Na entrada da exposição Narrativas Poéticas, que será aberta ao público nesta quarta, no Santander Cultural, estão confrontadas duas pinturas de Di Cavalcanti.

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Nus (1966) e Mulheres (1973) retratam figuras femininas e revelam influências como o cubismo e o tom social e nacionalista que pautou o artista carioca, um dos ícones da arte moderna brasileira.

No espaço em que as duas obras espelham suas semelhanças, o visitante encontrará versos de Carlos Drummond de Andrade que o levarão a novas interpretações:

Que união floral existe

entre as mulheres e Di Cavalcanti?

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Se o que há nelas de fero ou triste

A ele se entrega, confiante?

Principal exposição do ano do Santander Cultural e com obras inéditas em Porto Alegre, Narrativas Poéticas apresenta, até 14 de julho, relações entre poesia e artes visuais com representantes fundamentais do Brasil do século 20. A proposta de organizar uma exposição reunindo verso, pintura, desenho, escultura, gravura e fotografia foi realizada por um grupo formado pelos curadores Helena Severo e Franklin Espath Pedroso e pelos poetas Antonio Cicero e Eucanaã Ferraz.

– A ideia é oferecer uma narrativa que se revela no espaço da exposição, com capacidade de potencializar emoção, transcendência – disse a curadora Helena Severo, em coletiva à imprensa realizada na segunda-feira.

Ao longo da mostra com 80 obras, estão mais de 40 nomes, de modernos a contemporâneos, como Alfredo Volpi, Arthur Luiz Pizza, Candido Portinari, Cícero Dias, Iberê Camargo, Ivan Serpa, Manabu Mabe, Milton Dacosta, Roberto Burle Marx, Siron Franco e Tomie Ohtake. Seus trabalhos são apresentados em diálogo com versos expostos nas paredes ou projetados no chão, de poetas como Álvares de Azevedo, Augusto dos Anjos, Castro Alves, Ferreira Gullar, João Cabral de Melo Neto, Mario Quintana, Paulo Leminski e Vinicius de Moraes. Em alguns dos espaços, os poemas são recitados e reproduzidos em caixas de som.

– A seleção de fragmentos de poemas não é temática nem descritiva das obras. Às vezes, os poemas surgem como contraponto. Por isso, fazem-nos refletir e entrar na dimensão estética – disse Antonio Cicero.

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As obras apresentadas são um recorte da coleção Santander Brasil, que conta com mais de mil itens, datados entre as décadas de 1930 e 90. Sem seguir critérios cronológicos ou estilísticos, Narrativas Poéticas privilegia uma apresentação que oferece diferentes percursos aos visitantes. Ao longo da mostra, é possível situar alguns dos principais momentos e desdobramentos da arte brasileira do século 20, como os contornos do modernismo no país, as rupturas dos abstracionismos informal e geométrico e a abertura de linguagens mais contemporâneas, com o uso de técnicas mistas e fotografia. A preocupação da montagem foi encontrar um ponto de equilíbrio para dar igual importância às obras e aos versos, sem criar conflitos ou sobreposições.

– Deixamos tudo muito aberto, para que o visitante faça suas relações e crie seus sentidos – disse o curador Franklin Espath Pedroso.

Depois de Porto Alegre, Narrativas Poéticas seguirá em turnê pelo Brasil, passando por Brasília, entre agosto e setembro, e Belo Horizonte, entre outubro e janeiro.

Narrativas Poéticas

Abertura nesta quarta, às 10h.

Visitação até 14 de julho, de terça a sábado, das 10h às 19h, e domingos e feriados, das 13h às 19h.

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Santander Cultural (Rua Sete de Setembro, 1.028), em Porto Alegre. Fone (51) 3287-5500.

A exposição: apresenta 80 obras da coleção Santander Brasil, reunindo mais de 40 artistas modernos e contemporâneos, com versos de poetas brasileiros.