O cenário onde Nelson Veneri trabalha é idêntico ao de todas as outras pequenas borracharias de Joinville e de qualquer lugar do mundo. Uma pilha de pneus de um lado, ferramentas de outro e espaço no meio para os carros estacionarem.
Continua depois da publicidade
Na parede, bandeiras de time de futebol e muitos cartazes colados na parede. Mas as fotos nos cartazes não têm nada a ver com aqueles velhos e lendários calendários que há décadas fazem a decoração das borracharias.
No lugar das moças tirando a atenção dos dias e meses, estão cores, formas e estilos. Reproduções de Claude Monet divide espaço com Edvard Munch, enquanto outros artistas ficam no meio, menores, mas tão importantes quanto os mestres.
Talvez quem frequenta a borracharia de Nelson não saiba quem foram Monet e Edvard Munch, mas o borracheiro admira os gênios das artes plásticas com a idolatria que só um fascinado por pintura poderia fazer. Se ele pudesse, faria igual.
– Eu fico olhando os quadros e imaginando esses lugares e o que eles pensavam enquanto pintavam – confessa Nelson.
Continua depois da publicidade
Aos 57 anos, ele nunca encontrou tempo para estudar arte. Até tentou, comprando revistas que ensinavam a fazer pintura, mas até agora saiu apenas um primeiro trabalho, tímido, guardado em casa.
O segundo está em pré-produção: ele encontrou uma tela no lixo, com um desenho em alto-relevo de tulipas.
– Essas flores são muito lindas, eu não vou desperdiçar o quadro. Comprei tinta e vou pintar – conta, entusiasmado. Nelson nasceu em Joinville e viu a cidade crescer enquanto ele também crescia e aprendia algumas lições.
Não foi um caminho fácil – enquanto ele encontrou pessoas como a professora Marga, da Creche Conde Modesto Leal, que o fazia estudar na casa dela para garantir que ele faria os deveres de casa. Também conviveu com companhias das quais hoje ele não sente saudades.
Continua depois da publicidade
– Eu brincava com o João, o Bandido da Luz Vermelha, quando era menino. Na época, os barcos vinham pelo Cachoeira e o Mercado Municipal era cheio de gente, nós ficávamos por ali, no meio daquela bagunça – lembra
. Se os clientes da borracharia passam despercebidos pelas reproduções dos artistas, pelo menos não são surpreendidos pelos calendários que costumam ser encontrados em outras oficinas.
– Eu acho que é um desrespeito com mulher, com criança, que também frequentam borracharia. A gente tem de pensar no bem dos outros, do ser humano, e fazer sempre o melhor – diz Nelson.
É o que a arte e a mulher, Rose Maria, por quem é apaixonado desde a primeira vez em que a viu, fazem por ele: torná-lo um homem melhor.
Continua depois da publicidade
Assista ao vídeo de Nelson.