Expressão de rebeldia e estilo para homens e mulheres

O corte feito pelo parisiense Antoine em 1917 – estilo imortalizado por Coco Chanel – ficou conhecido como “a tesourada do século” e significou uma revolução simbólica para os movimentos que lutaram pela igualdade entre homens e mulheres.

O acontecimento está ligado ao contexto social da Primeira Guerra, quando, na escassez de produtos de higiene e de tempo para dedicar-se a penteados mais elaborados, as mulheres dependiam de seus próprios recursos para sobreviver. Por isso, o corte prático fez tanto sucesso.

Em terras francesas, o estilo liso, curto e com franjinha foi batizado de “la garçonne” por causa de Monique Lerbier, heroína do best-seller de Victor Margueritte, que rompe a moral burguesa e adota vida sexual transgressora.

Na América não foi diferente. O estilo bob cut, curto e com ou sem franja, é atribuído à famosa dançarina Irene Castle, que adotou o look por conveniência no período em que esteve internada por apendicite.

Perucas, rabichos, cacheados, frisados e topetes marcam a história dos vários penteados usados pelos homens. O corte curto ocidental foi adotado somente depois da Primeira Guerra Mundial, quando o estilo de vida começou a refletir o deslocamento de poder da Europa para Wall Street – as longas madeixas ficaram restritas a grupos de artistas, músicos e literatos. Hollywood deu o empurrão definitivo para esse modelo de beleza com seus sedutores artistas.

No Brasil dos anos 1940, o penteado vaidoso usado pelo jogador Heleno de Freitas rendeu-lhe um apelido. O craque do Botafogo (RJ), interpretado recentemente por Rodrigo Santoro nas telonas, era chamado de “Gilda” pela torcida adversária, em referência à personagem de Rita Hayworth no clássico de Hollywood. Dizem que ele entrava em campo com um pente no bolso para ajeitar o pega-rapaz do cabelo, cuidadosamente lubrificado com gomalina.

Mas uma das passagens mais marcantes na história dos cortes masculinos aconteceu no dia 25 de março de 1958. Na presença da imprensa norte-americana, Elvis Presley submeteu-se ao corte pracinha para ingressar no Exército dos EUA. Prevendo que um dia aquilo poderia lhe render algum dinheiro, o barbeiro guardou uma das mechas do astro que, em 2009, foi a leilão pelo preço mínimo de 12 mil dólares.