Com problemas internos principalmente por causa dos altos custos de produção, a suinocultura e a avicultura em Santa Catarina apresentam melhores resultados quando o assunto é mercado externo. Em comparação com o mesmo período de 2015, o Estado fechou o primeiro trimestre deste ano com aumento de 19,6% nas exportações de suínos (evoluindo dos 12,78% de acréscimo acumulado até fevereiro). Nas aves, os valores caíram 12,14%, mas ainda assim indicam uma recuperação diante do acumulado até o primeiro bimestre, que mostrava retração de 19,74%.

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Valor das exportações cai 12% no primeiro bimestre de 2016 em SC

Na avaliação do diretor executivo do Sindicato das Indústrias da Carne e Derivados no Estado de Santa Catarina (Sindicarne) e da Associação Catarinense de Avicultura (Acav), Ricardo Gouveia, os números positivos (ou menos negativos, no caso das aves) são resultado de uma recuperação no volume de exportações para alguns mercados fundamentais para o setor.

– Para as aves, houve abertura de mercado da Mongólia e recuperação do México. Nos suínos, Rússia, China e Hong Kong, que são bastante flutuantes, estão em um momento mais favorável e nos ajudam – analisa.

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Gouveia pondera ainda que a significativa estabilização do dólar no último mês é outro fator importante para o atual cenário das exportações:

– No primeiro trimestre de 2015 o dólar estava alto e ao mesmo tempo não tínhamos renegociados os valores. Em janeiro de 2015, por exemplo, em média uma tonelada de carne era vendida a US$ 2,8 mil, agora está US$ 1,8 mil. Hoje o preço caiu muito e o dólar também, quando observamos que a moeda americana passava de R$ 4 até janeiro e fevereiro.

Números de exportações de aves e suínos em SC

Suínos

Janeiro a março 2016

US$ 89.462.748

Janeiro a março de 2015

US$ 74.787.134

Aumento de 19,62% entre 2015 e 2016

Aves

Janeiro a março 2016

US$ 282.649.276

Janeiro a março de 2015

US$ 321.722.219

Queda de 12,14% entre 2015 e 2016

Fonte: Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior

Índices ilusórios para o mercado interno

Já o presidente da Associação Catarinense de Criadores de Suínos (ACCS), Losivanio Luiz de Lorenzi, pondera que os índices são ilusórios sob a ótica do mercado interno. Na análise dele, o produtor tem sofrido para se manter na atividade e isso inevitavelmente vai impactar toda a balança comercial do setor.

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– É bom que se exporte porque sai daqui, podia ser pior se ficasse acumulado. Mas é ilusório porque não traz renda para o produtor, não mexe em nada na cadeia. Há um volume grande de suínos no Estado e as empresas acabam vendendo a qualquer preço. Há prejuízo na atividade e as exportações estão fluindo porque o preço está muito baixo. A crise é insustentável, tem trazido desespero para o setor e aí se acaba tendo que negociar a qualquer preço.

Alto custo e preço baixo causam preocupação em produtores

Com alto custo dos insumos, principalmente do milho, e a baixa remuneração pelo quilo do suíno, representantes do setor mostraram preocupação quanto à continuidade das atividades. Conforme o presidente da Associação Catarinense de Criadores de Suínos (ACCS), Losivanio Luiz de Lorenzi, o maior problema é o alto preço do milho, principal fonte de alimentação dos animais. Como SC não é autossuficiente, o produto precisa ser buscado em outros Estados onde a saca é vendida por R$ 23, mas chega a custar R$ 54 por aqui em razão do custo do frete.

– Hoje, a atividade não vale a pena. Em média um suíno de 100 quilos é vendido a R$ 280 com custo de R$ 400, com o prejuízo na produção variando entre R$ 70 e R$ 120 – argumenta.

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A ACCS prevê que a situação melhore dentro de 60 dias, quando entrará no mercado a segunda safra de milho do ano. Até lá, a entidade propõe uma série de medidas para baixar o preço do produto, como a suspensão, por 90 dias, do PIS/Cofins referente à importação, a liberação dos estoques da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) e a criação de políticas estaduais para que os agricultores prefiram comercializar o grão internamente, em vez de exportar.

Na quarta-feira, o governador Raimundo Colombo e o secretário de Estado da Agricultura e da Pesca, Moacir Sopelsa, participaram em Brasília de audiência no Ministério da Agricultura para tratar das demandas da suinocultura. Entre os temas abordados, destaque para os avanços nas negociações para o início da exportação de carne suína catarinense para a Coreia do Sul e para o México. A ministra da Agricultura, Kátia Abreu, também anunciou a oferta extra de 160 mil toneladas de milho pela Conab para SC, diante do impacto que a pouca oferta do grão tem gerado na suinocultura.

Dentro de SC, como forma de aumentar a oferta local de milho, está valendo por um prazo de 60 dias a redução da tarifa do ICMS (de 12% para 6%) nas operações de comercialização de animais vivos entre Estados. Também houve a ampliação na área de cultivo em 100 mil hectares e a implementação, em conjunto com as cooperativas, de um programa de subsídio do preço de adubos e sementes de alta produtividade.

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Diversificação de culturas é apontada como solução para déficit de insumos

Diante dos problemas relacionados à produção do milho, lideranças, autoridades e pesquisadores se mobilizam em busca de uma alternativa. Um encontro em Chapecó na semana passada discutiu o uso de outras matérias-primas na alimentação de suínos e aves em Santa Catarina. A reunião foi promovida pela Embrapa Suínos e Aves e contou com a presença do secretário-adjunto da Agricultura e da Pesca, Airton Spies.

Uma das ideias é utilizar a mesma área que produz milho no verão para produzir outros tipos de grãos no inverno, como trigo e cevada, para aumentar a competitividade das cadeias produtivas de proteína animal. Santa Catarina é o maior produtor de suínos e o segundo maior produtor de aves do país e a alimentação desses animais está baseada em grãos, principalmente milho e farelo de soja.

O Estado não tem área suficiente para produzir todo o milho necessário e suprir os 6 milhões de toneladas consumidos anualmente. A produção catarinense do grão chega a 3 milhões de toneladas por ano e o déficit vem sendo suprido por milho transportado de outros Estados, como Mato Grosso, Goiás, Mato Grosso do Sul e Paraná, gerando altos custos com o frete para as agroindústrias e produtores.

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Um grupo técnico foi formado para analisar as ameaças ao setor e avaliar a viabilidade de propostas como essa do uso de trigo e cevada. Pesquisas e programas de fomento também serão feitos com foco nessas alternativas, mas ainda não há previsão de quando os resultados serão apresentados.