A extrema direita alemã reuniu nesta quinta-feira (30) 1.000 pessoas em Chemnitz contra a política migratória de Angela Merkel, depois de um assassinato ocorrido nesta cidade da ex-RDA, convertida em epicentro de protestos da ultradireita contra os estrangeiros e a chanceler.

Continua depois da publicidade

Diferentemente dos protestos anteriores, a manifestação, cheia de bandeiras alemãs, terminou tranquilamente.

Os participantes foram convocados pelo pequeno grupo local de extrema direita “Pró-Chemnitz”, à margem de um “diálogo cidadão” organizado pelas autoridades locais com moradores desta cidade da Saxônia, em ebulição desde o fim de semana passado.

Centenas de policiais foram mobilizados para a ocasião por medo de incidentes similares aos ocorridos nas manifestações anteriores de domingo, quando houve “caçadas coletivas” de estrangeiros na rua, e de segunda-feira, com confrontos entre extrema esquerda e extrema direita, deixando um balanço de 20 feridos.

Continua depois da publicidade

Um exemplo deste clima tenso, especialmente na ex-Alemanha Oriental, foi o ataque contra um jovem sírio de 20 anos, vítima de insultos e espancamentos xenófobos, realizado por três pessoas em Wismar, no norte da Alemanha, na noite de quarta-feira.

A vítima teve o nariz quebrado e hematomas no rosto e no tórax, segundo a polícia, que abriu uma investigação e procura os agressores.

– Preocupação na ONU –

O Alto Comissariado das Nações Unidas para os Direitos Humanos qualificou na quarta-feira essas manifestações como “chocantes”.

Continua depois da publicidade

“Acho fundamental que os políticos de toda a Europa denunciem isso”, disse Zeid Ra’ad Al Hussein.

A polícia local recebeu reforços de toda a Alemanha.

As manifestações dos últimos dias foram convocadas após a morte de um alemão de 35 anos, esfaqueado durante uma briga à margem de uma festa local no fim de semana por razões desconhecidas.

A polícia prendeu dois suspeitos, um sírio e um iraquiano, acusados de terem agido depois de um bate-boca.

Continua depois da publicidade

O perfil do iraquiano, principal suspeito, incomoda a extrema direita já que este migrante chegou em 2015 à Alemanha saído do Curdistão, pediu refúgio e já foi condenado várias vezes por violência e posse de drogas.

Deveria se expulso, mas apelou da decisão e ganhou o recurso em 2016, segundo afirma o jornal Bild. No sábado, a extrema direita prevê uma “marcha fúnebre” em homenagem à vítima do esfaqueamento.

– Contra Merkel –

Há meses o partido de extrema direita Alternativa para Alemanha (AfD), presente no Parlamento nacional, ataca Merkel por sua política migratória.

Continua depois da publicidade

O AfD lhe acusa de ser responsável pelo aumento da criminalidade na Alemanha após a entrada de mais de um milhão de migrantes no país em 2015 e 2016, embora as estatísticas oficiais não confirmem semelhante aumento.

Um de seus dirigentes, Alexander Gauland, apoia a ideia que os habitantes de Chemnitz “se defendam”. “É normal que as pessoas estejam cansadas da situação atual”, declarou o jornal Die Welt, já que “a migração destrói a sensação de que se pode confiar em um vizinho”.

Nesse contexto, o bem-sucedido polemista alemão Thilo Sarrazin apresenta oficialmente nesta quinta o seu livro “OPA hostil – Como o Islã freia o progresso e ameaça a sociedade”, que já lidera as listas de vendas na Amazon, apesar de não estar ainda nas livrarias.

Continua depois da publicidade

Essa estratégia da tensão dá lucros eleitorais ao AfD, que tem desbancado o partido social-democrata, e disputa nas pesquisas a posição de segunda força política do país, atrás dos conservadores de Angela Merkel, pouco antes das eleições regionais de outubro na Baviera e em Hesse.

– Comité Auschwitz –

“Os sobreviventes de Auschwitz ao redor do mundo veem os eventos de Chemnitz de forma dramática, estão cada vez mais preocupados com as tentativas de grupos de extrema direita de controlar a rua”, disse nesta quinta-feira o vice-presidente do Comitê Internacional de Auschwitz, Christoph Heubner, em comunicado.

Um guarda da prisão, contratado pelo Ministério da Justiça da Saxônia, revelou nesta quinta ter causado o escândalo do vazamento de documentos judiciais confidenciais sobre a investigação do homicídio de domingo.

Continua depois da publicidade

Em um comunicado divulgado por seu advogado, Daniel Zabel afirmou que queria “que o público soubesse o que aconteceu”.

Disse que fotografou o mandado de prisão do iraquiano e o transmitiu ao grupo de extrema direita “Pró-Chemnitz”, que o difundiu nas redes.

* AFP