu não deixo. Eu espero chegar nos Estados Unidos para comprar, que é mais barato – segreda ela.

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Como qualquer mulher, Fabiana também se cobra mais cuidados com a malhação, mas não fica neurótica com a estética. Depois de gravar de manhã até a noite e ainda cuidar da casa e da filha, no máximo dá uma corrida na praia. E, para entrar nos moldes da família, sobe na prancha sempre que pode, ainda que também seja uma surfista sazonal.

– Eu brinco que surfo uma vez a cada temporada. Porque quando o mar tá bom, o Pato tá lá; quando o mar tá pequeno, a Bellinha vai surfar. E eu tenho que registrar. Então eu sempre surfo nas horas ruins e ninguém tá filmando, porque eu desliguei a câmera e caí na água – conta.