A dúvida que não quer calar após um garimpo ilegal ser encontrado na região de Blumenau é: realmente tem ouro ali? A Polícia Ambiental flagrou a tentativa de extração e, no local, foi descoberto um túnel de 30 metros. Dois homens foram detidos e o equipamento que era usado para (tentar) achar o minério foi apreendido. 

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Segundo a polícia, não havia ouro junto com os homens e nem vestígios de que eles haviam encontrado o metal precioso. Segundo o especialista e pesquisador do cobiçado minério, Juarês Aumond, há sim ouro em Blumenau, mas encontrá-lo é…

— Um sonho de verão.

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De acordo com o especialista, a extração do ouro no Vale do Itajaí não compensa. O motivo é claro: não há ouro suficiente que valha o investimento de extração, já que a dificuldade de encontrá-lo é muito maior do que a quantidade que pode ser achada. Ou seja, é mais caro a força de achar do que a grana que será obtida depois.

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No caso do garimpo ilegal, conforme explicou a Polícia Ambiental, o local e os equipamentos eram precários. Não havia muita organização e planejamento, os homens estavam fazendo a busca por conta própria e, provavelmente, sem estudos que embasassem a busca. O local não é divulgado para que outras pessoas não tentem fazer o mesmo.

Os garimpeiros foram autuados em flagrante pela tentativa de extração ilegal. Para fazer o garimpo é necessário ter uma autorização da Agência Nacional de Mineração (ANM) e também uma licença específica. Esse documento não é disponibilizado em Santa Catarina. A proibição ocorreu décadas passadas após uma análise detectar que o prejuízo à natureza era grande por conta da atividade.

Para a extração do material valioso é necessário peneirar os minerais para que fique apenas o ouro. Depois da primeira parte, é preciso concentrar ainda mais o minério. Para fazer este processo é utilizado mercúrio. A substância é a responsável pelo dano ambiental por ser extremamente poluente quando manuseada de forma errada. 

— As condições geológias do Vale do Itajaí não são propícias para fazer a extração. Além do mais, vivemos em uma área urbanizada com legislações ambientais rigorosas que não existem, por exemplo, em regiões como o Alasca — lembrou Aumond.

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Há relatos de que danos ambientais graves foram causados em diversas regiões do Vale, como o Morro do Baú, Gaspar e a região Leste de Blumenau. O mercúrio, ao ser jogado na água se espalha e chega a plantações de arroz, sendo altamente prejudicial para a saúde humana.

De acordo com Aumond, que pesquisa sobre o minério há mais de 50 anos em Santa Catarina, o impacto ambiental gerado pelo manuseio irregular do mercúrio é muito maior do que a quantidade de ouro que poderia ser extraída dos locais onde ele está. 

Isso torna a extração inviável, do ponto de vista ambiental e econômico.

Onde tem ouro no Vale?

Para os curiosos de plantão, há ouro em toda a encosta do Rio Itajaí-Açú e seus afluentes. Ele pode ser encontrado desde a foz, em Itajaí, até a região de Apiúna, no Médio Vale.

No entanto, não é possível dar uma de garimpeiro, como nos seriados norte-americanos, já que a concentração de ouro é mínima. A quantidade que pode ser encontrada é chamada de “pintas”, pois têm menos de um milímetro de espessura. Eles estão escondidos dentro dos cascalhos na beira do rio.

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Os cascalhos arredondados podem ser vistos, por exemplo, no lado direito de quem passa pela Ponte de Ferro, na região central de Blumenau. São cerca de 50 metros de espessura. Aumond explica que essas pedras estão dispostas como se fossem grandes folhas de livros na vertical.

Estes cascalhos estão situados em mais de 100 quilômetros, em toda a encosta do rio de Apiúna a Itajaí. No bairro da Velha, em Blumenau, também há camadas de pedras onde pode ser achado o metal precioso.

Como o ouro que pode ser achado nestes cascalhos é muito pequeno, a atividade de extração não é rentável economicamente, explicou o especialista.

— É antieconômico fazer a extração. O impacto ambiental que é provocado é maior do que os benefícios que poderiam ser tidos tanto pela sociedade, quanto por quem faz essa retirada.

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Então, pelo menos por enquanto, nada de “Febre do Ouro” em Blumenau.

As formas de extração

Para fazer a extração do minério tão cobiçado no mundo, é necessário ter equipamentos de ponta, já que ele só é encontrado dentro de rochas e em uma quantidade mínima, o que deixa o acesso difícil às “pintas”.

No Brasil, a extração de qualquer mineral precisa da autorização da Agência Nacional de Mineração, sem ela, qualquer retirada de minério se torna ilegal. Para o ouro existem duas liberações, a de pesquisa e lavra e a de garimpo.

A de pesquisa e lavra segue uma sequência adequada de avaliação socioeconômica, técnica e ambiental que demora de cinco a sete anos para poder ter a licença final de extração, onde será feita a retirada do ouro de fato. Para esta licença é necessário obedecer todas as regras ambientais e também as regras estipuladas na pesquisa.

Já a licença de garimpo, como já mencionada, não é dada em Santa Catarina. Aumond explica que há alguns casos desta liberação na Amazônia, no entanto, a maioria do garimpo feito lá também é ilegal e não há licença para fazê-lo.

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As pessoas que costumam praticar o garimpo ilegal, foram chamadas pelo especialista de “aventureiros”.

— Eles buscam achar a loteria em meio aos sedimentos e nunca encontram. Essa é a dura realidade. Ficam cerca de um mês. Podem até encontrar uma pepita de um milímetro, se emocionam com o achado, mas cerca de um mês depois param, pois não há sentido fazer a extração e no final acabam provocando sérios danos ambientais — explicou Aumond.

A frente de um dos projetos de pesquisa que buscava alcançar o minério na região do Vale do Itajaí, o especialista afirma que pouquíssimo ouro foi encontrado nos cinco anos em que a pesquisa ocorreu. O fato fez com que ela fosse encerrada.

Com a participação de especialistas de outros lugares do Brasil, como Rio de Janeiro, foi implantada na região a maior usina de cianetação a céu aberto da América Latina. Nela são colocados rejeitos de minas de ouro do Paraná para que o ouro fosse concentrado através da deterioração dos rejeitos das minas.

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