Uma expedição científica zarpou nesta sexta-feira (28) da Austrália para explorar a Zelândia, uma gigantesca massa terrestre basicamente submersa e considerada por alguns especialistas como um novo continente. Esta afirmação está longe de criar consenso, assim como o número de continentes existentes e o que os define.

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A Zelândia, que se desprendeu do supercontinente de Gondwana há 75 milhões de anos, tem uma superfície de 4,9 milhões de quilômetros quadrados, o equivalente à metade do Canadá. Quase 95% deste território está submerso, e suas duas terras principais em superfície são a Nova Zelândia e a Nova Caledônia.

Pesquisadores australianos, neocaledônios e neozelandeses publicaram em fevereiro no GSA Today, o periódico da Sociedade Geológica dos Estados Unidos, um artigo que detalha as razões pelas quais a Zelândia, cuja existência é debatida ao menos desde 1995, deveria ser considerada um continente. Para eles, a Zelândia preenche os quatro critérios fundamentais da definição de continente.

No artigo, citam a elevação desta massa em comparação com os arredores, explicando que seus limites são o ponto onde as planícies profundas se encontram com o talude continental, a entre 2,5 mil e 4 mil metros de profundidade. O ponto mais alto do continente seria o monte Cook, na Nova Zelândia (3.754 metros).

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Também falam da sua geologia, da sua forma bem delimitada e da estrutura e espessura da sua crosta.

“Esvaziando os oceanos”

Só 25 km separam esta massa do continente australiano na parte mais estreita, mas, segundo os cientistas, a fossa oceânica se submerge a 3,6 mil metros de profundidade.

O Joides Resolution, um barco científico utilizado para perfurações no mar, zarpou na sexta-feira do porto australiano de Townsville, no Estado de Queensland (nordeste), para extrair amostras com o objetivo de compreender melhor a evolução geológica da zona.

As rochas e sedimentos extraídos serão estudados a bordo. Estas amostras irão supor um avanço no conhecimento da história oceanográfica da zona, ou inclusive dos seus fenômenos climáticos e tectônicos. Jerry Dickens, um dos responsáveis científicos da expedição, ressaltou especialmente a importância do lugar para os estudos climáticos.

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— À medida que a Austrália se desviou para o norte e que o mar de Tasman se estendeu, os esquemas de circulação variaram, assim como as profundidades da água ao redor da Nova Zelândia — explicou este especialista da Universidade do Texas. — Esta zona teve uma grande influência nas mudanças globais —acrescentou.

Neville Exon, da Universidade Nacional da Austrália, destaca que a expedição de dois meses esclarecerá também as mudanças tectônicas em ação desde a formação do Círculo de Fogo do Pacífico, uma zona de intensa atividade sísmica e vulcânica, há 53 milhões de anos.

Um dos principais colaboradores do estudo, Nick Mortimer, explicou que os pesquisadores reúnem há 20 anos elementos que defendem a existência de um continente. Seus esforços, no entanto, foram dificultados pelo fato de que a Zelândia se encontra submersa.

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— Se pudéssemos esvaziar os oceanos, as cadeias montanhosas e esta enorme massa continental saltariam aos olhos de todos — disse Mortimer, que espera que a Zelândia figure algum dia nos “mapas e nas escolas”.

Mas antes de saber se estamos diante da presença de um novo continente, as opiniões divergem sobre o número de continentes atuais, que varia, segundo os pontos de vista, entre quatro e sete. Os autores do estudo afirmam que a Zelândia seria o sétimo em termos de tamanho, depois da África, Eurásia, América do Norte, América do Sul, a Antártica e o continente australiano.

— O interesse científico de classificar a Zelândia como um continente vai além do fato de acrescentar um nome à lista — escreveram. — Que um continente possa estar tão submerso mas sem se fragmentar é útil para compreender a coesão e a destruição da crosta continental — concluem os especialistas.

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