A exportação de pescados caiu 19% em Santa Catarina de janeiro a julho deste ano. O Estado embarcou ao mercado externo o equivalente a R$ 15,4 milhões, contra R$ 19 milhões no mesmo período de 2017, o menor patamar em cinco anos. A redução tem como principal responsável a proibição de envio à União Europeia, que já dura oito meses. Os dados são da Federação das Indústrias de SC (Fiesc).

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A suspensão das vendas, em dezembro do ano passado, foi uma decisão do Ministério da Agricultura brasileiro, em resposta a um relatório da União Europeia que apontou irregularidades que não haviam sido sanadas desde a última inspeção, em 2012. A medida, anunciada como uma maneira de “arrumar a casa” para voltar a exportar, resultou em um embargo unilateral por parte dos países europeus meses depois, quando a crise na exportação do frango agravou. Junto com a lista de indústrias impedidas de vender aves, a Europa anunciou que não aceitaria mais o pescado.

De um lado, os armadores acusam a União Europeia de proteção comercial aos países-membros, barrando importações. De outro, o setor pesqueiro catarinense alega ter sido usado como “moeda de troca” em negociações do governo federal, que abriram espaço para a chegada de mais pescado importado ao Brasil.

De fato, enquanto a exportação em Santa Catarina representou R$ 15,4 milhões este ano, a importação de pescado movimentou R$ 104 milhões – quase sete vezes mais. O Estado é o maior polo pesqueiro do país.

– O Brasil não soube caminhar nessa geoeconomia em que uma proteína não está desvinculada da outra. Desde a (operação) Carne Fraca, houve um movimento grande para sanção e não soubemos jogar esse jogo. O que se busca é diminuir o peso do Brasil no mercado mundial de proteínas, e o pescado foi a peça de xeque-mate – avalia o diretor de relações governamentais da Associação Brasileira das Indústrias de Pescado (Abipesca), Christiano Lobo.

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A situação só não é pior no Estado porque a indústria conseguiu redirecionar boa parte da produção a outros mercados. As exportações para Taiwan, por exemplo, subiram 84% impulsionadas pela ova de tainha. Até então, 90% da iguaria que saíam do Estado tinham como destino os países europeus.

Embarques para EUA e Uruguai aumentam

O mercado asiático, no entanto, paga em média 20% menos do que a União Europeia. Como a safra da tainha foi melhor que o esperado em Santa Catarina, a oferta é grande e os importadores têm maior margem de negociação de preços. Taiwan, que deve absorver este ano perto de 500 toneladas de ovas catarinenses, tem segurado a compra para tentar pagar menos.

A principal preocupação dos exportadores era de que outros mercados importantes, como o norte-americano, seguissem o europeu e fechassem as fronteiras para o produto brasileiro, o que não ocorreu. Além da Ásia, a exportação do pescado catarinense para Uruguai e Estados Unidos aumentou 116% e 12%, respectivamente.

Presidente da Câmara de Comércio Exterior da Fiesc, Maria Teresa Bustamante diz que o Brasil enfrenta dificuldades em negociar como bloco, via Mercosul. E embargos como o do pescado têm um fator técnico e outro político, que depende das relações de governo.

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– Para conseguir driblar essa parte política é preciso que se tenha capacidade negociadora organizada, dirigida. Estamos em um momento delicado, em situação pré-eleitoral. Os outros países sabem que temos essa fragilidade e que em poucos meses os porta-vozes não serão os mesmos – acrescenta a especialista.

Falta de compradores gera demissões no setor

A queda das exportações ameaça os empregos na pesca. De acordo com os dados da Abipesca, perto de mil vagas já foram fechadas no Brasil, especialmente na região Nordeste, onde a indústria de pescado tem como principal produto de exportação a lagosta. De acordo com jornal Folha de S. Paulo, indústrias que enviam o produto ao exterior já estão fechando as portas.

Depois da lagosta, o atum, as ovas de tainha e o peixe-sapo estão entre os principais produtos de exportação. O armador Manoel Cordeiro, de Itajaí, que trabalha com um dos dois únicos barcos autorizados a capturar peixe-sapo no Brasil, tem 35 toneladas estocadas à espera de comprador. Seu principal mercado é a Europa, onde o peixe é conhecido como tamboril. No ano passado, ele enviou 400 toneladas ao exterior.

– Estou tentando vender para os EUA, mas ninguém confia mais no mercado brasileiro – diz.

Na avaliação da Abipesca, a situação não deve ser revertida a curto prazo. Maior mercado de pescados do mundo, a União Europeia dita as regras a serem seguidas. Nos últimos seis anos, o produto brasileiro teve um índice de sanidade considerado excelente. Em 5 mil embarques, apenas nove tiveram alertas de importação por desconformidade.

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