“Na natureza, nada se cria, nada se perde, tudo se transforma.” A frase do químico Antoine Lavoisier explica a conservação da matéria e parece não fazer sentido numa página cultural. Mas para falar de arte ela pode muito bem estar aqui, principalmente quando se trata da sua mutação. É no espetáculo “Interferências dos Encontros”, em cartaz sábado e domingo no Teatro Juarez Machado, que se pode perceber isso.
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Três intérpretes-bailarinos, como se denominam, juntaram suas pesquisas-solo e as reuniram numa única apresentação. O objetivo, segundo uma das bailarinas, Letícia de Souza, é justamente mostrar o quanto a arte pode se reinventar.
A ideia foi da própria Letícia. Desde 2009 a joinvilense apresenta o espetáculo “Por um Percurso”, aprovado pelo Sistema Municipal de Desenvolvimento pela Cultura (Simdec). A pesquisa foi desenvolvida no curso de Artes Cênicas, em Londrina, em que a autora explorava a relação do corpo com o meio, buscando em suas próprias vivências referências para a criação do espetáculo.
– A ideia era mostrar que o corpo é cheio de registro – fala.
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A proximidade com pesquisas de outros dois colegas, Adilso Machado (da Cia. Cena 11, em Florianópolis) e Maria Carolina Vieira (que atualmente se apresenta na Bélgica), resultou na fusão de ideias e movimentos. Os três trabalhos apresentam um estudo do corpo e a sua relação de abertura e fechamento para afeições, trocas e o diálogos.
– Nós três temos uma relação muito próxima, mas nunca tínhamos trabalhado juntos. Por isso, reunimos os trabalhos solos que cada um fazia e transformamos em um espetáculo a partir das pesquisas e dos desejos de casa um como artista – afirma Maria Carolina.
Letícia enfatiza que, apesar das pesquisas caminharem num contexto semelhante, o espetáculo mantém as particularidades de cada um. Adilso trabalha a performance no espetáculo “O estado em que me encontro”, e Maria Carolina trata as interferências dos objetos em “Fragmento”.
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– São apresentados fragmentos dos três, mas numa nova releitura com outra estética, outro formato. É um novo espetáculo, uma nova peça – diz Letícia.
Além da temática em comum, tanto os espetáculos solos quanto a nova montagem utilizam a multi linguagem. No palco, não apenas a dança é explorada, mas a interpretação teatral ganha destaque.
– Ficamos em dúvida quanto ao título, pois espetáculo de dança não iria abranger o trabalho como um todo – avalia a artista.
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A riqueza do audiovisual e elementos cênicos dão o toque especial aos atos-dançantes, num constante jogo entre artista e público. A apresentação tem apoio do Simdec.
Uma joinvilense na Bélgica
Em fevereiro, Maria Carolina participou de uma seleção da companhia de dança-teatro Peeping Tom, da Bélgica. Ela ficou sabendo que o premiado grupo estava selecionando dançarinos para um espetáculo e enviou seu material de divulgação em vídeo e fotos. Dessa forma, foi pré-selecionada e viajou à Bélgica para participar de uma semana de testes com cerca de 60 dançarinas de diferentes países.
– No final, ficamos eu e uma menina da Bélgica, e eu fui selecionada – conta ela.
A escolha para integrar o espetáculo “Rue Vandenbranden”, com o qual a companhia viaja em turnê atualmente, fez com que Maria Carolina passasse um mês em Bruxelas ensaiando. No fim de fevereiro, estreou na África do Sul, e agora se prepara para apresentações na Colômbia, França e Alemanha.
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A Peeping Tom é uma companhia que eu conhecia e admirava. Eles são meu projeto de mestrado. Eu estou, verdadeiramente, dançando com meus ídolos – afirma Maria Carolina.
O QUÊ: espetáculo “Interferências dos Encontros”.
QUANDO: hoje, às 19 e 21 horas, e domingo, às 19 e 21 horas.
ONDE: no Teatro Juarez Machado, anexo ao Centreventos Cau Hansen.
QUANTO: gratuito.